Wednesday, June 25, 2008

Explicitação metodológica: o estupor da velha

Baptista Bastos, jornalista do tempo em que havia jornalismo no que é hoje a terra da Casa Pia (e do estupor da velha), sentenciou o estupor. Ancião venerando, a velha não o impressiona enquanto tal. Embora devesse, que a velha é um manifesto em si própria. Fala apenas sobre o estupor, portanto. Nada mal, bem entendido. Mas Contra Ordem toma por mais rigoroso manter em análise o estupor e a velha. E toma-o na síntese apresentada à luz dos factos fatais: o estupor da velha.

Sunday, June 22, 2008

O Estupor da Velha e o regresso dos capões

Terminado o Congresso do "PSD" "português", podemos dizer que se tratou de mero rito assinalando o regresso dos capões. A velha deixou claro (do alto do terço do partido que a elegeu) que não reconhecia a luta de classes dentro do partido. Para ela não há oposição entre as “bases” e os “barões”, tudo se saldando – por consequência, não? - numa coexistência (demonstradamente precária) entre patos e capões. E eles lá desfilaram, com a pose de manequins de alfaiate de bairro, aclamados por ânsias sem léxico. Querem “recuperar a confiança do país”. Poderia haver aqui um problema se ainda houvesse país. Mais do que uma via estreita, aqui também o léxico é estreito. Veio um chorrilho de lugares comuns à pose do “discurso de estado” (veja-se o grotesco da coisa). Tudo se confirma. Nada de quanto foi dito significa coisa nenhuma, começando pelo facto de boa parte das coisas ditas contrariarem as coisas feitas (o alívio da carga fiscal é muito engraçado na boca do estupor da velha, por exemplo). Mas de tudo há uma sólida conclusão, clara como a água: a megera não apresentou um programa, nem verbalizou intenções, nem formulou posições. A megera disse que havia de ir à procura das ideias com que a política se faz. Nisto vem o drama do conservadorismo ibérico. Os desgraçados, com efeito, porque lhes tem sempre bastado a intriga, a violência, a “autoridade” (como dizem) não têm nada dentro das cabeçorras. Mas a esquerda oficial ibérica (cujo engenho se aguça – mais mal que bem - pela necessidade de sustento diário daqueles que diz representar) não está em situação muito diversa. Em todo o caso a Espanha aguenta. Portugal não. “Já deixou de existir”, como dizia Napoleão. E o estupor da velha - naquele rito mecanicamente celebrado - demonstra bem a indigência intelectual própria das inviabilidades.

Friday, June 20, 2008

Insulto à Pobreza e à Clemência

A Folha On Line (Brasil) dá notícia do relatório “No one to turn to” da organização Save the Children e sublinha o comando Brasileiro da missão no Haiti. Em síntese, as ONG são lugar de abuso das crianças nas zonas intervencionadas por “motivos humanitários”. Não há grande coisa a comentar, infelizmente. É melhor ler o relatório. "Esta merda chamada mundo", como disse Saramago, não está propriamente a melhorar.

REAFIRMAÇÃO

Os "tugas" foram varridos pela Alemanha, no campeonato de futebol. (Os confrontos impossíveis nunca existem verdadeiramente). Teria sido péssimo se tivessem um motivo que fosse para se distraírem dos horrores da repulsiva terra que mantêm. Da sordidez consentida à gentalha que promovem. Do insulto à vida em que essa terra se salda. Terra onde hoje se calaram a literatura, a música, - toda a cultura, em síntese - e preserva por mil polícias essa vacuidade mental, primeiro instrumento do poder autóctone ao interior de tão sinistras fronteiras. Ei-los pois regressados à frustração, como convém aos frustres. Seria péssimo serviço à Justiça que a terra da Casa Pia conseguisse ficcionar-se, ao ponto de se apresentar como terra de gente normal. Contra Ordem – blog clandestino – é instrumento de combate dos romoi. Incumbido de examinar este território onde os homens são castrados para alimentar os cães. Não, não há nisto exagero… Acaso pode ser outro o significado do caso da Casa Pia? Não é isso a pedoclastia? Não é isso a “panascracia” local?... Acaso há nesta terra alguma coisa, ou alguém, cuja visibilidade pública se equipare à disto (e por mais diferente disto que possa ser)? Pode algum homem normal viver aqui sem esconder do terror a sua normalidade? Pode alguém escrever aqui, com liberdade, sem ser clandestinamente? Há para os homens normais, que aqui vivem ainda, alguma esperança a não ser o desaparecimento da corja que à sobra de tais fronteiras se acoita?

A REVOLUÇÃO PERMANENTE DO MONAQUISMO

Todas as surpresas devem esperar-se do monaquismo. Desde logo esta de um trabalho agrícola sábio, militante, isento de avidez e usura, não obstante o carácter inestimável dos resultados. Sempre foi assim, mas nem sempre isso é notado. Os monges russos do Ladoga fizeram viver videiras em pleno gelo e ainda hoje no Novo Valaam, na Finlândia, os sucessores desses Santos Monges produzem e disponibilizam aos curiosos essa inesperada produção de vinho da Karélia (que legitima todas as curiosidades). Hoje o Velho Valaam (na foto da esquerda, está a imagem da sua Basílica) prossegue ainda a rota da restauração (interminável) do seu vasto património arquitectónico, iconográfico (e científico, porque não dizê-lo?). Mas se entre os gelos o monaquismo produziu os seus milagres botânicos, também nos desertos do Egipto as comunidades monásticas são lugar da transfiguração da paisagem. O mosteiro de Abu Makar é uma suspensão do deserto. Pecuária no meio do deserto, com espécies adaptadas, instauração e gestão cuidadosa de um eco-sistema novo, uma comunidade monástica de sábios (com graduação universitária nas ciências exactas, nas ciências da terra e na medicina, gente que avança para o mosteiro porque ama Deus, os Homens e a Terra e não para fugir do que quer que seja). Árvores de fruto no meio do deserto. Um assombro, claro. Uma utilidade política assombrosa (também) no plano do interesse comum, porque o deserto recua ali quando por todo o mundo avança. O mais inteligente dos jornais árabes que conhecemos presta homenagem à Abadia de Abu Makar (cuja basílica aparece aqui na imagem à direita). E Contra Ordem presta, também por isso, homenagem ao Al Ahram, lembrando que o Egipto é o primeiro protector dessa outra razão de assombro permanente que é o Mosteiro de Santa Catarina do Monte Sinai, cuja comunidade foi declarada por Mohamad parte integrante do Islão e a todos os muçulmanos fixada a estrita obrigação de proteger os Santos Monges do deserto que, um dia, salvaram Mohamad da morte… Mero detalhe simbólico, claro. Se as orações de cinquenta justos sustentam o mundo, os mosteiros (todos os mosteiros, como faríamos nós distinções?) são os pilares da vida na Terra. Nenhuma razão de surpresa, portanto, se aqui os descobrimos assim de modo literal e imediato. Às vezes estas redescobertas são nova razão de incómodo (gentil, embora) para os monges. Nos anos oitenta, as abadias do Athos tiveram de acolher o entusiasmo dos velhos militantes socialistas e comunistas desiludidos que de repente viram ali (com razão, claro) a mais perfeita materialização dos seus ideais. E os velhos monges tiveram então o trabalho novo de esclarecer, sorrindo, que o monaquismo não é uma explosão de romantismo laical, por mais simpáticas que sejam essas explosões, esses romantismos e esses laicismos (como em regra são).

Thursday, June 19, 2008

Não-denominacionismo

A Pátria do Fundamentalismo Religioso (os USA, com os seus exageros nascidos no protestantismo) traz-nos novidades. Há um inorgânico movimento que vem sendo denominado como “não-denominacionista” e pelo qual algumas congregações Baptistas, uma Mórmon, algumas metodistas estão a mudar de nome para eliminar os vestígios da sua denominação confessional originária, que agora se reputa “limitativa”, “embaraçosa”, contra producente. Não sabemos se isto é completamente uma novidade. Os próprios USA são uma realidade “não-demominacional”: Norte-Americanos são igualmente os canadianos e os mexicanos e “Estados Unidos” são também os do México. Jean-Luc Godard chegou a dizer que a força dos USA pode bem vir do facto de ninguém lhes ter dado um nome… Mas nem isso é completamente exacto: a resistência islâmica chama-lhes várias coisas e mesmo nós poderíamos acrescentar duas ou três sugestões. Recorda-se que a própria Rússia Imperial – depois de ter chegado a designar as suas possessões no continente como “América Russa” - acabou por chamar a esses territórios “coisa sem interesse”, abandonando parte deles e vendendo o resto. Em todo o caso, registe-se que nos inenarráveis USA o incómodo da denominação de origem está em expansão, em favor de “novas marcas”, mais abrangentes e na própria dimensão confessional da vida. E isso deve, factualmente, sublinhar-se. Por ser coisa na qual deve pensar-se.

Wednesday, June 18, 2008

Para a História da indecência

O presidente Medvedev (Deus o guarde) acabou de pôr o machado na raiz de uma infâmia. Os “não-cidadãos” da Estónia e da Letónia têm agora a regulação legal clara da entrada e saída da Rússia. O “estatuto” da não cidadania (!) foi e é um insulto e uma inacreditável discriminação lançada pela Estónia e Letónia sobre os cidadãos soviéticos que naqueles territórios passaram a viver depois de 1940 (estatuto que abrange igualmente os seus descendentes nascidos antes de 1991). São hoje apátridas. Ora depois do Decreto do presidente Medvedev, a Letónia e a Estónia manifestam “preocupação” e até dizem que a nova medida é um “obstáculo à naturalização”. Para a Europa dos Direitos Humanos, não está mal, convenhamos. Estes antigos cidadãos soviéticos podem agora entrar e sair da Rússia sem visto, mediante simples apresentação dos seus documentos de "não cidadãos". Os cidadãos da Estónia e da Letónia continuam a precisar de vistos, naturalmente. (Espera-se aliás que sejam difíceis de obter). Já que ninguém o faz, Contra Ordem sugere à Estónia e à Letónia que metam a “naturalização” onde isso lhes caiba melhor. Contra Ordem declara-se solenemente (e para estes efeitos) não-cidadã. São 115000 pessoas na Estónia. E quatrocentas mil na Letónia. (É inútil lembrar o número ridículo da população desses dois territórios e a relevância percentual destas exclusões).

Tuesday, June 17, 2008

PESADELO DOS FEDERASTAS

A República Checa recusou a Sarkozy qualquer garantia formal, material ou funcional, quanto à sua eventual ratificação do tratado alegadamente “simplificado” de Lisboa, pelo qual se retoma (fraudulentamente) a “Constituição Europeia” antes recusada. O Chefe do Estado Checo saudou a recusa irlandesa como uma “vitória da liberdade”. E o Parlamento não terminou a sua análise constitucional do tratado. Sarkozy confessa a amplitude da coisa dizendo que, para o alargamento ao resto dos Balcãs, é preciso o tratado de Lisboa. Ora aí está mais um motivo para não ratificar. Todavia, a própria Inglaterra ainda não ratificou o tratado. A era da compra de almas estará perto do fim?

Monday, June 16, 2008

IGREJA RUSSA PEDE ESCLARECIMENTOS

A Santa Igreja Russa pediu explicações formais ao Patriarcado da Roménia sobre a eventual comunhão do Metropolita do Banat em rito presidido pelo núncio do Vaticano na Roménia. O pedido de esclarecimento foi subscrito pelo Metropolita Kiril (foto à esquerda). Tal situação deve ser explicada, realmente, não vá dar-se o caso de estarmos perante um uniata. Paralelamente, a Santa Igreja Romena entronizou o novo Metropolita da Moldávia, o brilhante Metropolita Teofan, até agora no Trono Metropolitano da Olténia (foto à direita). A confirmar-se o escândalo com o Metropolita do Banat, o dito ecumenismo vai previsivelmente sofrer alguns reveses nas décadas mais próximas. Todavia é bem sabido que o Vaticano tende a fraccionar, pela intriga, pelo aliciamento (às vezes por simples compras) e pelo equívoco rapidamente explorado e difundido, as comunidades ortodoxas das quais se aproxima. É um objectivo permanentemente visado, embora tenha preços sempre insuspeitados para o Vaticano. A Santa Igreja Romena tem parecido demasiado exposta a esta malsã proximidade. Mas seja o incidente o que tiver sido, ele não terá importância a não ser no plano pessoal. As fotografias publicadas pelos papistas e que pudemos examinar não são suficientemente explícitas (eles denunciam, como se vê, quem deles se aproxima, imagine-se). Aguardemos a posição do Patriarca Daniel.

Sunday, June 15, 2008

De Reykjavik a Владивосток

Há uma alternativa ao espaço da "União Europeia" – relativamente clara, se não estivessem alguns detalhes a ofuscar essa evidência – é a Eurásia. Ao eixo Washington-Oeste Europa, pode bem opor-se a naturalidade da vasta superfície que vai da Islândia a Vladivostok. A imagem faz estremecer, bem sabemos. Mas é infinitamente mais razoável. Seria, claro, uma realidade geo-política sem Vaticano relevante. (Evidentemente). Uma realidade emergente no contexto do declínio (inevitável) do império americano. Uma realidade onde a própria “ocidentalidade” se fraccionaria, aparecendo a Península da Nova Ibéria como o porto de ligação natural à América do Sul e o início da estrada mais óbvia para o novo centro do mundo. Pelo caminho ficariam os projectos falhados, entregues a figuras de mediocridade gritante, porque, justamente, nenhum homem de primeiro plano aceitaria tão indigno papel. Barroso está bem como presidente de um projecto naufragado nos baixios da mediocridade. Não foram os europeus quem lhe chamou o “sr. banalidades”? Seria deplorável uma qualquer figura de primeiro plano nesse papel. A Irlanda representou bem os povos europeus, hoje reféns dos seus “representantes” que, conspirando contra os povos, prosseguem a aventura (impossível) de construir uma realidade institucional por si próprios, desacompanhados de quem quer que seja e até contra compromissos eleitorais explícitos (que a disciplina do mandato não autoriza a abandonar… é simples questão de Direito Civil, a projectar no Direito Político). Feliz ou infelizmente, isto encalhou. (Viva a Irlanda). Sempre estivemos livres para olhar o horizonte (gratuitamente dado pela Geografia). Hoje estamos livres da parvoíce de velhos interesses gerados por realidades já mortas (em alguns casos), ou moribundas. A Irlanda é hoje espelho de alguma coisa bem mais vasta do que a própria ilha (o Polaco é a segunda Língua mais falada ali, depois do Inglês), sendo certo que a incompatibilidade do “catolicismo de estado” com o desenvolvimento económico está ali a resolver-se, como sempre, contra esse catolicismo… e se houver outro vai ter que revelar-se e maturar depressa e, sim, sob pena de morte.

Hamid Karzai

Hamid Karzai é uma figura mais simpática do que o papel que tem desempenhado. Poderia ser um homem de Estado, se ali houvesse tal coisa. Poderia ter dado um óptimo primeiro-ministro do Rei, mas o Rei recusou o papel de fantoche das forças de ocupação. (É frequente os reis terem algum respeito pelos seus povos). Karzai deve estar fatigado por ser presidente de uma ficção. E fez uma coisa estranha: ameaçou o Paquistão com a violação de fronteiras pelo “seu” exército (o “exército do Afeganistão”), como retaliação pelo santuário que o território tribal do Paquistão tem oferecido aos talibã. É difícil imaginar maior tolice. Primeiro porque naquele território mandam realmente os que lá estão. O exército do Paquistão só lá tem entrado no enquadramento de operações de vastas proporções mas de duração restrita e objectivos limitados. Karzai imagina, parece, poder fazer mais do que isso. Adiantará lembrar-lhe que perderá o que tem, sem ganhar o que quer? O território da FATA (Federally Administered Tribal Areas), como o nome o indica, tem um estranho estatuto, porque, como a história o ensina, logrou resistir a poderes mais significativos do que a ficção à qual preside Karzai. A imprensa dos países comprometidos na ocupação não deu até agora nenhuma importância ao que promete ser um verdadeiro desaire. Felizmente, a Al Jazeera existe. (Como tudo era diferente sem este admirável Emir). Agora Karzai ou cumpre, ou não cumpre. Em qualquer dos casos, Karzai mudou de fase. E a História desta ocupação militar também.

EN ESPAÑA y PORTUGAL

Os transportadores não desarmam em Espanha e as gentes do PSOE começam a pensar e a praticar a repressão. Os alarves portugueses estiveram perto, tendo parado todavia a tempo. Em Espanha eles são mais corajosos e prosseguem, portanto, corajosamente, uma profunda estupidez. Rememoremos… O Estado moderno nasce da aliança da coroa com o povo (não será?) contra o arbítrio dos potentados locais, os grandes senhores que, afinal, não eram tão grandes como supunham. A centralização do poder permitiu que a Lei libertasse onde a liberdade do mero arbítrio oprimia. E tal problema nunca deixou de regressar sob novas formas. Hoje é o mesmo. O problema de sempre. E é um erro fatal, para o Estado, hostilizar a revolta das vítimas. Um disparate pegado, isto. A direcção política do Estado é a direcção política de um país. No âmbito da União Europeia, como nos demais âmbitos do Direito dos Tratados, o Estado tem hoje a possibilidade de fazer intervir uma comunhão de soberanias para fazer face a problemas globais, como o da especulação à escala global. (A recente declaração dos ministros das finanças do G 8 é já alguma coisa, sendo embora tímida demais, mesmo que alguma eficácia imediata se lhe note). A visibilidade da revolta das vítimas da especulação à escala global num território concreto, sempre seria um título de legitimidade acrescida do respectivo estado para exigir a concertação de esforços numa intervenção internacional. Mesmo que essas vítimas errem o alvo dos seus protestos, sempre se poderia ajudá-las a acertar… Ao invés disso, andam a chamar aos transportadores em paralisação “assaltantes” (como em Portugal). Nem a Direita Espanhola foi tão longe. São frágeis as convicções ditas de esquerda na segunda Ibéria. (Sendo a primeira Ibéria, evidentemente, a terra à qual se chama Geórgia). Ao primeiro pretexto, estes tipos alucinam e cada um deles imagina-se Belissário diante da Vandália. Franco e Salazar faziam o mesmo. Mas bárbaros só eles próprios. São eles quem não sabe o que dizer e são eles quem não sabe o que diz. Depois… Melhor cabe aqui Artur que Belissário. Os romanos em revolta hão-de conter os bárbaros. Travando os novos saqueadores das suas terras: os especuladores, evidentemente. E punindo os bárbaros que, no lugar, lhes servem de agentes. Mesmo que seja só por estupidez. Contra Ordem entende que a estupidez é um crime como os outros, se não for a fonte de todos os crimes. Nenhum decreto pode opor-se à vida. Porque essa oposição é a fonte de todos os excessos. Nenhum dirigente do Estado pode opor-se ao seu próprio povo nestes termos. Esse é um combate que ninguém ganhou nunca. E é espantosa a facilidade com que se desiquilibra esta gente. A fragilidade do Estado confessada pelo Primeiro-Ministro português foi e é, aqui, antes de mais, a estupidez de quem o dirige. (E não parece haver melhor em alternativa, dentro do leque, ou, como eles gostam de dizer,” do arco da governabilidade”). Os "socialistas portugueses" andam como se esperaria. Não há nada a esperar de tal gente. Zapatero tem estado, nisto, abaixo das expectativas (coisa nem sequer frequente).

Friday, June 13, 2008

CHEFE DA IGREJA CATÓLICA VISITA O VATICANO

Foram décadas de subalternidade. Ao Vaticano costumavam deslocar-se sobretudo os Directores da CIA. Mesmo assim, com o cuidado de deixar claro que jamais tiveram de esperar na antecâmara, entrando directamente no gabinete do papa. Desde Paulo VI. Tais declarações públicas eram nitidamente feitas em defesa da dignidade institucional que representavam, não fosse pensar-se que meros agentes e informadores tinham maior importância do que a razoável. Mas agora Bush, magnânimo, visitou o coração da "sociedade perfeitíssima". Entre sorrisos de satisfação. Martirizaram-no com um concerto - sem música country - mas nos jardins, e isso sempre lhe deu oportunidade de olhar para o verde. Não terá sido possível discutir grande coisa ao mais alto nível. Bush não sabe quem são os caldeus. Nem os "greco-católicos". Nem os melkitas. E Ratzinger dá, há tempos, mostras de degenerescência arteropática acentuada. Não terão conversado grande coisa. Aliás, a Bush é difícil pensar em Língua Inglesa. Mas a visita simbólica foi consumada. Com o modelo de "visita de estado".

Thursday, June 12, 2008

ADIAMENTO PRAGMÁTICO

Dez pequenas medidas convenceram os transportadores rodoviários a voltar à circulação. Não ganharam grande coisa, mas adquiriram a experiência da força própria. E deram a outros vectores da actividade económica um exemplo criticamente importante. A crise pode portanto continuar e nem sequer por outros meios. Os transportadores de cimento e brita, os agricultores, os taxistas propõem-se já experimentar meios análogos. É a "democratização" da espiral chilena que matou Allende? Pelo menos parece-o. Mas depois da espiral vieram as revoluções laranja e rosa. As técnicas tenderão naturalmente para sínteses mais criativas... Separadas das organizações partidárias que perderam toda a credibilidade, as novas organizações de classe, em pré-insurreição, podem bem conjugar-se entre si . Aliás se não vier delas a nova liderança política e nova eficácia de liderança, o território não tem recomposição possível. O Estado da Casa Pia tem de morrer. E às larvas que lhe infestam já as partes moles não se lhes deveria dar mais do que tal cadáver. Resta saber se conseguiremos que tão repulsivo bicho morra só... Seja como for, a crise deve continuar. Viva a crise!

Wednesday, June 11, 2008

Os "especialistas": crise em agravamento

Os “especialistas” puseram-se a pensar. E pretendem que a paralisação dos industriais e trabalhadores dos transportes rodoviários, não traduzindo embora “tecnicamente” um “lockout”, corresponderia materialmente a este (!?) e portanto “poderia” (!?) caber na proibição constitucional desta conduta. É comovente o esforço que ocasionalmente fazem para pensar, embora em regra o façam pelos piores motivos. Mas quando estes infelizes se põem a pensar, dá nisto. Querem uma desculpa para a intervenção violenta (policial, designadamente) mas não sabem qual haja de ser. Embora também se não veja que utilidade teria a intervenção violenta. Contra ordem não vê exactamente como haveria de forçar-se (materialmente falando) alguém a por em circulação os seus veículos de transporte. Podem arranjar-se soluções várias (desde a requisição, até à tipificação de novos ilícitos penais), mas mandar uma força de polícia forçar alguém a mandar conduzir os camiões, ou a conduzi-los… É, à partida, um fiasco grotesco. Aliás as cadeias já estão sobrelotadas. Vão prendê-los nos estádios, ou nas praças de toiros? De resto, há um detalhe elementar chamado liberdade contratual. Ninguém é obrigado a contratar. Nem nos transportes. É difícil resolver esta coisa, sim. Evidentemente não é impossível (esta coisa podia até nem ter começado). Mas Contra Ordem não tem responsabilidades formativas da corja. E fica-se a observar. Por ora.

AQUECIMENTO

No território respira-se a acidez das situações pré-insurreccionais. E grande parte da explicação radica na conduta dos imbecis na direcção política do Estado. Se os pescadores fazem greve, logo um imbecil do governo se apressa a dizer que isso não terá relevância nenhuma. (É portanto preciso ser mais radical). Uma central sindical põe duzentas mil pessoas na rua e logo uma concertação de idiotas determina a ausência de notícia decente de tal evento (!), apesar de não haver memória de tais coisas desde o verão quente de 1975. Os empresários de camionagem e os camionistas recusam os abastecimentos e o aeroporto de Lisboa tem de ser abastecido sob escolta (!) enquanto, dois dias depois, o sistema de distribuição alimentar anuncia a iminência da ruptura de stocks (evidentemente, porque as reservas alimentares das cidades do território só aguentam três dias). Perante isto, os atrasados mentais do governo tratam a coisa como mera perturbação da ordem pública. (Obviamente, nenhuma das oposições com expressão parlamentar teria feito outra coisa). Ordem pública… Realmente houve já uma vítima da cobardia, porque um camionista decidiu não parar e passou por cima de um grevista e fê-lo, aos olhos de Contra Ordem, com a surda crueldade dos eunucos – coisa normal em satanarquia – que se apressa a gritar, na conhecida alternância da satisfação e medo, ter feito aquilo por “acidente”. Houve mais três feridos, por análogos acidentes. (A greve dos camionistas ameaça ter a mesma proporção de baixas que a guerra do Iraque). Mas o sistema de ensino também está à beira da ruptura. Como o sistema hospitalar e de saúde. A justiça está desorganizada para não funcionar e, alias, destruturada pela resistência gritante ao Direito Internacional dos Direitos do Homem. (O aparelho judicial é mero instrumento em condições de ferir qualquer homem em protesto quando isso possa ser conveniente e, portanto, também por aqui se exigindo o motim, única forma de tomar a palavra perante a recusa e perseguição da discussão). Todos os pequenos comerciantes são vítimas da ferocidade do fisco que lhes penhora arbitrariamente contas bancárias e estabelecimentos, ao ponto de ameaçar a regularidade da vida económica. As pseudo-oposições têm conexões de interesses e de família com o governo, motivo pelo qual o PS protege o líder da extrema direita parlamentar e este é irmão de um dos dirigentes da extrema esquerda parlamentar, enquanto os filhos dos velhotes do PS vão casando com as filhas dos velhotes do PSD e vice-versa, sendo uns e outros “instalados” em serviços públicos escandalosamente remunerados, depois de já os pais terem acumulado reformas de montante disparatadamente elevado. Os próprios hierarcas da Igreja dos pedómanos papistas (até estes) levantam a voz esganiçada mimetizando o protesto, não vá dar-se o caso de lhes virem a perguntar se protestaram. Muitas revoluções houve que começaram por muito menos. Não espanta que o território vá assumindo as cores de uma situação pré -insurreccional. Espanta que tenha demorado tanto. Os palermas contam com a conjunção de actividades circenses, para distrair "a plebe". Rock in Rio, Europeu de Futebol, “Santos Populares”, Jogos Olímpicos. Isso distrairá alguma coisa, pelos menos para aqueles cuja subsistência não esteja em risco imediato. Nunca será suficiente para salvar este verão. Aliás, a receita velha ensina “panem et circenses”. Só o circo, nunca chegou. Em nenhum momento. E também os protestos de rua têm efeito multiplicador. E a inteligência disponível manifesta-se em consonância.

A Raça e Kavako

O Demóstenes de Boliqueime celebrou hoje, dez de Junho, o “dia da raça”(segundo disse). Como sempre, o homem cuja obra preferida de Mozart é o Amadeus (segundo as vozes públicas), não teve dúvidas e seguramente não se enganou. "Vamos no supor" que havia raça. Qual seria?

Sunday, June 1, 2008

PARVAGAL EM TEMPO DE VÉSPERAS

Enquanto as escutas em divulgação na imprensa desbastam a (inacreditável) protecção do PS a Paulo Portas (revelando o tio da América a entrar por todos os buracos), enquanto aquele cretino jura a pés juntos que não é mação porque foi aluno dos jesuítas (!), Manuela Ferreira Leite foi eleita para presidir a um terço do PSD… Depois de, por assim dizer, derrotar os outros três atrasados mentais. O PS aninha-se na sua sonhada posição de “partido revolucionário institucional” à mexicana. E Parvagal estremece com a ideia de uma radicalização à esquerda. Seria o momento, parece, para lançar um consistente liberalismo de esquerda. Mas o país desagrega-se. O litoral tornou-se a nova zona desprotegida, porque longe da protecção do comércio e do Estado Espanhol (IVA a 16%, gasolina quase a metade do preço e tabaco que ainda se pode fumar). O inteiro Algarve faz ostensivamente compras em Espanha, como boa parte do Minho, Trás-os-Montes e toda a – antes desfavorecida – faixa interior. O sustentáculo geográfico dos conservadores, ou “centrão”. Resta a esquerda comunista ou socialista radical (nada inteligente, mas combativa) dos grandes centros urbanos a sul do Tejo. E resta a desagregação completa de um país de onde os próprios parasitas dos aparelhos político-partidários já afastam as famílias, pondo-as a bom recato. O verão será, social e economicamente, abrasador. O desemprego libertará grandes disponibilidades para a contestação de rua. E a consumação da desgraça começará a ficar clara com o cair do ano. Vamos assistir a um fenómeno relativamente raro: o falhanço absoluto de um país (inteiro) sem qualquer pressão de inimigos externos. A observação atenta do processo permitirá esclarecer vastos domínios da Teoria Geral da Estupidez. Convém, em todo o caso, que os observadores não descurem os aprovisionamentos. As reservas alimentares de Lisboa só dão para três dias, e isso, em caso de convulsão social - mais que provável – pode dificultar as observações.