Acabou o ano. Nada adianta fazer seja que balanço for. O próximo será pior. Mas há coisas interessantes e uma delas é o cortejo das críticas (cheias de ressentimento) ao execrando Sócrates, em razão do seu (pretenso) êxito europeu. Cresce a satisfação indisfarçada do seu obrigatório “regresso ao país”. À punição e estigma comum. Mas nisto – que vem de todos os quadrantes e das oposições como das imprensas – vem também a confissão do país como terra execranda. Que efectivamente é. Registamos a confissão. Porque a aversão a qualquer possível êxito alheio é coisa tão comum que aí não veio novidade nenhuma. O território organiza-se para a construção quotidiana do fracasso de todos. Com a cumplicidade de quase todos. Há muito tempo que assim é. Por isso o sítio é asqueroso. Como continuará a ser. No sítio asqueroso merece destaque a reforma em curso do sistema de saúde. (Porque é péssimo). Mas o péssimo sistema de saúde aumentou a longevidade e, com isso, as despesas. É sempre preciso tão pouco, que mesmo o péssimo tem resultados espantosos. E mesmo o péssimo parece demais a quem nenhum direito quis, alguma vez, conceder fosse a quem fosse. Reduzindo os lugares de atendimento e eliminando os serviços de urgência, obtém-se necessariamente mais morte entre os mais velhos, reduzindo-se ou mesmo eliminando-se a grande vitória do Sistema Nacional de Saúde que foi a longevidade da população. É incrível o grau de desumanidade de que é capaz esta gente. (Gente, por assim dizer). Quanto a tudo o mais nada se fez ou fará. Disseram todavia que querem mais crianças. Devem querer reduzir a média da idade da população, reduzindo despesas e aumentando rendimentos pelo nascimento de novos devedores. Porque neste território nasce-se devedor. (É pelo menos o que parece). Deve ser mesmo o único aspecto a separar o português médio (nas elucubrações das “elites”) do conceito coisa. As coisas nada devem. Deverão doravante os residentes pagar tributo em vidas humanas, como outrora faziam as populações dominadas pela Grande Porta? Tributo a pagar em mortos (quanto aos velhos) e em crianças que hão-de perpetuar a servidão travestida de “cidadania”? Será instituído um número mínimo de filhos para cada residente?
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