A situação grega parece mais complicada do que à primeira vista se diria. Todos os comandos militares foram destituídos porque havia ameaça de golpe de estado. A convocatória do referendum deveu-se também a esse suplemento de preocupação. Mas os comandos militares foram substituidos por gente da confiança do PASOK. O que não parece augurar nada de bom. E o golpe de estado foi viabilizado por via pacífica, sob a égide da "união nacional". Que exigências fará a "união nacional" grega às novas chefias militares? -não se sabe. E a resposta que estas darão também não se conhece. A partidarização das FFAA não dá nunca bom resultado. Mas colocando a coisa do ponto de vista da função militar, perguntemos: a Grécia está ou não sob ameaça externa?... - Parece evidente que sim. Qual é a função das FFAA? - Proteger o país das ameaças externas. Olhem só que grande complicação (adicional), não é? E a Grécia, como todos os países da Europa do sul está dividida a meio. É até um dos países que - com a Espanha - está dividido a meio há mais tempo e por uma causa muito semelhante que foi a intervenção de Stalin. Espanha ficava longe de mais para manter e portanto foi largada (embora algumas coisas -poucas- se tivessem acautelado pelo menos na forma tentada). A Grécia ficava na periferia do sistema gizado por Stalin e era dispensável à sua lógica de bloco. Foi portanto cedida. Tal como a Itália. E a Espanha, a Itália e a Grécia têm ainda estes pequenos problemas para resolver. Os de uma guerra civil ganha por contrato alheio (de uma ou outra forma). Guerra que corre o risco de se reacender. Num momento em que todas as solidariedades e unidades internas devem ser questionadas em face da exposição à usura que (objectivamente) representam, isso tem de vir à análise. Em Espanha a cisão do exército é dificil de imaginar. Mas a rebelião popular e a tentativa de emancipação nacional da Catalunha e País Basco, como a tentativa de integração dos portugueses, já são perfeitamente concebíveis. Já na Grécia talvez as FFAA sejam cindíveis. E em Portugal seguramente que a mesma facilidade pode aplicar-se (ainda que o exército tenha sido reduzido à expressão mais simples para serviço de interesses alheios). Novas guerras civis na Europa do Sul poderiam mostrar-se conformes a uma "elitização" da "Europa" que até poderia vender armas a todas as facções em conflito. E eliminaria muitas coisas. Irão eles tão longe? A França também está dividida a meio. Mesmo a Inglaterra se mostra dividida a meio. A Alemanha pode dividir-se a meio. Talvez isso evite a progressão nessa via. E talvez não. Uma guerra civil generalizada na Europa Ocidental seria realmente um fim horrível. Mas poria termo a muitos horrores que prometem ser tão dispendiosos como esse. Outra solução seria uma rebelião bem sucedida e bem dirigida: Uma revolução. A revolução pode ser a última oportunidade da paz. E é interessante que os exércitos já tenham manifestado os primeiros sinais de inquietação pelo menos em dois países (Portugal e Grécia). Podem as direcções políticas - destes países e dos outros - ocupar os exércitos com operações externas? Podem, mas isso construírá claramente os pretextos éticos para eles tomarem posição interna, unidos ou divididos. É interessante seguir esta linha de fractura eventual. É preciso estar atento a isto. Os serviços secretos iranianos, sírios e russos deveriam estar mais atentos a estes detalhes tão mal vistos. Mas se os serviços secretos começarem a estar atentos, o caminho enceta-se e a inércia do movimento fará o resto. Há coisas de que não deve falar-se sequer. Mesmo quando se deve falar delas. É aquilo a que se chama conflito de deveres. Conflito de medos, também. Preocupações conflituantes. Dilemas irresolúveis.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment