A imprensa espanhola mantém a atenção. Mas os jornais são discretos. O El mundo até é simpático quando deixa pistas de reflexão sobre a complicada relação deste país da África do Norte com a Europa, onde se descobre perdido, confuso e sem Corão. Mas também sem possibilidade do liberal e paternal auxílio de Sidi Mohamad VI, Príncipe dos Fiéis e soberano natural destas gentes (e demais fenómenos que a gentes se assemelhem, porque há diferenças entre "laos", "demos", e "etnos"). Já os ingleses invectivam as bestas. Estupidez colonial, disseram, quanto ao uso da “golden share” para travar o projecto da Telefónica. O diagnóstico é exacto. Mais exacto do que os ingleses podem supor. Caracteriza não apenas a perspectiva do governo da tugária quanto aos investimentos externos das empresas do regime, caracteriza também a sua relação com o povo e eleitorado locais. Não há nenhuma diferença entre o tratamento do trabalho, da propriedade, da vitalidade intelectual, da liberdade de palavra concedido aos portugueses e um estatuto do indigenato, revisto, claro, mas nem sequer aliviado. Apenas reformulado e com as coisas de sempre. Os tiques de sempre. Os escravos eram “contratados”. Na verdade não lhes pagavam, mantinham-nos pela força nas plantações, aplicavam castigos corporais. Mas eram "contratados". Com a circunscrição destas "contratantes" bestas à “metrópole”, as cangas passaram a aplicar-se aos de cá. São todos cidadãos (como os outros eram contratados), mas a sua vinculação a qualquer autoridade define-se pela sujeição pessoal. A Lei escreve frequentemente “está sujeito” (e refere-se a pessoas e não a actividades económicas). Há hierarquias em direito privado (!), como no “direito do trabalho” (passe a expressão) onde há “superiores” e “subordinados” (coisa que nem o marcelismo se atreveu a escrever na LCT). Corj’imunda, realmente. E muito estúpida. Colonial, sim. Avessa a qualquer desenvolvimento, porque avessa a qualquer liberdade. A prosperidade, para eles, é a exploração desenfreada. O lucro não vem nunca da inventividade e da inteligência. Vem da escravatura (a que podem chamar cidadania, até, isto não é gente de princípios e os nomes são-lhes indiferentes, à excepção de uma ou outra palavra que, parece, lhes traz azar). E toda a propriedade debilita, nesta execranda terra. Seja o proprietário um pequeno accionista, um pequeno agricultor, um pequeno industrial, ou um pequeno proprietário imobiliário. Tudo se conjuga para lhe onerar a propriedade, para a desvalorizar, para explorar o proprietário, para o esbulhar, no limite. Terrível coisa. Isto em favor de interesses que podem ser dos grandes grupos locais, ou dos grupos mais pequenos mas que podem empregar agentes próprios do controlo político do "mercado", independentemente de se dizerem socialistas ou sociais-cristãos (i.e. nacional-católicos). Terrível gentalha. Sim, a população tudo tem a ganhar com qualquer passagem de controlo da gestão de qualquer empresa para qualquer centro de interesses europeu. É pena, mas é exactamente assim. E quanto à Portugal Telecom, os tugas devem tirar as patas do Brasil. Devem. E também deviam tirar as patas de Portugal, já agora. Sem nenhuma dúvida. Razão têm os que vão procurando colocar-se sob a protecção dos tribunais da Coroa de Espanha. E são muitos. É a única forma eficaz de resistir. Com a tomada de controlo da própria PT por uma OPA hostil, nenhum português perderia nada que não tenha já perdido. E ganharia porventura alguma coisa. Quanto mais não seja a existência de gente normal na gestão. Todo o recuo destes doentes mentais no terreno que ocupam, é uma vitória táctica da normalidade.
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