Otto von Habsburg morreu. Não lhe
prestámos em tempo útil a homenagem devida. O Chefe da Casa Imperial da Áustria-Hungria
distinguiu-se por mérito próprio. Seria injusto não o reconhecer. Tinha um bom
conhecimento da justa proporção e das boas maneiras. Viveu bem. Soube fazer a
sua presença sempre leve para os outros. A elegância, nele, era simples. Só a
simplicidade é elegante, porque não há elegância contra a naturalidade. Pensou
e militou pela Europa, ele que, justamente, era o representante de uma das ideias de unidade
europeia, (a menos atraente, é certo, mas isso são detalhes). Combateu pela liberdade tal como a compreendia e mais não será
certamente exigível a ninguém. Todos agimos à medida do que logramos entender.
Com a sua partida a Casa de Habsburgo perde uma voz cheia de justificada e
reconhecida autoridade intelectual e política. E os papistas perdem uma das
poucas presenças dignas que ainda lhes restavam. Bastou que Sua Alteza Imperial
partisse, para lhe transformarem em ostentatório carnaval as exéquias fúnebres.
A coisa é tanto mais grave quanto von Shönborn (cardeal arcebispo de Viena) não
é propriamente um dom Marcelo Marcelino Marcolino Dias (à moda da tugária) e
foi suficientemente bem-educado para entender o Arquiduque defunto e poder ser
fiel ao seu pensamento e à sua forma de presença. Nós, os outros, não
conhecemos nem respeitámos o arquiduque por fidelidade dinástica. Respeitámo-lo
porque foi homem que viveu do seu trabalho, porque se impôs por mérito próprio,
porque acrescentou brilho pessoal à honra que herdou, de tal modo que fez
dispensáveis os bens de fortuna perdidos, sendo provável que - se tivesse podido
recebe-los - dele se teria continuado a poder dizer, como Plutarco de Valério,
que soube ser senhor do que era seu. O mesmo, infelizmente, se não dirá dos que
quiseram homenageá-lo e o fizeram, certamente, com a melhor das intenções, gizando,
não obstante, uma pretensa ameaça política que o pobre Príncipe Imperial jamais
foi e jamais quis ser, ameaça que carece felizmente de quaisquer meios para se
concretizar. Apanharam-no morto e fizeram o que ele não teria consentido, porque nunca o consentiu em vida. É pena. A última parada da realeza europeia
foi em 1910 nos funerais de Eduardo VII (e escassos meses depois, caiu o
primeiro trono que foi o de Manuel II). Fazer uma parada dos depostos em Viena
é realmente, tristemente, emoldurar numa caricatura uma figura que jamais o
foi. Era bom que o entendessem para poderem evitar repetições. Isto posto, o Arquiduque
continua presente naquilo que escreveu. E naquilo que fez. Não é –
definitivamente - uma ameaça. Nem o símbolo das dominações cruéis do passado, que
os povos souberam vencer e venceram. Os austríacos chegaram a proibir a
arquitectura eslava nas terras ocupadas, designadamente na Santa Pátria Sérvia
e à dominação do solo italiano responderam bem os italianos. Nunca olhámos para
o Arquiduque como o representante de tão bárbaras coisas. Ele nunca foi o
representante disso. E não será agora que o vai ser. Nunca trataremos assim a
sua memória.
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