O governo tem um grave problema com a recuperação que não vem. (E não virá, a nossos modestos olhos). Nem se imagina com que cara anunciarão tais desgraçados que não há dinheiro para manter os cuidados de saúde universais e tendencialmente gratuitos. Mesmo os usurários da medicina privada estarão perdidos, porque, bem entendido, quem tiver dinheiro (ou seguros de cobertura suficiente) vai procurar melhores centros médicos e estes usurários vão redescobrir as delicias da sobrevivência pela medicina solidária, sendo certo que ninguém os acolherá noutras terras (com a excepção das de África e mesmo assim sem garantias). Vai ser interessante. Mas não obstante os sobressaltos antevisíveis e as mortes que se registarão entre os mais velhos como na primeira infância, não obstante isso, o tuga médio já tem o seu treino para a desgraça. Os camponeses experimentaram isso primeiro. Quando as agruras do mercado lhe apontavam a ruína certa, o camponês viu com serenidade o país a arder, seguro das maiores vantagens de tais incêndios face às exigências infernais do comércio onde a sua miséria se projectava. A terra queimada salvou alguns. E assim vai ser com a desgraça iminente. Só essa desgraça salvará alguém, porque a "estabilidade" a permitir (por exemplo) a canibalização "fiscal" do país pela corrupta burocracia de estado, liquidando, às dezenas, operadores económicos para varrer áreas de actividade inteiras em favor de alguns outros, essa estabilidade e essa ordem representam o colapso evidente. Celebremos pois a desgraça que vem. O estado que morre. Celebremos a desesperança desses ratinhos da beira de que tais burocracias são feitas. Nem duvidemos que no alarme de tais ratos é a verdade que se manifesta. Portugal, estado exíguo?... Nem isso restará, possivelmente. A vida social e económica seguirá talvez o que antes foram os movimentos militares nos conflitos ibéricos. A Extremadura quer a costa alentejana e entrará de algum modo e com amplitude por determinar. O Algarve (post ruína) pode funcionar como adjacência da Andalucía balnear. Minhotos e Transmontanos entrarão Galicia dentro e talvez sigam mais além até León, Astúrias e País Basco na procura humilde de sustento no trabalho ocasional. Os beirões procurarão acolhimento em Castela. Presas ao litoral, as populações de Lisboa e Setúbal encontrarão na gestão dos portos e caminhos de ferro por mãos capazes (porventura orientais) alguma possibilidade de sustento (se Huelva e Vigo deixarem ainda alguma oportunidade de negócio portuário e nem isso é seguro). Caso contrário,talvez se transformem em região de crise social permanente e isso sempre gerará empregos na segurança, se alguém quiser pagá-la, ou fará de tais populações o abastecimento dos bordeis da Europa (sendo certo que nem isso estará isento de concorrência). Alguns de entre os que foram acumulando notas acerca do processo de desagregação, por não poderem publicá-las aqui, farão fortuna na indústria das ideias da Eurásia e Américas. Outros, farão fortuna perseguindo, mundo fora, os cães locais do papismo pedoclasta. Isto, além do que a convulsão gerará no plano mais imediato. E pode ser muito violento, muito criativo, ou ambas as coisas. Os herdeiros das fortunas erguidas na corrupção - há outras?... pouco importa, não há justiça a esperar da revanche - podem ser assassinados em motins populares, por exemplo, e isso libertaria recursos financeiros apreciáveis (o estado é o herdeiro dos que não têm herdeiros e tais verbas poderiam, ao menos em parte, ser entregues à potência administrante do território, porque isto só serena com intervenção externa e nem isso é inédito)... O assassinato selectivo, a coberto dos motins do desespero, pode perfeitamente tornar-se matéria de "razão de estado" em lógica (inaceitável mas aparentemente eficaz) de movimentos "contra-gangs", capazes de assumirem como objectivo a anulação de todas as vantagens da corrupção. A espiral de violência tem sempre momentos completamente fora de controlo. Tanto quanto parece, nos estados de espírito colectivos, como nos individuais, é o cansaço que vence a crise. Haverá ira (tanto mais violenta quanto menos dirigida for) até que o cansaço chegue. Há muitas coisas que a convulsão pode trazer. E muitas coisas que fará seguramente desaparecer. Nem há modo de evitar isto. Está tudo perdido num estado que prostitui órfãos (é isso que oferece a quem se proponha morrer pelo "interesse colectivo"? a prostituição dos filhos que lhe sobrevivam?)... Está tudo perdido num estado onde os advogados são controlados por sopeirame eleito com subsídios das máfias (haja em vista o Rogério Alves que não apresentou, nem pode apresentar, parece, as contas da campanha para a Ordem dos Advogados). Está tudo perdido num estado onde o sindicato dos juízes tem direcção eleita com campanha paga por qualquer gang. Está tudo pedido num estado cujas forças armadas não têm atiradores (nem equipamento, nem homens). Está tudo perdido num estado onde, desde os banqueiros aos polícias, só há gangsters. Parece portanto que o dinheiro dos gangsters vai desaparecer tão depressa como apareceu. A qualquer momento. De qualquer modo. Não pode ser de outra forma. Estas coisas nunca acabaram senão assim. Porque, justamente, o Direito é condição de paz. E o abandono do Direito - i.e. de qualquer correspondência entre a lei e a sensibilidade comum no que à disciplina da existência comum diz respeito - esse abandono traz a morte. E ela aí está.
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