Pensar na reacção dos cidadãos de Valença do Minho pode começar por duas perspectivas. A primeira sublinharia a presença de uma gente que vende a identidade por um prato de lentilhas. Hastear a bandeira espanhola em todos os lugares da cidade “só porque” um município Galego lhes disponibilizou o acesso aos serviços de saúde, “para mais pagos pela segurança social portuguesa”, seria o sublinhado da aparente desproporção a fundar tal crítica. Vendem-se “por um prato de lentilhas”, dir-se-ia. Esta está a ser na “blogosfera” a posição dos vectores de sensibilidade nacionalista. A outra perspectiva sublinharia o elevadíssimo grau de alheamento e falta de afecto, senão aversão, pelas referências políticas, históricas e culturais portuguesas de uma população que foi, outrora, um dos modelos da ostentação do “orgulho de ser português” (em tempos onde, evidentemente, havia motivos para tal orgulho). O canalhal do sistema nem sequer reagiu, tal a surpresa. Se falassem, minimizariam o problema. Mas as duas perspectivas em presença falham na grande novidade que tal atitude popular traduz. E essa é a do despedimento de um Estado. Sem mais. Este é o alcance da atitude dos homens e mulheres de Valença, mesmo que ainda não o tenham visto bem. E esse alcance traduz a novidade da consciência (agora, vivida) de que o Estado resulta de um contrato, que ele próprio não pode quebrar. Os minhotos trazem ao estado esta imagem para ele estranha (nestas latitudes) de que se trata de uma entidade subordinada e não de uma potência subordinante e que no estado-administração a metafísica do “Estado como pessoa moral” é lixo cuja remessa ao caixote respectivo está ao alcance das mãos de qualquer comunidade. Esta é a novidade de Valença do Minho. E a importância dessa novidade no contexto da acefalia local é evidente. A experiência (ou consciência vivida) de que o Estado é solução instrumental contratada entre os cidadãos tem sido o único alicerce estável das democracias, com os conhecidos (e muito diferentes) exemplos da Inglaterra, da Revolução Americana, da Guerra Civil Helvética (onde o papismo foi reconduzido “manu militari” à própria libertação política dos seus fiéis). Valença do Minho pode bem ser o início de grandes coisas. E nenhuma dessas grandes coisas passa pela subsistência política do canalhal no qual se salda o “sistema político português”. Valença é o sinal mais sério da falência política em presença. Porque o semelhante gera o semelhante, a falência económica é mera decorrência. Evidentemente inevitável. Senão mesmo desejável. Viva Valença!
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