"Estamos a viver acima das nossas possibilidades", era a grande frase feita que enchia os jornais tugas dos anos oitenta, antes das subvenções europeias chegarem e antes do advento da era Cavaco trazer a multiplicação das máfias e, com isso, a mudança de escala do fenómeno da corrupção. Regressa agora a frase como solução do desespero conservador, quer dizer (no essencial) o desespero das máfias. As máfias são a própria situação política dos tugas. As administrações bancárias e as direcções políticas partidárias deviam estar todas nas cadeias há décadas. Outro tanto ocorre com a judicatura que lhes guarda os segredos e impõe à população todos os silêncios, ao ponto de não se perceber para que serve o raio da Língua que resta e é coisa realmente tão asquerosa como o resto. O clero papista e as seitas que exploram as decepções e as inépcias do papismo também, em boa parte dos casos, deviam ter os dirigentes respectivos bem arrecadados. "Estamos a viver acima das nossas possibilidades". Estamos. temos máfia a mais. As próprias corporações profissionais (como as Ordens) deviam ser dissolvidas na maior parte dos casos e os seus parasitas encarcerados. A máfia gerou a miséria. "Estamos a viver acima das nossas possibilidades". Aparte o que fica dito quanto às máfias não é completamente assim, nem tão simples como isso. Na tugária a situação debitória pública fez-se para enriquecer as máfias e não o país. Isso é mau mas pode ser corrigido facilmente. E completamente. mas nos outros aspectos, os outros estados têm quanto aos recursos e à dívida pública, problemas comuns e grandes. Ora bem, naquilo em que os problemas dos outros podem ter de comum com a crise local da tugária execranda (que é específica), isso significa que todos os países estiveram a viver, como estão e têm que viver acima das respectivas possibilidades. As possibilidades do presente são sempre insuficientes. (Como o eram as da situações de onde partiram há décadas atrás). É o fenómeno da impotência do Estado a que procurou responder-se com a integração económica europeia e com outras integrações económicas. A União Europeia fez-se para que se encontrasse uma resposta apta a gerar o desenvolvimento adequado aos recursos necessários a este projecto do Estado Contemporâneo: Justiça, Paz, Desenvolvimento, Liberdades e Seguranças (que ele há várias seguranças, como há várias liberdades). Se a solução da União Europeia colapsa perante uma confusão financeira, é que o projecto político da integração tem de crescer mais depressa que as exigências. Não é simples. Mas é claro. E sempre assim foi. A eficácia anula-se pela limitação do projecto. Como pelos atrasos do seu desenvolvimento. Designadamente na limitação por opções políticas desajustadas e horizontes às escala delas. O espaço natural do projecto necessário - económico social e político - é a Eurásia. E há aqui muitas coisa para pensar. Com muito pouca gente a pensar. Esse é um aspecto importante da crise (porventura determinante): a astenia intelectual. Até em França há uma crise editorial em Filosofia e nas Ciências Sociais. É preciso acordar. E um abanãozinho assim, um tremor de terra institucional de grau oito é perfeito para dizer que a estupidez tem de ser banida por razões de subsistência. A gentalha da malga e da bolota deve deixar o cenário e regressar aos buracos de onde saiu. Caso contrário são chacinados pelas circunstâncias, mas essa chacina, evidentemente, não é ideia que nos transtorne.
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