Friday, July 11, 2008

VINCULAÇÕES E PERSPECTIVAS

A administração Bush lança obstinadamente as âncoras de uma política externa assente na sua limitadíssima eficácia militar. A “guerra-maravilha” traduz-se afinal nos corpos de exército a borregar, no Afeganistão e no Iraque, diante dos modestíssimos meios de combatentes clandestinos, conformados com a crueldade das soluções que lhes restam. Limitação demonstrada, também, em ocupações dispendiosíssimas, eternizadas e inúteis, nos Balcãs. Mesmo assim, os USA quiseram vincular a República Checa e a Polónia, querem seduzir a Lituânia e procuram a Ucrânia possível, no cerco à Rússia (entenda-se: a Ucrânia dos polacos em unidade com os nostálgicos da SS Galicie e com a avidez dos sórdidos papistas locais, nada de que possa esperar-se senão a desgraça, evidentemente). Mas os USA vão arrastando esses governos, de países divididos ao meio, para decisões onde lhes faltam quaisquer bases populares de apoio. Nem lhes escapam a Croácia e a Albânia, transformando-se a NATO em coisa inverosímil. Um saco de gatos. Pretensa aglutinação de inimigos tradicionais e de conflitos herdados, mas assumidos. Mantêm a provocação do Kosovo. E estimulam a política agressiva da Geórgia. Afirmam-se disponíveis para defender os seus aliados contra o Irão. (Cuja eficácia militar e determinação já foram testadas várias vezes, de modo que nenhuma esperança de vitória militar pode razoavelmente existir aqui). Entretanto, o agressivo Ehud Olmert compareceu pela terceira vez em declarações como suspeito de corrupção. E o Hamas agradeceu ao Egipto a fraterna ajuda prestada à população de Gaza perante o escândalo do bloqueio israelita. Mas alheio a todos os detalhes (por mais significativos que sejam), Bush mantém a linha geral. Junta à lista dos fiascos uma pressão diplomática – tão exasperada como exasperante, sempre com clarins de vitória e sempre sem resultados visivelmente consistentes - sobre os países da Ásia Central. Há também a reanimação da esperança de travar o acesso directo dos vasos de Vladivostok ao Pacífico, estimulando-se o Japão a violar a sua renúncia aos “territórios do norte”, onde os seus exércitos se renderam sem glória. Em África sustenta Bush a política de devastação do continente. Resultado prático da sua presença preponderante entre os “doadores”. E relança a IV Esquadra, numa hostilização evidente à Aliança Bolivariana (ALBA). Os USA de Bush esbracejam. Semeiam de desconfianças o mundo que já nada espera dos primeiros passos do presuntivo presidente Obama, vítima da conclusão em cujos termos “eles são todos iguais”: reacção (evidente) dos árabes diante da disparatada ideia de sustentar a dominação israelita de Jerusalém. A crise, todavia, tem um quadro de solução completamente alheio ao eixo USA-UE onde se gerou. O espaço de solução da crise é Eurasiático. A solução mostra-se incompatível com os modelos institucionais vigentes. Assentar escoras numa estúpida perspectiva belicista, sempre será algo mais do que um erro. Capaz de lesar todos. Evidentemente. Pode-se deixar um país e ir viver para outro lado. Mas ainda não é possível a decisão de viver noutro planeta. Os USA não poderiam nunca vencer um combate de tais proporções, não porque lhes falte a energia (que por acaso falta), não porque lhes falte a vitalidade económica (aliás debilitada), não porque lhes faltem líderes capazes de arrebatar povos e exércitos para uma visão do mundo e da vida (que por acaso também não existem), mas porque sempre lhes faltaria, justamente, a visão arrebatadora. Faltam-lhes até as conclusões teóricas capazes de apresentar a viabilidade provável das soluções. Faltam-lhes perspectivas doutrinárias consistentes que forneceriam um quadro de legitimidade ética. Têm alguns funcionários para as compilações de ideias, mas nenhum pensador. As próprias figuras referenciais se pronunciaram contra o que antes pensaram (Milton Friedman, por exemplo). E Galbraith fulminou os actuais modelos de gestão, sob a epígrafe das “Mentiras da Economia”. Ninguém defende – perante as críticas e as revisões de posição - os modelos coroados pela pretensa vitória política na altura da queda do muro de Berlim. E a crise de convicções é igual à de um qualquer outro fim de regime. Fukuyama, engoliu o disparatado triunfalismo em novos escritos, bastante medíocres (e essa mediocridade não é um acaso). Os executivos da cobardia intelectual e do belicismo não têm Escola, portanto. Meros tiranetes. Em completo desequilíbrio, sem lograrem, sequer, esconder o grotesco e a crueldade. Esbanjam em defesa própria. Sem escol. Nem escolta. Esbracejam, como Bush. A sua acção, em política externa ou interna, justifica certamente todas as apreensões. Mas não merecerá, nunca, qualquer consideração.

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