Recapitulemos: os “bairros problemáticos” são várias coisas. Umas vezes são bairrros bem desenhados. Mas quando assim é ficam colocados no topo de uma colina íngreme e os transportes públicos não passam por lá. As escolas não estão lá. Não há posto de saúde, ali. E a recolha do lixo não se faz. O único equipamento social que ali existe, às vezes, é uma esquadra de polícia. Na maior parte dos casos nem isso. A população está esmagadoramente desempregada. E é constituída por grupos étnicos entre os quais resulta fácil o conflito. Como a polícia não está ali para tratar da segurança das pessoas daqueles bairros, mas para os ocupar, ou para os atacar, os grupos tratam da sua segurança e, às vezes, armam-se até aos dentes. Não lhes é difícil arranjarem armas, desde que consigam arranjar dinheiro para as pagar. A delinquência que daqui emerge é maioritariamente a do furto, ou roubo. Não há informação relativa aos crimes sexuais. Nem há notícia de homicídios frequentes. Mesmo os afrontamentos armados entre grupos étnicos parecem traduzir dissuasão recíproca. Não foram noticiadas mortes. As mortes são em regra provocadas pela polícia. Foi o que aconteceu ao Toninho da Bela Vista na semana passada. A polícia diz que ele estava a assaltar uma caixa Multibanco. E matou-o. O simples facto da polícia o ter morto, faz-nos duvidar que ele estivesse a assaltar uma caixa multibanco. Se ao “discurso legitimador” não bastasse menos que um “ele estava armado”, a polícia teria provavelmente dito que ele estava armado. Mas o que é mais desagradável é que os agentes enervam-se quando nos bairros alguém se manifesta em homenagem aos rapazes abatidos. E foi o caso. Desta vez dispararam sobre uma manifestação de homenagem ao Toninho. E não disseram que a manifestação estava a assaltar uma caixa multibanco. Não o disseram porque não precisaram, já que desta vez dispararam mas sem matar ninguém.
Friday, May 8, 2009
O Toninho da Bela Vista
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