É a primeira vez desde há muitos anos que se verifica um despejo em França em pleno Inverno. O Abbé Pierre conseguiu provocar, há muitas décadas atrás, uma comoção geral ao anunciar ao país que havia encontrado uma velha, moribunda, na rua, segurando na mão, ainda, enquanto morria de frio, a ordem judicial de despejo. E isso nunca mais voltou a ocorrer desde então. Não há despejos no Inverno. Melhor, não havia. Porque há sempre uma besta de um funcionário capaz de fazer recuar num segundo – por simples conveniência do seu horáriozinho - vários séculos de aquisições da generosidade, ou da simples noção das proporções. Este funcionário é evidentemente um homem banal. E essa banalidade é exactamente o que há de mal nisso e nele. Este monstrozinho não precisa de formação nenhuma. Não é preciso fazê-lo compreender nada. Basta impedi-lo de fazer barbaridades destas. Ele não precisa de formação. Precisa de hierarquia. E convém que o hierarca traga uma chibata de montar na mão. O funcionário (aquela merda de gente) veio dizer, justificando a medida (administrativa), que o edifício estava muito degradado havia anos. Portanto já o estaria na Primavera passada, não? Que coisa os impediu de fazer isto nessa altura? As organizações cívicas e militantes de solidariedade não se lembraram de pedir uma suspensão de eficácia do acto administrativo. E pronto. O funcionário foi dormir para casa. E os miseráveis que se alojavam no pardieiro (havia anos, sim) ficaram no meio de um nevão. Que coisa faremos ao funcionário? Esfregamos-lhe o focinho na neve, para o acordar?
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