Sunday, April 10, 2011

CRUZADA CONTRA O VÉU

A lei anti-niqab vai entrar em aplicação em França. O asqueroso magiar de Paris sente-se um cruzado e já vai sendo tempo se se lhes juntar, aos cruzados, no asilo psiquiátrico mais próximo. Há dois problemas no véu islâmico do ponto de vista do estado laico. Um é político e não pode ser problema traduzido na perseguição de uma forma de manifestar a posição própria. (Mas o cruzado é um papista e os característicos papistas  só se pronunciam pela liberdade de expressão quando forem impalados e enquanto o estiverem a ser).O outro é vagamente religioso e não pode ser problema em toda a extensão da questão. Na vertente vagamente religiosa temos a recomendação de Mohamad-o-Eleito em cujos termos a mulher deve proteger-se para não termos de nos lamentar todos (com ela) de quanto lhe acontecer. É o contexto da sociedade viril de gente que, nestes domínios, se consente fazer primeiro o que lhe passa pela cabeça e só pensa nisso depois, se houver motivo para pensar nisso. E sim, claro, a culpa é da vítima. Não há nenhum violador que diga o contrário. Também não há nenhum burlão que diga outra coisa. E até os proxenetas dizem às prostituídas sob o seu constrangimento ilicito que estão a ajudá-las. (Às vezes isso aparece no discurso dos funcionários e dos dirigentes políticos - sobretudo na execranda tugária, esterqueira e abrigo de todas as taras - e é muito interessante quanto à indole que aí se revela, só pela aparição de tais frases feitas). Mohamad-o-Eleito fez essa recomendação, por tudo. Uma recomendação cheia da sua autoridade. O véu não tem pois que ser usado onde o risco não exista. E dizer às sociedades urbanas europeia, ou russa, ou chinesa, ou nipónica, que há entre elas riscos dessa natureza, riscos dos quais as mulheres muçulmanas devem proteger-se assim, mesmo nos dias actuais, é certamente dizer alguma coisa que as autoridades respeonsáveis pela segurança não podem consentir-se ouvir sem reacção. Saber se a interdição do véu é a reacção recomendável é questão de outra natureza. Mas diríamos que não. Outra questão é a questão política. As garotinhas têm orgulho em afirmar a sua identidade cultural e fazem-no como protesto político. Porque o estado Francês tratou muito mal, muito mal, mesmo, as garotinhas em conflito com as suas famílias – porque haviam aderido à ocidentalidade da vida quotidiana – e que pediram apoio ao Estado para exigir alguma contenção à autoridade familiar. Mas mal o pai punha os pés no tribunal de menores, a garota era excluída da família. Podia ser acolhida num internato de liceu público ou num lar de estudantes... Mas atingida a maioridade devia saír e saiu vezes de mais para a prostituição. Então as irmãs mais novas e as filhas das irmãs mais novas dizem à República Francesa e atrás do véu que meta essa laicidade “pelo cu acima” (sítio onde alguns ocidentais gostam de meter coisas). A República Francesa presentificou o risco que Mohamad temia. E deve haver-se com as consequências políticas e morais de tal facto. Mas o cruzado magiar de Paris acha que “em sua casa” se vive como mandam os de sua casa. Esquece-se que quanto mandam os de “sua” casa é que a República aguente todas as interpelações políticas que abrem debate. É simples. Mas ele ainda não percebeu. E portanto entende que as garotas muçulmanas devem submeter-se, já não ao preceito moral fundado na recomendação de Mohamad, mas à alarvidade do “chui” de giro. E isto não tem poucas complicações. Estamos já a imaginar a besta de giro a arrancar o lenço da mulher em quimioterapia (e que não suporte a cabeleira no verão)... Isto é tão extraordinariamente irritante que os homens ocidentais deviam passar a usar um turbante verde em Paris. Nós estamos prontos a fazê-lo. Entretanto um homem simpático serve a resistência em prol dos direitos fundamentais oferecendo-se para pagar as multas. E quando acabar esse fundo deve fazer-se uma subscrição pública. Agora sim, temos um problema. Cuidemos de o resolver exemplarmente.

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