Wednesday, February 16, 2011

O EGIPTO E A TUGÁRIA

O admirável jornal Al-Ahram voltou ao mundo dos vivos e o jornalismo de opinião que nos trouxe é muito característico das circunstâncias. Perguntam-se se viveram uma revolta ou se vivem uma revolução. Depende da sobrevivência das reivindicações morais que animaram a teimosia da rua. Se as reivindicações morais se impuserem como Direito (que são) temos uma revolução. Caso contrário, temos apenas um pretexto ao abrigo do qual os beneficiários de um novo ciclo de corrupção puderam ver-se livres dos antigos. O processo da tugária é para tal tema uma pista maior de reflexão. A subsistência dos aparelhos judiciário e de polícia directamente organizados pelo salazarismo, a recuperação dos quadros médios do salazarismo que vieram assessorar os novos titulares ao abrigo da “experiência” e se transformaram em verdadeiros governantes através dessas discretas posições “autorizadas”. A sordidez das “faculdades de direito” e a inépcia intelectual que aí se cultiva, reproduzindo incessantemente as sebentas do nacional-catolicismo, tudo isso fez com que, hoje, a imunda tugária seja um exemplo modelar de sordidez, verdadeira materialização do pesadelo clássico onde os homens são emasculados para alimentar os cães. Com a preservação cuidada de uma imagem de democracia parlamentar, mas onde é proibido investigar a corrupção, a pederastia e a tortura, sendo igualmente proibido falar disso, escrever sobre isso e publicar o que quer que seja a tal respeito, sob pena de processos criminais eternizados ao abrigo da pretensa injúria ou da pretensa difamação. O clero papista pode pois usar as suas crianças em trabalho escravo, ou em abuso sexual diário sem que ninguém os incomode e a demais corja pode – como os pederastas papistas - tudo fazer em razão de um pacto onde reciprocamente tudo se consentiram e consentem uns aos outros, sem que nenhuma dessas imundas criaturas conceda, ou queira conceder, o direito à palavra seja de quem for. E são bem obedecidos por uma judicatura de labregos e sopeiras, como por uma polícia de homicidas e torcionários (as “forças de segurança” são o lugar da mais perigosa e violenta criminalidade da tugária) e bem obedecidos nas prisões entregues à liberdade de movimentos de traficantes e homicidas. Ocorre que a possibilidade desta extraordinária subversão teve a extraordinária alavanca da indigência das Faculdades de Direito. Revolta ou Revolução?... Depende. Há alguém a rir dos truísmos doutrinários dos imbecis que fazem o papel de sábios oficiais? Fundido o metal, soltaram-se essas escumalhas? A resposta está muito mais aí do que parece. O Egipto porem tem uma vantagem. Seja nos vectores cristãos Copta e Ortodoxo, seja nos vectores islâmicos, a religiosidade não representa (como o execrando papismo na tugária) a sordidez da qual é imperioso fugir. A presença religiosa está ali bem enraizada e estriba exigências morais claras: proibição dos juros, honestidade dos contratos, dignidade sagrada dos vínculos da paternidade e maternidade, exigência de bravura pessoal no uso da palavra, mesmo diante de todos os silêncios. E isto sempre terá significados políticos diversos, corolários políticos diversos e condiciona de modo muito diferente a evolução política e a Revolução Egípcia.

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