O bom velho Михаил Озеров dá conta – no bom velho Izvestia - de uma pequena sova na Raínha
Isabel II, que ouviu em Speakers’ Corner. O orador achava que oitenta e cinco
anos da Raínha eram anos a mais... E fala-se até da necessidade ou utilidade da
Raínha abdicar. No momento em
que mais dois garotos são postos na calha, convém ponderar a Monarquia não como
uma ameaça aos direitos e às liberdades dos cidadão, porque isso foi
completamente eliminado, mas como uma indecência feita às pessoas dos próprios príncipes.
Na verdade a Monarquia exige hoje que um grupo de pessoas, numa família ou em
famílias aparentadas, nasça para não ter direitos fundamentais. E não se lhes
reconhece nem preserva a liberdade de expressão, opinião, ou pensamento e pela
cabeça de ninguém passou ainda preservar-lhes a reserva da vida privada ou
familiar... A cópula de (ou com) um príncipe
tem discussão livre, livre focagem e – não raro - é até discutida como matéria de
Razão de Estado. E sempre nos pareceu um
bocadinho exagerado manter a Razão de Estado tão perto das camas seja de quem
for. Depois há esta coisa verdadeiramente sinistra, esta coisa na qual se não pode
pensar sem um estremecimento, que é consentir e querer a educação de alguém para isto... Era o que faltava. Não temos nenhuma dúvida quanto à utilidade institucional
da solução monárquica. É magnífico ter a certeza que à chegada de um novato a
uma Chefia de Governo se possa contar, por exemplo, com a informação atempada, o
depoimento oportuno, ou a sugestão sábia
e cordata de quem assiste aos conselhos de ministros desde os dezoito anos,
como ocorre com todos os herdeiros da Coroa da Noruega. Um Rei octogenário em bom
estado de conservação pode dar um jeito infinito a quem governa. E é de uma utilidade
evidente para a comunidade. É padrão de elegância de conduta. De moderação. De
bom gosto. De uso modelar da Língua. É árbitro natural de todas as polémicas
que ameacem dividir a comunidade. Corolário natural de todas as hierarquias. E a
sua presença deve ser (e em regra é) sentida, todos os dias, como padrão de
leveza, testemunho de bom gosto, de discreto humor, de elegância acessível, de
afabilidade paternal como corolário do poder de Estado. Mas isto tem preços elevados. Para tanto, os
principes não podem ter vida privada, nem opiniões próprias expressas, não podem
brincar nem como crianças nem como adultos, e raramente poderão sequer chorar. Se
um príncipe detém o olhar em alguém, isso tem significado político ou moral, de
modo que a disciplina de atitude lhes não consente sequer a espontaneidade do
olhar. Se um principe casa, os seus afectos e a dignidade da fundação de família
são usados como ocasião de receita de estado e o casamento transformado num espectáculo
folclórico. Agora, o papel dos príncipes “democratiza-se”. Acha-se que uma
rapariga ou um rapaz comuns, podem também ser chamados às famílias reais. E ninguém aguenta isso. Quebram como varas
verdes. Evidentemente. Escandalosamente. (Já nem se contam as infelizes
pêgas inglesas que perderam as estribeiras nessas tentativas). Não funciona. Era engraçado poder dizer que a Monarquia é mais democrática que a República porque nenhuma república sentou no trono o neto de um taxista. Não acreditamos é que uma monarquia consiga fazê-lo, embora haja uma a tentar. E este condicionamento inumano tem sido assim
para que a comunidade não tenha o desgosto, o nojo, a repulsa de aturar um idiota
como Sarkozy, ou um parolo como Cavaco. É verdade que nenhuma comunidade merece
um parolo como Cavaco. (E os mais novos nem sequer se lembram das tremendas
figuras do infeliz Eanes, coitado). Nenhum país merece um histérico como Sarkozy.
Mas não se pode retirar esse risco a estes preços para os Direitos Fundamentais
seja de quem for. A única forma lícita de não aturar nunca um Cavaco, ou um
Sarkozy, é a comunidade deixar de os produzir. É talvez o momento de libertar
os pobres príncipes de tão desajustado, inclemente e pessoalmente dispendioso
papel. A indignidade de tal modo de vida começa a ser incompatível com o
caracter (plausivelmente sacrossanto) da representação histórica que lhes incumbe desempenhar.
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