Saturday, October 31, 2009

OS EX-COMUNISTAS E A JUSTIÇA TÚGARE

A justiça da tugária foi entregue a dois ex-comunistas. Correia e Magalhães. Um comunista nós sabemos o que é. Um caturra. Ainda vagamente parecido com um conservador. Procura viver com austeridade e honrar os seus compromissos, tem frequentemente família e preocupa-se com a educação dos filhos, não vai em cantigas, abomina a prostituição, a pornografia e a panasquice. Cultiva a frontalidade e a firmeza de carácter. Respeita a disciplina do partido como forma de honestidade. Enfim, é o que um salazarista teria gostado de ter conseguido ser em todas as circunstâncias (aparte uns detalhes que não são necessariamente irrelevantes) e, provavelmente, é um dos poucos seres humanos ostensivamente fiéis a tal ideário. Talvez a coisa tenha a ver com a Superioridade Moral dos Comunistas que Cunhal escreveu. (Os outros não costumam ser ostensivos). Não é muito fácil falar com tal gente. Mas devia-se falar mais com eles, não obstante. Já um ex-comunista da tugária é toda uma outra história. Tendemos a ver nele um canalha voraz à procura de emprego. (Lembram-se de Pina Moura?) Apresenta-se apto a servir todos os senhores e exibe as suas aptidões. Acha-se inteligente. Faz profissão de ser simpático, mas sabe constranger com crueldade de eunuco. E parece ter perdido todos os princípios. Vamos então a factos quanto ao ex-comunista Correia. Subalterno de Júdice na ordem dos advogados, produziu com ele um estatuto da ordem que restaura a censura (exame prévio das comunicações públicas em ordem à sua autorização ou proibição), estabelece a polícia política (os conselhos de deontologia perseguem posições filosóficas expressas em textos de debate forense, havendo notícia da perseguição disciplinar a uma citação do De Civitate Dei em peça processual) anula o título profissional dos advogados (a advocacia perdeu até a dignidade de trabalho, sendo mera “actividade”). E – coisa não menos importante - estabelece a sujeição pessoal dos advogados aos gajos da corporação (e a sujeição pessoal foi abolida na Revolução Francesa). Enfim, aquilo é realmente uma belíssima coisa a apresentar a um tribunal islâmico como crime contra a liberdade e a dignidade dos homens (trabalho de casa: procurar a sanção para tal indecência à luz da Sharia). A Correia se deve, também, a expressão de desprezo saldada no epíteto de “descamisados” atirada aos apoiantes de Marinho Pinto (que protagonizou uma verdadeira, embora muito limitada, insurreição eleitoral dos advogados do território). Pois o Correia que lá se infiltrara entre os apoiantes do poeta Alegre aparece agora como serventuário de Sócrates de Massada da Beira, na Secretaria de Estado da Justiça. Homem de prosas cinzentas no foro, mantém ainda a franjinha de garoto. É portanto um travesti da adolescência perpétua, como Pinto Ribeiro. E estes espécimes podem talvez encontrar lugar no Ministério da Cultura. Porque entre bailarinos, pintores e actores nada pode razoavelmente destoar de alguma coisa. Já a Defesa, a Justiça, o Interior e as Finanças são pastas pessoalmente mais exigentes. Que dizer? - isto: a coisa não vai durar muito (porque nada vai durar muito); mas vai piorar muitíssimo, com toda a probabilidade.

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