O homem está preocupado com a rebelião dos místicos e visionários. Não gosta de cultos desobedientes. Ratzinger publicou instruções aos ordinários para fazerem passar pelo crivo da psiquiatria qualquer homem ou mulher que se apresente a testemunhar, ou a alegar, qualquer comunicação sobrenatural com a Virgem Maria ou com Cristo. Cuidado com a enunciação das certezas íntimas, a partir de agora. Devem também passar pelo crivo de um exorcista. Mas não se sabe se o exorcista pode passar pelo crivo dos psiquiatras e vice-versa e, isso sim, seria interessante. Supõe-se que nada obstará agora a que se pegue na maior parte dos piedosos textos papistas para os passar ao crivo da psiquiatria. Não falando já dos místicos do séc. XVI (como João da Cruz e Teresa de Ávila) e não falando também em Fátima. A "arte sacra" do Séc. XVIII, com a sua panóplia de laudas ao sadismo, as suas multidões de homens perfurados por setas e flagelados, também poderá passar ao crivo da psiquiatria? Não se vê que coisa haja de objectar-se. Felizmente. E o "é tão belo ser vítima" do repulsivo Escrivá, também pode passar ao crivo da psiquiatria. Aliás já devia ter passado. Sobreviverá o papismo a Ratzinger? Permita Deus que não. Em todo o caso, ficamos a saber que a solução mais plausível para qualquer dissidência mística é agora - outra vez - o provável internamento psiquiátrico compulsivo. A solução não é nova, claro. E não foi sequer inventada na União Soviética. Ezra Pound não teve destino diverso e também não foi o primeiro, mas dizem-nos que foi por humanidade, foi para não terem de fuzilar um grande escritor por traição. É sempre por humanidade, evidentemente.
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