Findas as festas de Natal, a Santa Igreja pede a reapreciação da política de família e a reformulação dos trâmites administrativos relativamente ao aborto. O Estado mostra-se sensível à questão. Sessenta abortos por cem nascimentos é uma desproporção aterradora. A adopção de parâmetros de vida ocidentalizados parece comportar parte da explicação destes sinistros números. A verdade é que a pobreza pode ser aceite como regra de vida. Mas a miséria não. E não saber o que nos acontece, ou pode acontecer, será suportável quanto a nós próprios, mas já não é tão claro quanto a um filho. Será isto, porventura. O fantasma da "bastardia" e da "desonra" (tal como ocorre na execranda tugária, por influência letal do papismo, principal sustentáculo desses e doutros espantalhos) isso não pode existir em nenhuma terra sacudida pela hecatombe da segunda grande guerra. E também não existe na Santa Rússia. Isso parece ser um terror propriamente tuga. A que o papismo quer juntar o novo terror da perseguição penal. Pois na Rússia pede-se que a saúde mental das mães que querem abortar seja mais bem preservada, dando-lhes a possibilidade de entender (em tempo útil) que as facilidades administrativas e a ausência de sanção penal, não significam iguais facilidades no equilíbrio pessoal. Para uma complicação destas, a proposta não parece mal calibrada. E não há nascimento de criança que deva tomar-se por inconveniente. Isso nem sequer pode consentir-se. Mas a solução não pode ser repressiva. Ou, pelo menos, não pode ser repressiva das mulheres. O que devia ser objecto de repressão seria a situação em que elas se encontram. Porque o aborto parece razoavelmente traduzir uma situação de opressão intolerável em si mesma. Implica, no mínimo, que alguém perspective a vida com o filho como coisa pior que a morte deste. Isso não arrepia? É isso que tem de ser resolvido e sem juntar novas causas de dor às que já ali estão.
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