Sunday, April 11, 2010

A Queda em Smolensk

Lech Kaczynski, papista obstinado, doentiamente autoritário e partidário intransigente da pena de morte, foi recrutado no âmbito da estranha organização engendrada pela CIA e pelo papismo que foi o “solidariedade”. A iniciativa logrou, no entanto, explorar com êxito fulminante as contradições do regime da democracia popular na Polónia. Quando a decepção dos polacos deu a vitória ao partido de Kwasniewski (em 1995) Glemp, cardeal local, amuou a tal ponto que recusou comparecer à cerimónia de tomada de posse. A reacção papista teve então de reformular-se e os irmãos Kaczynski foram eficaz instrumento dessa recuperação, todavia ainda muito longe de lograr os resultados antes obtidos. O papismo regrediu na Polónia. E boa parte dos polacos refugiaram-se nas posições integristas da Fraternidade de S. Pio X, estrutura bastante mais papista que todos os papas (de Roma) juntos. A força do integrismo no Leste terá determinado Ratzinger ao levantamento da excomunhão sobre os seis bispos que sustentam tal posição. Na política externa Lech Kaczynski caracterizou-se pelo alinhamento acrítico com o violento e corrupto aventureirismo de Bush, chegando à oferta do território polaco para instrumento do cerco militar à Rússia. Recorda-se dele, também, a pronta comparência em socorro (inútil) da “revolução rosa” no caso das agressões perpetradas contra os territórios da Alânia Meridional e da Abkásia. Também a exigência de estatuto próprio para a Polónia face ao Tratado de Lisboa sublinhou a sua posição no contexto da UE. O doentio autoritarismo custou-lhe aparentemente a vida. O avião presidencial polaco ignorou as sugestões de aterragem em Minsk ou em Moscovo – feitas em todos os tons – para evitar as péssimas condições atmosféricas em Smolensk. Ninguém imagina sequer que um piloto assumisse ele próprio, sem indicação hierárquica em contrário, os riscos de recusa das orientações da torre de controlo. Quatro vezes se fez à pista o piloto e quatro vezes falhou a aterragem. À quarta vez, embateu nas árvores que o nevoeiro escondia. Não queria favores da Bielorússia ou da Rússia. Tal estupidez custou as vidas de toda a comitiva presidencial. Pereceram o chefe de estado-maior general e os chefes de estado-maior da armada, do exército e da força aérea (e ainda o comandante das forças especiais). O Governo mandou apenas o Vice Ministro dos Negócios Estrangeiros que também faleceu. Alguns prelados papistas também partiram a dar contas a Cristo. Não é a primeira vez que a estupidez tem tais consequências. E não será talvez a última. O Chefe do Governo da Federação Russa dirigirá pessoalmente o inquérito. Lech Kaczynski deixa uma filha maior e um gémeo idêntico sem descendência. Tinha péssimas relações pessoais com o Chefe do Governo Russo. E vivia uma co-habitação política difícil com o próprio Chefe do Governo da Polónia. A Polónia não morre por isto, como de resto o seu hino o diz. Um hino interessante que radica no Panslavismo onde se tinha consciência nítida (e formulada) que é preferível o chicote russo à liberdade alemã.

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