No território respira-se a acidez das situações pré-insurreccionais. E grande parte da explicação radica na conduta dos imbecis na direcção política do Estado. Se os pescadores fazem greve, logo um imbecil do governo se apressa a dizer que isso não terá relevância nenhuma. (É portanto preciso ser mais radical). Uma central sindical põe duzentas mil pessoas na rua e logo uma concertação de idiotas determina a ausência de notícia decente de tal evento (!), apesar de não haver memória de tais coisas desde o verão quente de 1975. Os empresários de camionagem e os camionistas recusam os abastecimentos e o aeroporto de Lisboa tem de ser abastecido sob escolta (!) enquanto, dois dias depois, o sistema de distribuição alimentar anuncia a iminência da ruptura de stocks (evidentemente, porque as reservas alimentares das cidades do território só aguentam três dias). Perante isto, os atrasados mentais do governo tratam a coisa como mera perturbação da ordem pública. (Obviamente, nenhuma das oposições com expressão parlamentar teria feito outra coisa). Ordem pública… Realmente houve já uma vítima da cobardia, porque um camionista decidiu não parar e passou por cima de um grevista e fê-lo, aos olhos de Contra Ordem, com a surda crueldade dos eunucos – coisa normal em satanarquia – que se apressa a gritar, na conhecida alternância da satisfação e medo, ter feito aquilo por “acidente”. Houve mais três feridos, por análogos acidentes. (A greve dos camionistas ameaça ter a mesma proporção de baixas que a guerra do Iraque). Mas o sistema de ensino também está à beira da ruptura. Como o sistema hospitalar e de saúde. A justiça está desorganizada para não funcionar e, alias, destruturada pela resistência gritante ao Direito Internacional dos Direitos do Homem. (O aparelho judicial é mero instrumento em condições de ferir qualquer homem em protesto quando isso possa ser conveniente e, portanto, também por aqui se exigindo o motim, única forma de tomar a palavra perante a recusa e perseguição da discussão). Todos os pequenos comerciantes são vítimas da ferocidade do fisco que lhes penhora arbitrariamente contas bancárias e estabelecimentos, ao ponto de ameaçar a regularidade da vida económica. As pseudo-oposições têm conexões de interesses e de família com o governo, motivo pelo qual o PS protege o líder da extrema direita parlamentar e este é irmão de um dos dirigentes da extrema esquerda parlamentar, enquanto os filhos dos velhotes do PS vão casando com as filhas dos velhotes do PSD e vice-versa, sendo uns e outros “instalados” em serviços públicos escandalosamente remunerados, depois de já os pais terem acumulado reformas de montante disparatadamente elevado. Os próprios hierarcas da Igreja dos pedómanos papistas (até estes) levantam a voz esganiçada mimetizando o protesto, não vá dar-se o caso de lhes virem a perguntar se protestaram. Muitas revoluções houve que começaram por muito menos. Não espanta que o território vá assumindo as cores de uma situação pré -insurreccional. Espanta que tenha demorado tanto. Os palermas contam com a conjunção de actividades circenses, para distrair "a plebe". Rock in Rio, Europeu de Futebol, “Santos Populares”, Jogos Olímpicos. Isso distrairá alguma coisa, pelos menos para aqueles cuja subsistência não esteja em risco imediato. Nunca será suficiente para salvar este verão. Aliás, a receita velha ensina “panem et circenses”. Só o circo, nunca chegou. Em nenhum momento. E também os protestos de rua têm efeito multiplicador. E a inteligência disponível manifesta-se em consonância.
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