Um bom indicativo da presença de Portugal no mundo é seguramente dado pela relevância da sua imprensa “on line”. Ora os jornais portugueses teoricamente mais relevantes, escondem-se. Uns no clix. Outros no sapo. Na primeira estão o
Expresso, o
Público e o
Sol. Na segunda o
Jornal de Notícias e o
Diário de Notícias. A interposição dos números destes portais vicia, parece, o “traffic ranking” destas publicações. São publicações escondidas. Em todo o caso, nenhuma está nos 500 primeiros lugares. O
Le Monde, sim. O
El mundo, também. E
o Globo, evidentemente. Examinado o
alexa – bom e muito utilizado instrumento de observação destas coisas – os números são desanimadores. O desprestígio da imprensa portuguesa é planetário. O
Jornal de Negócios safa-se com uma menção honrosa, conseguindo estar presente nos primeiros vinte e cinco mil sites. E o
Correio da Manhã, nos primeiros vinte mil. As comunidades portuguesas mantêm consultas frequentes destes sites, pelos vistos. Mas enquanto no espaço da Língua Castelhana as publicações espanholas preservam uma clara posição de referência, já no espaço da Língua Portuguesa a imprensa local não revela qualquer importância, aparecendo ao nível das publicações de menor relevância (deste ponto de vista). O
El mundo não é um jornal “popularucho” (longe disso) e
apresenta-se no ranking mundial em 338º lugar. A presença espanhola bate-se portanto - e muito bem - com os vastos espaços culturais das Línguas do Oriente, como o Árabe e o Chinês (por exemplo), batendo-se igualmente bem com os vastos ecos da imprensa de Língua Inglesa e Francesa. É pois razoável dizer que, no território português, imprensa autóctone partilha do profundo desprestígio do Estado da Casa Pia – entre outras máfias -
aos olhos da sua população. Mas, no mundo, é ignorada pela sua vacuidade. Tal imprensa está marcada pela mediocridade, pela ausência de liberdade de iniciativa (e de palavra), vivendo sem polémicas, sem cultura, sem ecos suficientes ou consistentes da vida científica, sem análise penetrante – ou sequer útil - das relações internacionais, sem notícia de vida editorial e intelectual própria – porque não existe, evidentemente – esta imprensa vive, no mundo, da boa vontade e nostalgia dos portugueses do exterior. Mas não traduz nenhuma afirmação cultural própria e é por isso dispensável a todos os outros olhos. Mesmo do ponto de vista noticioso. O caso Maddie deu-nos um bom exemplo, com a imprensa inglesa a portar-se como sempre se portou, dizendo quanto via e com toda a clareza. Mas a imprensa portuguesa (sempre sob a pressão da pretensa injúria na comunicação social) reduzia-se ao papel de porta-voz da polícia, apelando até para um nacionalismo gasto, ao abrigo do qual teríamos de incluir tais criaturas, em concreto consideradas, na fórmula do “tão bons como os melhores”. Isso não é simplesmente verdade. Uma polícia que vive da violência, de resto, "não precisa" da técnica. Como “os políticos” que vivem da intriga e da propaganda não precisam do debate (que aliás temem). Há quanto tempo não acaba esta gente um livro? E qual foi o último título que leram estas prodigiosas criaturas? A imprensa portuguesa – mero reflexo disto - é tão inútil aos portugueses, como o é para quaisquer outros. Não obstante, faz ainda algumas coisas, claro. Todos nós vamos estando vivos, apesar de tudo e por enquanto. A imprensa também. Mas isto que fique claro: só há duas condições para as ideias aparecerem – a vitalidade própria e a liberdade. Em regra é quanto falta nas terras onde nenhuma ideia interpela ninguém. No mundo, porém, a vitalidade intelectual é, ainda, o primeiro instrumento de sedução. Nem sequer são raros os pequenos países, ou países muito subalternizados, só amados e só respeitados pela presença dos seus homens de cultura. E para isso não bastam os títulos de universidades medíocres. São mesmo necessárias as ideias. E a liberdade de as enunciar. É inútil falar em tolerância numa terra de gente sem ideias. Onde esse vazio existe, ele traduz, além de todas as fórmulas e formalidades vazias, uma opressão materialmente efectiva. Mas há os blogs, claro. E entre estes, os novos clandestinos - como Contra Ordem, justamente -
mas isso é outra história. E uma história interessante. Até porque também há instrumentos de medida e estes trazem elementos tão notórios como notáveis.
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