Tem um metro e sessenta. Ou um (muito pouco) mais. Iniciou a vida com apostas auspiciosas
de carreira. Era, em Guimarães, um jovem dirigente local da ANP (a União
Nacional à medida de Marcelllo Caetano). Mas vieram os militares e
prenderam-no na alvorada da restauração da democracia parlamentar. Foi humilhante, claro. Foi sobretudo um momento de terror, porque
o homem não é especialmente corajoso. Temeu que o passassem pelas armas. E
alguma economia de vidas se teria obtido caso isso tivesse podido acontecer. Nunca
perdoou aos seus jovens colegas de profissão a omissão da sua defesa naquele
transe. Sobretudo aos democratas. Ele conhecerá melhor do que ninguém o
fundamento de tal confabulado dever. Treinado na obediência – segundo a pedagogia salazarista - a criatura
não se caracteriza por nenhum rasgo de bravura, embora não seja isento de
raivas. Ibn Caldoum (de quem gostava seu amo Marcello que nunca o leu) explica bem
o fenómeno. São imprestáveis para a guerra os que se habituaram a temer. Claro.
E é o caso. Nunca foi tão salazarista como Rudolfo Lavrador – esse até dizia,
como todo o bom salazarista, “a minha política é o trabalho” – Luís Teixeira e
Melo é pessoalmente repugnante, sim, mas não tanto. A política dele não era
para ser o trabalho, mas o contrário. As suas auspiciosas apostas de início de
carreira visavam fazer trabalho da política. E olha para todo o desenvolvimento
do processo político como um esbulho de direitos seus. Nada o incomoda mais do
que um êxito alheio. Assessor de administrações, sempre achou que devia ser ele
a integrar as administrações. Conselheiro de políticos sempre achou que devia ele
próprio ser Ministro, muito embora se compraza pelo esvaziamento evidente de
poderes efectivos dos “ministros”. É invejoso. As criaturas raivosas e medrosas
são sempre invejosas. Também são sempre cruéis. Imagina com dor própria o que
os outros ganham. E gostaria de poder destruir as alegrias alheias. Inaugurou
na sua comarca de Guimarães um estilo agressivo, mas essa agressividade superou
muitas vezes a mera linguagem. Ou estendeu-se a outras linguagens. (Como se
preferir). Encontramo-lo entrosado com o cónego Melo, um homicida indiciado
para quem era “trabalho de Deus” mandar queimar as sedes dos partidos e movimentos
de esquerda. E até abater alguns militantes de esquerda, lhe parecia “trabalho
de Deus”. Era a lógica do papismo de Voitila. Mas esta gente tem dificuldade em
controlar impulsos e, portanto, acabou por mandar matar também alguns dos que
imaginava seus, i.e. propriedade ou pertença sua.. Para esta gente – eles aliás
dizem-no - aderir a uma posição é “pertencer” a uma organização. (Quanto ao
assassinato de gente sua, fizeram a tentativa de endossar esses homicídios às
FP25 e nunca assumiram politicamente a atitude tomada). Há quem pense que o
atentado a Sá Carneiro tem o dedo desta direita papista, uma vez que o próprio
Arcebispo de Braga atacou Sá Carneiro violentamente (depois de abatido) lá por
causa das moralidades à escala em que o papismo as concebe. Tudo é imoral para a
gentalha de tal clero, claro. É o ponto de vista do delinquente que sodomiza violentamente
crianças. É o papismo de Voitila, protector pessoal do Padre Maciel e dos “Legionários
de Cristo” (alguns dos quais sodomizados pelo padre Maciel que chegou a
sodomizar filhos seus). Tudo é imoral para tal gente em razão do intenso
moralismo do delinquente, para quem os outros têm de ser piores que ele, a fim
de que ele possa ser ainda alguma coisa. Isto distingue talvez o delinquente do
insurgente. O delinquente transgride sem se insurgir. Nada causa ao delinquente
maior e mais negativa impressão que a rebelião, sobretudo a rebelião política. O
delinquente é servil mesmo nas transgressões. O insurgente, em certa medida,
nunca transgride. Numa hierarquia de normas, o insurgente reputa de nulo valor algumas
leis. Ou todas. Em regra reputa violadas as normas a que nenhuma lei pode
opor-se. E recusa a obediência. É uma grande diferença. Luís Teixeira e Melo,
na sua “resistência política”, esteve sempre com delinquentes e nunca com
insurgentes. É um papista. Com papistas é assim, como regra. É preciso aderir
apaixonadamente a Santo Agostinho para poder ser diferente. E fica-se muito
diferente, sim. Tão diferente que se deixa de ser papista. É agora preciso ver
Luís Teixeira e Melo a funcionar. Há seguramente muito material em muitos
arquivos quanto a tal matéria. Recordamos todavia o caso em que a Relação do
Porto deu por confirmada uma sentença de primeira instância (de Guimarães) onde
se afirmava o patrocínio incompatível de duas posições. O Conselho Distrital do
Porto da Ordem protegeu-o. Declarou prescrita a infracção disciplinar. E o
Jornal de Notícias trouxe o caso a público. Sete anos depois, a juiz de
primeira instância, percorrera um longo calvário de assédio moral sob pretexto
disciplinar por quem considerava ilícito (e o escreveu) que um juiz criminal prosseguisse
obstinadamente o apuramento da verdade material (!... foi exactamente assim).
Essa juiz acabou por cair de um sétimo andar. (Isto para só dizermos o que é
possível dizer, já que nesta terra nada se investiga, nada se prova, nada se esclarece,
de nada se fala e de nada pode falar-se, como é próprio do país dominado por
todas as máfias). José Miguel Júdice (evidentemente) trouxe a criatura ao
Conselho Superior da Ordem dos Advogados. José António Barreiros – um rapaz das
colónias - fê-lo regressar a este órgão. E Fragoso Marques pretende mantê-lo
lá. Os textos que a execranda criatura firmou em tal órgão são bem à medida de
tudo o que o caracteriza. Era interessante ver o que aconteceu ao advogado que
se lhe opôs no processo cuja juiz caiu de um sétimo andar. Seria até interessante
comparar os textos da eventual perseguição “disciplinar” ao advogado, com as
fórmulas que serviram a intranquilização da juiz até à sua defenestração. Nada disso
é difícil. Luís Teixeira e Melo, ao contrário do Marcelino Varela de Matos, não
provoca o riso. Ele próprio, de resto, ri pouco. Uma tal presença caracteriza
definitivamente qualquer organização que a acolha. E também por isso é preciso
extinguir a Ordem dos Advogados da tugária e levar a audiências criminais públicas
os crimes de coacção (mafiosa) de advogados que ali ocorrem. Sim, porque
qualquer advogado abana quando se trata de enfrentar homem como este (ou como
Rudolfo Lavrador). Alguns ignoram esse abano e vão em frente. Mas não são muitos.
Nem serão advogados por muito mais tempo.
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