A democrática Suiça pronunciou-se soberanamente em referendum e proibiu a construção de novos minaretes nas mesquitas. O liberalismo político e religioso dos europeus está em choque. E o Vaticano tratou de se solidarizar com os muçulmanos, sendo certo que os verdes da Suiça ameaçam interpor queixa em Estrasburgo contra o resultado do referendum e isso parece único. O Tribunal Europeu seria chamado a decidir uma questão contra posição do eleitorado. Não põe isso em causa os fundamentos da democracia helvética? Poderá isso dar bom resultado? Os minaretes são equiparáveis a faróis. Esse é o seu simbolismo primeiro. São faróis da fé. Cilíndricos ou quadrados, de acordo com as tradições (na África do Norte são quadrados e cilíndricos no Médio Oriente) também se registando uma tradição, mais antiga, aliás, que não aprova os minaretes. São, de todos os pontos de vista, uma afirmação menos religiosa que política. No mínimo, um sublinhado da importância do templo e portanto da respectiva comunidade. Ora este sublinhado (político) pode, ou não, ter uma resposta política por parte de uma comunidade soberana em referendum? O Vaticano acha que não. Nós sempre acharíamos que sim. O que é religioso pode não ter uma resposta politico-institucional. Mas não é o caso. Na interdição dos minaretes jamais esteve em causa a liberdade religiosa. Ninguém proibiu a prática religiosa. O que está em causa é menos e (de certo ponto de vista), mais do que isso. No caso de um garboso árabe desfraldar a Bandeira da Casa de Saud em Genebra também lhe ordenariam que a retirasse se não estivesse à esquerda da bandeira da Confederação Helvética. O árabe diria que não pode confessionalmente subalternizar a bandeira verde, com a proclamação de Fé, à bandeira vermelha da cruz grega de prata. Mas dificilmente isso poderia ser aceite como questão religiosa. Os suíços fizeram uma leitura estrita da simbologia supremacista em contexto islâmico face às suas (deles) tradições – designadamente arquitectónicas – locais. Disseram que não querem mais minaretes. Os liberais arrepiam-se. A imprensa suíça iniciou um ciclo de auto-flagelação e censura moral ao eleitorado. Os muçulmanos vão começar a gritar. O Vaticano aproveitou a oportunidade porque tem uma pedra no sapato contra a Suiça desde sempre (a Suiça só pode existir porque os papistas foram militarmente vencidos e compelidos à aceitação das regras da democracia helvética). Todavia, os suíços não votaram a destruição dos minaretes existentes. Proibiram a construção de novos. Porque ocorre que os simpáticos muçulmanos tendem a construir uma mesquita entre cada duas. Recordamos até que no litoral do Sinai, às horas canónicas de S. Jorge de El Tur, mosteiro ortodoxo cercado de mesquitas, os apelos à oração em Árabe, amplificados por altifalantes, são ouvidos dentro do sobor monástico e sobre os coros. É incómodo. E para deserto, bastante surpreendente. Não é boa ideia ter isso em Genebra, ou Zurique. Foi quanto disseram os suíços. Sendo mauzinhos, quando a Casa de Saud autorizar o toque dos sinos de dez catedrais em Ryad, voltaremos a falar da construção de novos minaretes em Genebra e Zurique. Até lá, diremos apenas que a Suíça não é a tugária. Ali a Sharia não representaria um progresso porque os suíços respeitaram perfeitamente bem o pacto com os Céus que é o significado vétero-testamentário do governo humano das coisas humanas. Eles sabem bem que o Direito dos homens é um compromisso de todos com todos. E que nada subsistirá de pé se os critérios assentes nesse compromisso forem quebrados. Quanto ao Vaticano, isso são coisas do diabo e, por consequência, coisas que devemos mandar para o diabo. Manu militari, se necessário. Como os suíços fizeram, aliás.
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