Dediquemos um pensamento às crianças que morrem debaixo das bombas dos que se olham como construtores da paz ou combatentes da liberdade, no Iraque ou no Afeganistão. Um pensamento às crianças que morrem de fome em zonas onde não há (e nunca houve) escassez de alimentos (como na África austral). Um pensamento às crianças (africanas ou de outros lugares) traficadas ao abrigo da pretensa assistência humanitária. Um pensamento às crianças raptadas. Às mulheres grávidas que em Belgrado receberam indicações clínicas para abortar em razão do risco de contaminação radioactiva pelas munições de urânio empobrecido. Um pensamento às famílias sérvias que preparam o seu novo êxodo do
Kossovo. E uma recordação aos insurrectos húngaros de 1956 cujas filhas e netas trabalham hoje – numa pátria libertada – na “indústria” da pornografia (duzentas e cinquenta mil mulheres na Cidade de Budapeste, ou seja, quase a inteira população feminina jovem da Cidade). Um pensamento, também, para os filhos daqueles que padecem em
Guantanamo, completamente excluídos da dignidade humana. E aos que, ao nosso lado, faliram – ou ficaram desempregados - em consequência de uma política económica dirigida por imbecis pretensiosos e alarves enlouquecidos. Um pensamento aos presos das cadeias portuguesas onde se morre mais do que nas turcas e, em especial, àqueles a quem o indulto foi negado neste Natal. Um pensamento aos órfãos e desvalidos, prostituídos sob tutela estatal portuguesa, na Casa Pia ou noutros lugares igualmente execrandos. E isto tendo feito, aceitemos que não pode ser tão difícil –
independentemente do que se pense sobre a propriedade e a liberdade, sobre as formas de governo, sobre a justiça e a ordem, sobre as opções do desenvolvimento e as condições da Paz – não pode ser tão difícil, qualquer que seja o lugar, não pode ser tão difícil fazer melhor do que o inqualificável. Por mais difícil que seja decidir.
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