ORDEM E CONTRA-ORDEM
O Sociólogo
Michael Woodiwiss tem deixado claras as coisas. Há utilidade política directa do sub-mundo. Noutros termos, o sub-mundo é zona de actividade política do sistema e gera directamente recursos para os projectos políticos dos aparelhos já no poder. Os casos estudados implicam directamente a CIA. Infelizmente, porém, estas coisas “democratizam-se” sempre. Há uma importância política desproporcionada no estudo da temática do crime organizado. O controlo orçamental estrito tem exigido “imaginação” para obter as verbas com as quais se financiaram as guerras civis na América Latina (S. Salvador e Nicarágua, por exemplo), ou, mais perto de nós, as “revoluções” laranja e rosa da Ucrânia e Geórgia, pelas quais se defendem interesses financeiros e agenciamentos políticos ainda mal enraízados. Essa “imaginação” salda-se no tráfico das coisas mais diversas e na aparição de uma gente crescida em clima onde a vida humana não tem qualquer valor. Entre os custos marginais de tal “imaginação” surgem os temíveis exércitos de sombra, na maior parte das vezes compostos por crianças. O nível de risco da vida quotidiana não dá sequer tempo para acabar de crescer. Os sobreviventes acabam às vezes nas zonas degradadas de Nova Iorque, ou sítios equiparados. Já chegou a Lisboa o nome de um desses fenómenos. Os “mau-mau”. “Mau-mau” é hoje termo vulgar para designar um vulgaríssimo chulo lisboeta, cheio de séries americanas de TV. A apresentar-se como “segurança”. E vivendo da exploração de algumas prostitutas e de um ou outro frete, na porta de uma ou outra discoteca. (A natureza dos fretes está a evoluir). O negócio é rentável. Há polícias que não o desdenham. Polícias que cometem a imprudência de o explorar directamente, i.e. sem a coordenação de quem tem a licença funcional para delinquir. Os primeiros não estão bem protegidos. Os segundos, sim. A crónica ineficácia da polícia autóctone, a sua violência fácil, como a sua imprestabilidade genérica para o que quer que seja, parecem explicar-se por isto, por esta duplicidade boa parte das vezes evidente e aparentemente generalizada, do papel (excessivamente frequente) dos polícias. Tanto mais que em terra sem liberdade de expressão, como esta, qualquer “juiz de instrução” protege funcionalmente tais fenómenos (perseguindo qualquer discussão pública) com uma “pronúncia automática” por injúria, ou difamação (protecção onde não há dolo específico, mas eles dispensam-no ali e nós dispensamo-lo aqui, aliás apoiados na jurisprudência de Estrasburgo, bastando-nos a aptidão genérica e objectiva da conduta para gerar o efeito, de resto verificado; sim, é um crime de perigo a nossos olhos). E se o advogado de defesa vier mesmo defender o jornalista – cometendo a ousadia de invocar o Direito – lá estão, nos casos menos graves, os rafeiros da "Ordem dos Advogados" a invocar o dever de urbanidade. Estão prontos a defender – contra qualquer crítica, ou contra qualquer indagação de advogado em tribunal – quaisquer agentes de quaisquer horrores. Os chulos não estão excluídos. Nem os proxenetas. (Compreendendo os proxenetas de órfãos sob tutela estatal e respectivos clientes). Todos os tráficos estão também incluídos na protecção. E essas defesas – saldadas na perseguição aos advogados que afrontem os interesses subjacentes – são um modo de vida. O processo Casa Pia deu disto um exemplo bastante evidente, também no que à Ordem dos Advogados respeita. Com intervenções públicas de Júdice. E muitas intervenções, muito privadas. (Muitíssimo privadas). Tais criaturas são remuneradas por isso. Foram recrutadas no lunpen. Evidentemente. E até trazem penduradas às braguilhas umas “garinas”, completamente analfabetas, licenciadas por uma qualquer Independente, a sustentar pelas quotizações dos advogados. Mas os juízes de instrução das “pronúncias automáticas” e os juízes criminais das “condenações automáticas” também são remunerados. Os desembargadores da “jurisprudência dominante”, também. (Deviam devolver o dinheiro, não era? E há modo de o exigir…é só uma questão de perseverança e algum tempo). Os procuradores também são remunerados por actividade próxima, mas não têm poder de decisão. Pagam-lhes mais para ladrar que para morder. São alvos menores, do ponto de vista político. Nenhum Estado alguma vez conseguiu reprimir a liberdade de expressão sem cair na abjecção, que é o próprio modo de tais repressões. Aqui não é diferente. (Porque haveria de sê-lo?) … Ora todas estas coisas saltam, por associação, quando os federastas da União Europeia, em vénia diante dos USA, se apresentam a viabilizar a independência de um novo bantustão do crime, desta vez na Europa. Sustentando a actuação necessária, à boca de cena, por figuras de quinto plano (como Barroso, ou o licenciado Sócrates), porque nenhuma figura de primeiro plano aceita, apesar de tudo, tais desempenhos. O novo bantustão do crime é o Kossovo. E é exactamente disso que se trata. Uma nova plataforma giratória para os tráficos “necessários”. Mais perto dos mercados. E mais perto das “ novas zonas de intervenção” numa estratégia (violenta) de ataque a Leste. Talvez consigam algum êxito. E talvez não. Os homens de Putin parecem perfeitamente aptos a travar tal fenómeno. Ou a devolvê-lo à procedência. (E dispõem da imensa vantagem de ser gente que ama a sua terra). Mas isso devolverá às populações da Europa Ocidental o problema político da passividade própria.
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