Escassos detalhes políticos estão entre as lições do mundial de futebol. É interessante que no Parlamento francês se tenha posto em causa (ainda que em conversas informais) que magrebinos pudessem representar a França (em alusão evidente à composição da selecção). Isto é interessante. Porque revela uma fractura de que toda a gente fala sem ninguém o dizer. Mas essa fractura é o fim da França. A França nunca foi uma etnia. E a aceitação das coisas nesses termos (o simples facto de se pensar nesses termos) no partido do húngaro que a CIA põe na chefia do Estado Francês pode sair muito cara. Sim, os magrebinos podem já não se sentir franceses. Pode ser esse o significado de não cantarem a Marselhesa. E isso é uma desgraça. Para construir o Estado Nacional (ou até o Estado pluri-nacional) foi preciso fazer secundários alguns factores. Reconhecer que não tinham importância. A etnia, a religião, o pensamento político divergente, são bons exemplos disso. Eram coisas sem importância. Primeiro as pessoas eram cidadãs. Depois – e só depois – tinham o que tivessem entre os seus legados culturais próprios que isso só lhes acrescentaria encanto, como factor de curiosidade intelectual e de respeitabilidade acrescida. Era tendencialmente assim. Depois o Estado confessou-se incapaz de preservar algumas coisas e frequentemente de se preservar a si próprio. Os grandes espaços de comunhão de soberanias visaram resolver esses problemas, mas desencadearam uma dinâmica própria de integração intensificada e expansão necessária. Para isso o projecto iniciado como meramente instrumental pode não ter a força de impulsão necessária. Mas a cidadania desfocou-se. É europeia, por exemplo. Aos limites do Império – já trazidos à experiência vivida - corresponde outro tido de homem, com outro tipo de referências. Como na Idade Média, afinal. As pessoas são, primeiro, cristãs, ou muçulmanas (por exemplo). Depois, inserem-se num espaço político vasto (a Europa, sempre por exemplo) e, por fim, em último lugar, conectam-se com a realidade política da comunidade (vivem em Lisboa, em Paris, em Londres, onde gostam de algumas coisas e se aborrecem com algumas outras). O Estado fica ali algures no meio nem se sabendo exactamente e já para que serve (gere coisas importantes como a segurança social e a política fiscal, mas basicamente é só isso que interfere directamente - e em regra mal - com a vida das pessoas). Depois no grande espaço europeu há estados e culturas marcadas por intenso orgulho comum. Mas são a excepção. A Alemanha é uma excepção. A Dinamarca pode ser outra. Os africanos da Suécia e da Dinamarca cantam o hino, como os turcos da Alemanha. Em França já não. Isso é interessante. E é parte da crise actual. Como os 40% de portugueses que aceitariam a integração em Espanha, com os catalães a dizerem nos jornais deles (Vanguardia, por exemplo) "Eles que entrem, desde que a gente saia". Mas a Catalunha não é um problema novo. A Catalunha nasceu como fronteira com a Península e não como parte dela. Não se sente bem aqui. Sente-se provincionalizada. E tem nisso toda a razão. A Catalunha parece sonhar ainda com as Baleares como lugar de salto para a Itália do Sul. A Catalunha é mediterrânica. Mas não é peninsular.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment