Em Nanterre, Richard Durn (mestre em Ciências Políticas e licenciado em História) reestruturou a tiro o concelho municipal, logrando o suicídio em pleno interrogatório na brigada da polícia. Há níveis abaixo dos quais não convém fazer viver os outros. Há modos de vida que correspondem a dizer aos outros que as suas vidas nada valem. E eles podem responder com recíproco arbítrio. Em Richard Durn só os anarquistas ousaram o apoio explícito. (No tugastão teriam sido criminalmente perseguidos, por umas gajas sopeirescas travestidas em procuradeiras e umas megeras mascaradas de juízes, brandindo minutas que nada significam a não ser um forte indício de doença mental). Não havia ali arbítrio para os anarquistas. Diziam que enquanto a violência desta gentalha se chamar justiça, a justiça da rebelião chamar-se-á violência. A ideia percebe-se. Mas é o arbítrio, sim. Arbítrio recíproco. Nítido. E tudo ponderado, o arbítrio é sempre fácil. Para todos e não apenas para alguns, como imaginam os imbecis sempre excessivamente numerosos. Uns miúdos completamente estuporados - não é inútil saber como chegaram a tal ponto - têm desatado aos tiros nas escolas respectivas na Alemanha, na Finlândia, na América e também não mataram pouco. "Culpa-se" a facilidade com que puderam aceder às armas. Na verdade, porém, qualquer coisa pode servir de arma a tal determinação. A pólvora não é difícil de fabricar. O gás de consumo doméstico também explode. A electricidade é incendiária. E um automóvel também mata. O mesmo podendo dizer-se de um tijolo. (Nas ruas de Lisboa há uns arrumadores que mordem e às vezes passam o HIV com a mordedura... Não convém deixá-los aproximarem-se demais, não; e afastá-los com as mãos nuas também não é boa ideia). Em Apeldoorn o Sr. Karst S, segurança desempregado, carregou ao volante de um carrito com o aparente intuito de atingir a Família Real Holandesa e matou uns cinco, ferindo uns onze, alguns dos quais morreram entretanto. Estava sem dinheiro. Sem trabalho. E perderia a casa no dia seguinte. Decidiu aparentemente não viver assim. Decidiu também, também aparentemente, morrer matando. E agora? O moralista imbecil teria vindo dizer que “isso não lhe dá o direito”. Claro que não. Mas ele sempre se estaria nas tintas para o moralista. O segundo moralista vem e diz, “o desemprego tem as costas largas”. Terá. Como a crise. Mas a pergunta continua onde estava. Subsiste a provocação anarquista. Um homem ficar sem vida não se chama violência. Mas à retaliação dele, chamam-se coisas a mais para que a razão possa assisti-las. Uma coisa subsiste: a inviabilidade prática de quaisquer medidas de segurança perante tal fenómeno. Essa impossibilidade de resposta útil à raiva daqueles a quem nenhuma resposta útil é dada nunca é um permanente sinal de êxito praticamente assegurado. A esta luz deveriam re-examinar-se algumas práticas institucionais de risco.
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