As eleições para a "Ordem dos Advogados Portugueses" têm trazido pretensos debates sobre os pretensos problemas do sector. A verdade é que os problemas do sector são vastos e jamais focados. Começam com a ideia que os funcionários têm das próprias instituições. E com o modo como a Lei as define. Com a viabilidade das retaliações mais espantosas perante qualquer crítica. Com a inércia espantosa de uma prática institucional onde são regra a corrupção e a inércia. Onde o direito serve para cristalizar todos os problemas e não para os resolver. Onde o funcionário busca, por um lado, retirar vantagem pessoal da sua posição funcional e, por outro, livrar-se de responsabilidades. Os problemas da advocacia em Portugal continuam na voracidade da baixa classe média que imagina ascender socialmente pela licenciatura e na licenciatura é largada. Filhos e filhas de pequenos funcionários, de pequenos comerciantes de bairro, ou menos que isso, agrupam-se em multidão às portas de um estatuto que imaginaram lhes daria o poder de "ser alguém". Querem ser "como os outros". E entendem mal as frustrações onde mergulharam e que são já do domínio público. Os cursos de Direito tornaram-se cursos de frequência dominantemente feminina. Partilham do desprestígio dos cursos da Faculdade de Letras. Ao olhar dos rapazes de classe média, dir-se-ia que por ali não se atingirá nem a respeitabilidade pessoal, nem a viabilidade material do sustento de uma família. E isso é verdade, claro. Os problemas da advocacia em Portugal começam por aqui, ou seja, pelo país. Um país que despreza qualquer cultura e que despreza qualquer trabalho. Um país de asilos. De subsídios. De labregos. De minutas. De silêncios. E de gritos. Um país a definir-se pela Casa Pia.
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