Durante seis anos, a CIA impôs uma crise à Ucrânia sem lograr impor a solução dela. Apoiou-se na minoria de origem polaca da Ucrânia, nas nostalgias do independentismo germanófilo (alinhadamente nazi e oferecido ao oportunismo papista como uniata) bem como nas aspirações autocefalistas dos Ortodoxos dissidentes do Arcebispo Mtzlav (radicado no Canadá com uma comunidade ucraniana brilhante que o Patriarca Ecuménico não desdenhou de receber sob o seu Omofórion). Em reforço pôde ainda usar a decepção do Metropolita Filaret de Kiev, locum tenens do trono patriarcal reduzido ao estado laico e cujo clero, evidentemente, não aceitou tal solução. Os vectores de Mtzlav e Filaret acabaram por, no decesso do primeiro, ponderar a organização comum sob a mitra do segundo, mas a isso obstou Bartolomeu I. Todavia ninguém logrou convencer a maioria do laicado que permaneceu fiel ao Cânone. Foi a mesma história. Não lograram a vitória, mas impuseram o cisma. A pseudo-revolução laranja fez-se destas coisas. E a desorganização que se lhe seguiu teve apenas a (imensa) vantagem de impor uma liberdade de palavra à prova de bala com alguns reflexos (muito) positivos na liberdade de imprensa à qual, evidentemente, não faltou matéria de protesto. A menina das tranças pôde exibir durante seis anos os seus talentos, que de resto virou com razoável eficácia contra o aliado da véspera hoje reduzido ao desprezo dos seus compatriotas. Chegou agora o momento de ser realista. A Ucrânia está partida em duas, mas sempre o esteve. Já no reinado de Catarina II estava partida em duas. No essencial. Stalin não facilitou as coisas, com sua visão dos direitos da vitória, instalando a Ucrânia sobre território historicamente polaco e retirando à Moldávia um braço do delta do Danúbio que também deu à Ucrânia. Essas coisas têm consequências. Mesmo que os greco-católicos sejam tão detestados pelos polacos como pelos outros ucranianos. E são. Revelaram-se um (comparativamente pequeno) vector de resistência ao domínio russo. Mas os ortodoxos são um (comparativamente esmagador) vector de resistência ao domínio polaco e ao uniatismo. Têm um campeão comum: Bogdan Kmelnitsky. A liberdade religiosa da Ortodoxia assentou, contra Sigesmundo Vasa, na bravura indomável dos sabres cossacos. A Ucrânia Oriental não esquece que é russa e, aliás, a primeira Rússia. E mostra-se inamovível. Constante. Clara. Terá desenvolvido entretanto interesses económicos próprios. Porventura mesmo, interesses políticos próprios. Mas nenhum dos seus caminhos pode coincidir com o deplorável carnaval ao qual aquela grande terra foi condenada neste período. A menina das tranças ameaça vir para a rua. Mas para a rua ela já foi. É uma mulher da rua, aliás, e em mais de um sentido, infelizmente. Mas a rua já lhe deu o que tinha a dar. E vice-versa. Agora é o momento da Ucrânia fazer o seu caminho na unidade cultural que é a sua. Com as proximidades naturais. E a força que lograr readquirir. A União Europeia começará a fugir dela como o diabo da cruz. A NATO não vai querer sequer ouvir falar nela. Moscovo tem – entre alguns motivos de lamento- razões para rir a bandeiras despregadas. Era muito interessante ver a terra histórica, onde todas as Rússias se fundaram, integrada na União Europeia. Era uma bela cunha. Sobretudo considerando que o futuro das unidades europeias não pode deixar de ser Eurasiático. Os homens da NATO vão ter de pensar, também eles, noutras formas de emprego. E possa essa reflexão ser mais feliz do que o foi até agora.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment