O acordo heterográfico vai entrar em vigor. Tudo se tornará mais colorido para o fim da Língua. E embora mais confuso, seguramente mais divertido. A impossibilidade objectiva de distinguir entre “frigida” e “frígida”, entre “cagado” e “cágado” vem juntar-se à incapacidade subjectiva do deputado médio distinguir entre o “mandasse” e o “manda-se”. Ou entre “a vez” e o “vês”. Vem tudo somar-se à asquerosa língua do juiz médio que já dizia “instência” por “instância”, ou “sigilio” por “sigilo”, motivo pelo qual nessa peculiar forma de vida se toma por universal delito tudo quanto da minuta se arrede, porque fora da minuta anda esse homúnculo médio perdido (Deus seja louvado). Ainda bem. O linguarejar da indigência na terra do “isso não se pode dizer” vai enriquecer-se com o inteiro país a deixar de saber escrever. A “questão de fato” vai tornar divertida a demarcação da questão de direito. O direito, aqui, é algo mais ou algo menos que um fato puído. Porventura, está mesmo podre. Abandonado às traças, o Direito abandonou esta terra. Agrada pois que esta gente deixe também de saber como escrever. Dar-lhes cabo da grafia é ideia luminosa. É como arrancar-lhes a Língua. Nem Basílio II de Constantinopla decretaria melhor. E a malta normal que ainda há pode sempre recorrer às formas galegas, enquanto por cá ficar (a parte viva da Gales peninsular ficou evidentemente fora de tais loucuras). Quanto a tudo o mais é deixá-los cair num crioulo que ninguém entenda. Mas tudo fazendo para que ninguém precise de o entender.
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