Friday, December 28, 2007

MAIS OUTRO

O bispo da ICAR em Tenerife deixou os espanhóis em choque. Pôs-se a pensar. (Coitado). E achou que devia dizer. Disse então que há menores que desejam o abuso. E que a homossexualidade devia ser reprimida. (Nada como uma polícia do sexo, se bem entendemos, sobretudo entregue a bispos da ICAR, supõe-se). E depois das declarações, veio a “interpretação autêntica” em cujos termos, como é hábito, o declarante expressa não ter sido sua intenção dizer o que disse. Fraternamente exortamos os bispos da ICAR a que mantenham as nádegas dentro das calças, a língua dentro da boca própria e, se não lograrem varrer as asneiras de dentro das cabeças, ao menos evitem que tais chorrilhos saiam de tão deploráveis modos e com tal frequência. O El Mundo publica a referência e as expressivas ventas da criatura. Não é preciso mais nada. Registe-se para efeitos estatísticos.

Thursday, December 27, 2007

UNIDADE SÉRVIA

As posições sérvias unificam-se com o voto ontem expresso no Parlamento, bem além do que os próprios sérvios imaginavam possível. Estão prontos a renunciar à integração europeia e a rever posições quanto às relações a manter perante os estados que apoiem a secessão albanesa no Kossovo. Presumivelmente os sérvios deixarão o território sem energia eléctrica e desencadearão um bloqueio económico. Embora não se antevejam quaisquer acções de guerra. Mas os albaneses preparam claramente incursões militares (pelo menos) tendo sido apreendido um importante carregamento de armas. Em Tirana fala-se de um referendum que dá à pretensa independência as cores de uma anexação. A Bulgária juntou-se à comum posição da Grécia, Roménia e Chipre. E na ONU sobram inquietações, embora as forças no terreno já se tenham declarado impotentes para defender "cada casa" sérvia, significando isto, evidentemente, que nada protegerão. No Montenegro foi detectado um grupo islâmico com presumível intenção agressiva e com expressivo material informativo sobre as acções da Al Kaeda. E a Macedónia bem pode preparar-se para nova crise. A Rússia mantém inabalável a posição já tomada, a cuja luz as fronteiras actuais dos estados europeus não podem alterar-se, em nenhum caso e sob pena de crise incontrolável. Num contexto de guerra - que a Albânia fará tudo para provocar, q.e.d. - o Estado Europeu que pode produzir soldados mais baratos é Portugal. Sendo também o Estado politicamente mais frágil, é previsível que os dirigentes locais se conformem com a venda de soldados baratos (depois da mão-de obra barata oferecida pelo Ministro da Economia). Não deixa de ser significativo que a única promessa política do 25 de Abril de 74 esteja à beira do colapso. (Só a paz não tinha sido traída). Pode a oligarquia local manter-se, no contexto internacional de crise da Europa cujo esboço está a gizar-se ?

A INANIÇÃO E O DESFECHO

A população portuguesa começará a diminuir a partir de 2010, dizem eles. E em meados do século haverá menos um milhão de portugueses. Estão doidos. Se têm saído mais de 100.000 portugueses por ano (número – oficial - que pode aumentar a qualquer momento e que deve estar calculado “em baixa”) é evidente que há um milhão a menos, dez anos depois de iniciado o êxodo e não “em meados do século”. Depois, a população já diminuiu. O território está com taxa de natalidade negativa desde 1980 (em 1981/2, começaram os primeiros discursos oficiais de alarme). Vinte anos depois, o Ensino Superior sofre, em cheio, o embate da baixa de natalidade dessa época. E eles acham que a população vai baixar em meados do século (!)… Atrevem-se mesmo a dizê-lo. Imagine-se. A verdade é que os últimos trinta anos representaram, no plano demográfico, o papel de uma catástrofe. O território estava a caminho dos onze milhões de habitantes em 1974, reforçados por um milhão de regressados de África em 1975. Com esta referência, em 1990 os números acusavam uma perda de perto de três milhões de pessoas. Marrocos, com a mesma população em finais dos anos 70 (do século anterior, claro), conta hoje com trinta milhões de habitantes. (E eles dizem que a população portuguesa vai baixar em meados do século). Lisboa contava com 430.000 habitantes em 1910, hoje a mesma Lisboa (sem truques de “grande Lisboa”) conta 250.000 na última contagem (a mesma população que havia no séc. XVIII, embora haja agora menos livrarias). E eles acham que a população vai baixar em meados do século. Os números de residentes e os números de nascimentos contam hoje com o reforço da presença dos migrantes africanos e europeus, permitindo isso disfarçar - com eficácia - o problema em presença. Mas é só um disfarce. Em meados do século – se ainda houver território, Língua própria e governo próprio, o que se não dá por demonstrado - este território, como o conjunto da Península Ibérica, será uma extensão demográfica da África do Norte. Isso está mais que estudado. Mais que visto e mais que dito. (E a coisa será talvez mais intensa aqui do que nos outros sítios, porque este é o território politicamente mais frágil). Tremendo é que a vida dos autóctones melhorará previsivelmente com isso. Mesmo em caso de ocupação – que talvez não seja necessária – nenhuma potência ocupante trataria pior os autóctones do que eles são tratados pelos “poderes próprios”, da “independência nacional”. Ninguém trataria, (ou tratará) pior, porque isso não é materialmente possível. (Nem sequer concebível). A Casa Pia, por mero exemplo, seria tratada como um insulto a Deus e à Dignidade do Rei (de Marrocos, bem entendido). Nada pioraria, pela certa. Pior é impossível. E Armando Vara, Santana Lopes e até o Dias Loureiro, podem bem terminar os seus dias - embora talvez sem uma mão e, porventura, mais qualquer apêndice a menos - como muçulmanos virtuosos. (Não deve descrer-se da natureza humana). E um filho do Meneses será sulista, elitista e liberal. (E terá um cão chamado Adão e Silva e outro chamado Pedroso).

Wednesday, December 26, 2007

DELÍRIO SECURITÁRIO

USA : 2 385 213 presos. 5 035 225 sob controlo judiciário. É o balanço da acção conservadora americana em política penal. 7 420 438 de pessoas. Não estão contados os suspeitos de resistência radical islâmica em Guantánamo e nas prisões secretas. Esses ninguém sabe quantos são (nem onde estão) e tão pouco integram os números da demografia dos USA. Na China (onde há muitas razões para estremecer) não há mais de um milhão e meio de presos para um bilião de habitantes. A distinção percentual é fácil. E as condições de segurança, evidentemente, não melhoraram. Nunca melhora a segurança quando se geram vastos conjuntos de pessoas que não têm nada a perder. (Só um atrasado mental, pensará o contrário). Estes números são produto da ideia aplicada ao longo destes anos e sintetizada na fórmula “à terceira, estás fora”. (A terceira condenação penal decreta a prisão perpétua independentemente da natureza da infracção). Bem entendido, um catre na prisão sai bastante mais caro que a ocupação de uma cama de hospital. No limiar de uma mudança de fase, convém não perder de vista o balanço da fase que ora termina

Tuesday, December 25, 2007

NATAL PORTUGUÊS

Neste dia uma depressão própria das grandes catástrofes abate-se sobre as cidades do território português. Na véspera, a classe média sustentada pelos rendimentos do trabalho foi compelida a um dispêndio disparatado, augurando um mês de Janeiro longo e difícil, sob o constrangimento de um sentimento de culpa, ou inferioridade. Mas, logo após a famosa noite de sorrisos das crianças (quando as há e até isso começa a não ser frequente), a população fica privada dos lugares de convívio. Cafés e restaurantes fecham. Centros comerciais também. Tudo quanto funcionava foi abandonado. E se nos maiores centros urbanos uma parte da população tem logrado pôr-se em fuga atempadamente, isso só contribui para a imagem da cidade vazia. Parda. Mal tratada. Feia. Punida. A padralhada de Ratzinger – e o próprio Ratzinger - arengam, flácidos, repetindo as minutas quanto ao transcendente significado deste dia, feito tão desagradável como a própria presença deles. Terrível coisa. Assim se vê o peso da mal disfarçada religião de Estado. Não é um peso social. É um peso morto. E um peso que mata. Visivelmente. Como sempre aconteceu e em tudo. Até nisto. Há aqui um toque de Midas invertido. Tudo quanto tocam, fica assim.

Monday, December 24, 2007

COISAS DE VELHOS

Estamos a fechar o ano e tudo indica que outros mais ferozes anos se adivinham. A mentira adquiriu carta-de-alforria, a trafulhice sai impune, os abjurantes são premiados, os traidores aplaudidos, os subservientes obsequiados, os incompetentes promovidos. A indiferença reina. A abulia aparenta ser endémica.” (Baptista Bastos). Se a coragem, a virilidade de ânimo e o desassombro forem hoje, como parece, coisas de velhos, nenhuma solução de nenhuma crise pode hoje ser coisa de jovens.

MORREU O SUCESSOR DE MAKARIUS III

Numa Europa onde o testemunho vivido dos anos negros de 39-46 vai desaparecendo, a guerra faz-se, talvez por isso, cada vez mais presente. Numa Europa hoje dirigida por gente sem experiência vivida da necessidade da coragem como modo da prudência é sempre uma infeliz notícia o desaparecimento de mais um dos últimos anciãos. Por isso sublinhamos a morte do sucessor de Makarios III de Chipre. O Arcebispo Crisóstomo I desviou o olhar das coisas terrenas no passado dia 22 de Dezembro, após longa doença. Foi já eleito o sucessor -Crisóstomo II. Chipre é, como se sabe, terra martirizada pela ocupação turca a norte da ilha, onde as barbaridades continuam a ter curso livre. Chipre ultrapassou o território português (e de longe) no plano do desenvolvimento. Em Nicósia, um motorista de transportes públicos e uma secretária ganham o triplo do que em Lisboa.

ARMANDO VARA E O BCP

Armando Vara. Empregado de balcão. O homem, tudo ponderado, não existe. Faz lembrar a história da invenção de algumas pretensas direcções políticas de sítios a subalternizar por qualquer potência ocupante ou dominante. Vara mostra-se licenciado pela Universidade Independente (por onde mais haveria de ser, não é?) e tratou de aproveitar as oportunidades de uma Secretaria de Estado para fazer uma casita – projectada por quadros públicos e construída por sociedade “das relações” da sua Secretaria de Estado – fez aquilo por pouco mais de três mil contos e não conseguiu vender por cinquenta mil. Sampaio chegou a sobressaltar-se. (Há um professor de Sócrates de Massada na história). E foi colocado como administrador da CGD, espécie de asilo para excedentes do aparelho político-partidário em época baixa. Corre a notícia de que vai para o BCP. É a grande anedota do final de ano de 2007. Mas pronto. É normal que o espólio de um “gang” seja repartido por outro. Todavia, um Banco era – não era? - negócio com disciplinas tecnicamente exigentes. Felizmente, já nada significa coisa nenhuma. Vara também não.

Saturday, December 22, 2007

NOVA LEI DO TRABALHO: A IDIOTIA EM DEBATE

Assistimos incrédulos à selvajaria das alterações propostas e da discussão pública das alterações à Lei de Trabalho. Quem se imagina de direita vem arguir coisas repulsivas. Recorda-nos tal gente os tempos em que a classe média urbana e rural se entendia no direito de discutir e reprovar o que já tinham passado a comer as famílias operárias. A tais criaturas desafiava-os o facto da baixa classe média ter passado a comer carne (!)... Achavam um escândalo que os operários andassem nas cervejarias “a comer marisco” (durante a curta festa do consumo de 1975). Enciumavam-se com o dinheiro ganho pelos operários especializados. E com o preço do dia de trabalho atingido nos campos. Esqueciam que a sua própria mediocridade e mesquinharia traziam a ruína – mais a si próprios do que aos outros – provocando a subida dos preços do trabalho, porque a sua mesquinhez gerara a recusa da miséria, traduzida num abandono do mercado. Os migrantes portugueses procuraram lugares onde a vida fosse possível. E a mão-de-obra rareava. “Não há quem queira trabalhar”, diziam eles e elas. “Não há ninguém para fazer nada”. Pois. É com grande surpresa que assistimos ao regresso de algumas dessas palermices. (Pensávamos que esse gente já tivesse morrido, mas, afinal, parecem eternos). Querem despedir mais do que despedem, por sentirem como uma afronta a segurança no trabalho. Não há segurança no comércio. E irrita-os que “os subordinados” possam ter coisa que eles não têm. O mercado ameaça-lhes cruelmente a inépcia. E eles acham (parece) que se aguentarão melhor se puderem pagar menos, despedir mais, ter menos encargos sociais. Vimos até protestos relativamente à Segurança Social (que tocam menos a gestão da coisa, do que o principio dela). E se os deixassem prosseguir, nada sobreviveria. Nem eles (bem entendido). O horário de trabalho parece-lhes excessivo. A liberdade de trabalho parece-lhes excessiva. A liberdade sindical parece-lhes excessiva. Todavia, se bem vimos os textos, o próprio Mussolini teria passado boa parte deles pelas armas, sem a menor hesitação. E Bismark – instituidor do Seguro Social obrigatório, homem que legislou o papel dos sindicatos – vomitaria se os ouvisse. À direita tais “perspectivas” não têm lugar possível. (Bismark compreendeu perfeitamente que a Alemanha não seria possível sem a radical subalternização do estúpido conservadorismo católico, cujo abandono o próprio Franco teve de ponderar e cujo disfarce o próprio Vaticano teve de procurar; Mussolini, por seu turno, nunca foi um nacional-católico). Mas nem no liberalismo - de direita ou de esquerda- caberiam tais asneiras. Porque a mentalidade que aqui fala quer a humildade assente na servidão objectiva e aflige-a a liberdade seja de quem for. Esta gente quer o arbítrio próprio, mas sem a liberdade do outro. (Seja este outro o trabalhador, ou qualquer concorrente). E o desfecho de tal história seria o de sempre. Os ciclos da usura incomportável desencadeando a reivindicação exasperada. Seria assim, se não houvesse uma alternativa evidente: o abandono. Neste mercado imaginário de absurdos – se tal lógica pudesse vencer – ficariam, num primeiro momento, os que a ele estão presos pela miséria, pela sua irmã ignorância e pelos medos infinitos que geram. Seguir-se-ia a consumação da conquista económica do território por quaisquer empresas externas. Sem mais. Façamos deste fim, o princípio. Partamos, portanto, do desaparecimento (inevitável) desta gente que é a personificação da ruína, própria e alheia. Partamos dos significados possíveis da quebra de população (mais de nove milhões de residentes, incluído um milhão de migrantes… Menos três milhões do que em 1976 em números absolutos, porque, aí, aos onze milhões somou-se o milhão de “retornados”). Toda a análise se altera. Menos um milhão na população activa e o país deixa de funcionar. Simplesmente. (O simples abandono, em curso, dos migrantes eslavos e romenos - mais um punhado de gente do Cáucaso - é um contributo apreciável para tão difícil situação). No lugar onde está colocada, a inteira discussão é um chorrilho de disparates. Sustenta-a a ignorância dos imbecis, mascarada pelos títulos de “especialistas”. Gente que, no plano intelectual, nada escreveu, alguma vez, a merecer mais do que o lixo como destino natural. E os sindicatos trazem ao debate a respeitabilidade de apreensões legítimas. Mas nenhuma posição suficientemente lúcida.

Friday, December 21, 2007

NESTE NATAL

Dediquemos um pensamento às crianças que morrem debaixo das bombas dos que se olham como construtores da paz ou combatentes da liberdade, no Iraque ou no Afeganistão. Um pensamento às crianças que morrem de fome em zonas onde não há (e nunca houve) escassez de alimentos (como na África austral). Um pensamento às crianças (africanas ou de outros lugares) traficadas ao abrigo da pretensa assistência humanitária. Um pensamento às crianças raptadas. Às mulheres grávidas que em Belgrado receberam indicações clínicas para abortar em razão do risco de contaminação radioactiva pelas munições de urânio empobrecido. Um pensamento às famílias sérvias que preparam o seu novo êxodo do Kossovo. E uma recordação aos insurrectos húngaros de 1956 cujas filhas e netas trabalham hoje – numa pátria libertada – na “indústria” da pornografia (duzentas e cinquenta mil mulheres na Cidade de Budapeste, ou seja, quase a inteira população feminina jovem da Cidade). Um pensamento, também, para os filhos daqueles que padecem em Guantanamo, completamente excluídos da dignidade humana. E aos que, ao nosso lado, faliram – ou ficaram desempregados - em consequência de uma política económica dirigida por imbecis pretensiosos e alarves enlouquecidos. Um pensamento aos presos das cadeias portuguesas onde se morre mais do que nas turcas e, em especial, àqueles a quem o indulto foi negado neste Natal. Um pensamento aos órfãos e desvalidos, prostituídos sob tutela estatal portuguesa, na Casa Pia ou noutros lugares igualmente execrandos. E isto tendo feito, aceitemos que não pode ser tão difícil – independentemente do que se pense sobre a propriedade e a liberdade, sobre as formas de governo, sobre a justiça e a ordem, sobre as opções do desenvolvimento e as condições da Paz – não pode ser tão difícil, qualquer que seja o lugar, não pode ser tão difícil fazer melhor do que o inqualificável. Por mais difícil que seja decidir.

SEXO, VERDADE E TELEVISÃO

A Berlusconi il PUTTANIERE – como lhe chama um comentário “on-line” – não lhe agradam especialmente as confusões de géneros e de papéis. Isso entende-se. “Na RAI trabalha quem é de esquerda, ou quem se prostitui”. É cruel. Mas os portugueses conhecem menos-mal este fenómeno (que a esquerda nunca geriu bem na RTP, mesmo quando havia esquerda). Ou porque há uns desgraçados cuja vida sexual começa, parece, com a primeira promoção, ou porque há umas senhoras para quem “estas coisas” são “naturais” (e aparecem invariavelmente íntimas de quem tem a decisão ou a influência suficiente para as manter na pantalha), ou, ainda, porque a prostituição ideológica – incapaz de se confundir com qualquer evolução de opiniões – também determina sobrevivências desta natureza. A Itália não é Portugal. Mas algumas vacuidades têm consequências comuns. As mesmas causas, em circunstâncias próximas, têm efeitos parecidos. A situação aqui não está especialmente melhor, mas pelo menos vai havendo uma ou outra senhora que se vai apresentando como mulher normal. Não são, em todo o caso, quem está em maior destaque. Isso devia ser resolvido. Sem urgência. Mas alguma vez terá de resolver-se isso. A SIC notícias merece homenagem por ter trazido às emissões umas presenças femininas bastante dignas, sem tiques, sem mostrar as mamas a despropósito de quaisquer eleições e sem abanar a cabeça pintada de amarelo, entre sorrisos parvos, diante de entrevistados complacentes (a aturar-lhes discussões, muitas vezes e em tons surpreendentes). A SIC fez aqui alguma coisa. Com força de modelo. Talvez o resto se vá resolvendo por si. Quanto à fúria de Berlusconi, os links fornecem a informação suficiente. Está zangado por lhe terem escutado e publicado uma conversa telefónica. Também isso se entende. Mas na vida pública a prudência e a lucidez não são dispensáveis em nenhuma circunstância. Sobretudo em conversas telefónicas. Quanto à prostituição – sem moralismos – há seguramente sítios para isso. E fora dos serviços públicos de televisão.

Thursday, December 20, 2007

MUITO INTERESSANTE

Alguns países europeus regridem. Adoptam perspectivas de "conservadorismo autoritário". É pelo menos assim que os protagonistas gostam de se ver e os detractores concedem-no. Não vamos discutir isso agora. Sublinharemos apenas a regressão objectiva. Porque o arbítrio, como apanágio do poder, nunca foi condição de eficácia e ordem, mas, pelo contrário, ensejo de perplexidade e agravamento de todas as crises. Portugal e França são exemplos evidentes. O primeiro por cópia do segundo, naturalmente. A Alemanha, apesar de tudo, não é tão instável. O Direito não entra facilmente em crise. E sobretudo não é abandonado, como em Portugal. Em França é excessivamente alterado. Mas em Portugal o Direito positivado está longe de estar adquirido, como toda a gente sabe e todos os dias vai experimentando em todos os sectores. Há alterações excessivas, também. Mas nem se percebe para quê, porque o arbítrio é sempre a regra. Pois enquanto as coisas assim se passam, por cá, os americanos preparam a nova fase. Vêm aí dez anos de liberalismo político. (Com um peso de disparates por resolver na política externa que arrepia). E, na periferia, os direitos dos cidadãos começam a ascender ao estatuto de evidência. A América Latina tem sido um exemplo interessante. (A própria Turquia e os novos membros da UE, têm também trazido surpresas muito agradáveis no plano legislativo, como a Roménia, por exemplo). Mas – ao contrário do que se supunha - as hierarquias dos tribunais não estão a opor resistência. No Brasil, o Supremo Tribunal de Justiça acaba de impor aos juízes – literalmente - que recebam os advogados. Por cá, como se sabe, há muito esta história do escrivão dizer –“o sr. dr. Juiz não recebe advogados”. E isto é assim além de toda a razoabilidade. (Há uma dimensão razoável na renitência dos magistrados; por exemplo, pode não ser evidente receber apenas um dos advogados, ao invés de receber simultaneamente todos os advogados de um processo, mas isso não se expressa na fórmula acima citada). No Brasil, pelos vistos também era assim. E convindo embora que se não caia na falta de razoabilidade contrária, aqui está uma notícia interessante.

Wednesday, December 19, 2007

NO OLHO… ELECTRÓNICO

Um simpático protesto de Baptista Bastos contra o sempre vigilante olho electrónico. Solidarizamo-nos. É preciso sublinhar que tais olhos têm tido muito pouca utilidade no plano da repressão ao crime. (Pelo menos em Portugal). Que andarão aquelas coisas a filmar por cá? A título informativo Contra Ordem esclarece que na Cidade Guardada de Deus de Belgrado ainda se pode sair à rua e passear de noite sem ter estes incómodos. Quanto à “segurança”, que tão indiscreta se vai tornando, bem podemos dar-lhe no… olho electrónico. Onde quer que haja uma lente convexa filmando, devemos fazê-la depositária dessa veemente atitude. O palavrão tem a utilidade de um velho exorcismo. E este é o momento de o usar. (Não há motivo para ser mais delicado que a indelicadeza tão grosseira de tais vigilâncias). Achamos especialmente interessante essas câmaras, nos corredores dos tribunais, filmando (e ao que dizem os avisos) gravando as conversas de advogados e constituintes. É dar-lhes com um chorrilho de palavrões em voz suficiente, a ver se eles depois usam a prova (proibida) ou não. Também nestas coisas é necessária alguma energia.

FIND MADDIE: E SE ELES FOSSEM PRESOS?

Em Dezembro a Polícia Portuguesa pede ao FBI o estudo de imagens pouco nítidas de vídeo vigilância. Porque um dos vultos dessas imagens aparentava semelhanças com o vulto descrito por uma das testemunhas. É inconcebível, isto. O rapto da criança ocorreu em Maio e as imagens sempre lá estiveram. Gerry McCann acusa a polícia portuguesa de ter manipulado os cães há três meses atrás. (Tudo é visivelmente possível). Mas é imprescindível saber o significado disto. Porque isto traduz, à primeira vista, uma de duas hipóteses explicativas. A primeira é a protecção objectiva dos raptores pela polícia. A segunda, uma inépcia que ronda a oligofrenia. Mas há duas coisas esclarecidas. A primeira equipa de “investigadores” (passe a expressão) estava pronunciada por tortura e cumplicidade com a tortura. E foi publicamente apoiada nas suas ânsias de perseguição pessoal aos McCann por Moita Flores e pelo Anes da casa do sino rachado. E a entrada das pseudo-maçonarias nisto (e uma entrada nestes termos), as pseudo maçonarias da “moderna” e da “independente” (se mais não houvesse, como certamente há) é uma nova razão de suspeita. O melhor era aplicar-lhes a receita deles próprios: prendê-los preventivamente por um ano e meio (pelo menos)… para investigar.

Tuesday, December 18, 2007

LIBERDADE DE EXPRESSÃO: PORTUGAL E A BLOGOSFERA

O Rui Costa com um blog de informática no planetgeek (http://planetgeek.org/) fez um concurso para o melhor blog português de 2007. O vencedor da votação foi imediatamente classificado como uma “merda” em várias reacções “on line”. Apresentou desculpas por ter ganho um concurso que não suscitou e onde não teve intervenção. Com longas explicações. Que português isto é. (Tudo isto). Mas com explicações, ou sem elas, os resultados são interessantes. Passados ao crivo do BlogScope, os resultados são (então) muito curiosos quanto aos índices de popularidade. E a análise de conteúdo também é interessante. Quanto aos índices de popularidade do BlogScope, o Bitaites apresenta resultados que não parecem brilhantes. O conteúdo é tematicamente disperso - define-se como generalista e mostra-se atento às artes com as tónicas da sua geração - atravessado aqui e ali pelas preocupações comuns a todos os outros no plano da crítica política, muito cingida à crítica dos factos. Ou a um genérico sarcasmo. (Uma velha opção conservadora, para quem não esteja bem recordado). Em nenhum dos outros blogs se opõe, no âmbito de tais preocupações, outra ideia do Direito ou do Estado. Este concurso revela elementos importantes. Há um cansaço dos leitores que vai coincidindo no calendário. Outubro/2007 foi um mês razoável para todos. Dezembro um mau mês para todos, de acordo com o BlogScope. Mas para além disso, parece-nos haver, apesar de tudo, na liberdade de expressão assim exercida, um contágio relativamente evidente da vacuidade intelectual do país. País de pouco e mau teatro. Pouco e (muitas vezes) mau cinema. País sem vida literária digna. País sem temporadas musicais consistentes. País sem dinâmica ensaística regular. Sem vida científica que a opinião pública possa notar. Sem escolas dignas do nome. Sem debate político. Sem debate jurídico. Sem debate filosófico. É compreensível que haja aqui e apenas uma expressão de mal-estar. Multiplicada como em espelhos paralelos. Mas – e sem nenhuma hostilidade o dizemos – está ausente qualquer ideia de Contra Ordem. E sem uma tal ideia – expressa, ou solidamente implícita - é até difícil julgar os factos. Não será?... Certo, a estupidez é universalmente detectável (e na conduta institucional portuguesa ela é a regra). Mas a nossa blogosfera está ainda (globalmente falando) a sofrer o mal-estar e a expressar esse sofrimento. O salto virá quando esta nossa gente passar a exercer o que hoje sofre. Não vimos, por exemplo, (e isso é surpreendente) nenhuma manifestação de solidariedade para com o magnífico autor do blog “do Portugal profundo”, homem de coragem assinalável e submetido a uma pressão aterradora. (Absolutamente intolerável). É preciso passar da repulsa ao projecto. Do sarcasmo ao pensamento. Da dureza sofrida à dureza exercida. Mas tudo tem um início. Estes inícios são sempre a repulsa e a dor. Isto o expressa bem a blogosfera. Aqui, as vozes do sistema fazem-se ouvir a custo. Pacheco Pereira tem recebido um belíssimo tratamento, por exemplo. Rebelo de Sousa não tem ecos. Os anónimos são mais lidos e mais ouvidos. E infinitamente mais interessantes que a expressão da “inteligência oficial”. E os blogs portugueses permitem e trazem o diálogo com o Brasil. (Missão que a imprensa portuguesa não cumpre, nem de longe). A seguir transcrevemos os resultados do concurso. Passem-nos ao BlogScope. E vejam se as vossas conclusões coincidem com as nossas.

1º. Bitaites (http://bitaites.org/) 2º. Há Vida em Markl (http://havidaemmarkl.blogs.sapo.pt/) 3º. 31 da Armada (http://31daarmada.blogs.sapo.pt) 4º. Obvious (http://blog.uncovering.org) 5º. Peopleware (http://www.pplware.com) 6º. Os Dias Úteis (http://osdiasuteis.blogs.sapo.pt) 7º. Blasfémias (http://ablasfemia.blogspot.com) 8º. Bola na Área (http://bolanaarea.blogspot.com) 9º. Reflexões de Um Cão Com Pulgas (http://caoepulgas.blogspot.com) 10º. Arrastão (http://arrastao.weblog.com.pt) 11º. O Insurgente (http://oinsurgente.org) 12º. O Corta Fitas (http://corta-fitas.blogspot.com) 13º. A Causa Foi Modificada (http://acausafoimodificada.blogs.sapo.pt) 14º. Do Portugal Profundo (http://doportugalprofundo.blogspot.com) 15º. Ponto Media (http://ciberjornalismo.com/pontomedia) 16º. Zero de Conduta (http://zerodeconduta.blogspot.com) 17º. Arcebispo de Cantuária (http://arcebispodecantuaria.blogs.sapo.pt) 18º. Abrupto (http://abrupto.blogspot.com)

Monday, December 17, 2007

COMEÇAM A VER

Degradação das Ordens. Por uma vez o Neves tem razão.

VIVA A DÁCIA!

A Roménia sorri diante das seis medalhas dos seus pimpolhos, nas olimpíadas internacionais das ciências. Contra-Ordem associa-se aos festejos. Isto de ter os miúdos com as cabecinhas a funcionar bem é uma bênção. É importante melhorar as médias. Mas tão importante como isso é ter (sempre) gente acima de todas as médias. Ao novo orgulho dos Cárpatos: hurrah! hurrah! hurrah!

ORDEM E CONTRA-ORDEM

O Sociólogo Michael Woodiwiss tem deixado claras as coisas. Há utilidade política directa do sub-mundo. Noutros termos, o sub-mundo é zona de actividade política do sistema e gera directamente recursos para os projectos políticos dos aparelhos já no poder. Os casos estudados implicam directamente a CIA. Infelizmente, porém, estas coisas “democratizam-se” sempre. Há uma importância política desproporcionada no estudo da temática do crime organizado. O controlo orçamental estrito tem exigido “imaginação” para obter as verbas com as quais se financiaram as guerras civis na América Latina (S. Salvador e Nicarágua, por exemplo), ou, mais perto de nós, as “revoluções” laranja e rosa da Ucrânia e Geórgia, pelas quais se defendem interesses financeiros e agenciamentos políticos ainda mal enraízados. Essa “imaginação” salda-se no tráfico das coisas mais diversas e na aparição de uma gente crescida em clima onde a vida humana não tem qualquer valor. Entre os custos marginais de tal “imaginação” surgem os temíveis exércitos de sombra, na maior parte das vezes compostos por crianças. O nível de risco da vida quotidiana não dá sequer tempo para acabar de crescer. Os sobreviventes acabam às vezes nas zonas degradadas de Nova Iorque, ou sítios equiparados. Já chegou a Lisboa o nome de um desses fenómenos. Os “mau-mau”. “Mau-mau” é hoje termo vulgar para designar um vulgaríssimo chulo lisboeta, cheio de séries americanas de TV. A apresentar-se como “segurança”. E vivendo da exploração de algumas prostitutas e de um ou outro frete, na porta de uma ou outra discoteca. (A natureza dos fretes está a evoluir). O negócio é rentável. Há polícias que não o desdenham. Polícias que cometem a imprudência de o explorar directamente, i.e. sem a coordenação de quem tem a licença funcional para delinquir. Os primeiros não estão bem protegidos. Os segundos, sim. A crónica ineficácia da polícia autóctone, a sua violência fácil, como a sua imprestabilidade genérica para o que quer que seja, parecem explicar-se por isto, por esta duplicidade boa parte das vezes evidente e aparentemente generalizada, do papel (excessivamente frequente) dos polícias. Tanto mais que em terra sem liberdade de expressão, como esta, qualquer “juiz de instrução” protege funcionalmente tais fenómenos (perseguindo qualquer discussão pública) com uma “pronúncia automática” por injúria, ou difamação (protecção onde não há dolo específico, mas eles dispensam-no ali e nós dispensamo-lo aqui, aliás apoiados na jurisprudência de Estrasburgo, bastando-nos a aptidão genérica e objectiva da conduta para gerar o efeito, de resto verificado; sim, é um crime de perigo a nossos olhos). E se o advogado de defesa vier mesmo defender o jornalista – cometendo a ousadia de invocar o Direito – lá estão, nos casos menos graves, os rafeiros da "Ordem dos Advogados" a invocar o dever de urbanidade. Estão prontos a defender – contra qualquer crítica, ou contra qualquer indagação de advogado em tribunal – quaisquer agentes de quaisquer horrores. Os chulos não estão excluídos. Nem os proxenetas. (Compreendendo os proxenetas de órfãos sob tutela estatal e respectivos clientes). Todos os tráficos estão também incluídos na protecção. E essas defesas – saldadas na perseguição aos advogados que afrontem os interesses subjacentes – são um modo de vida. O processo Casa Pia deu disto um exemplo bastante evidente, também no que à Ordem dos Advogados respeita. Com intervenções públicas de Júdice. E muitas intervenções, muito privadas. (Muitíssimo privadas). Tais criaturas são remuneradas por isso. Foram recrutadas no lunpen. Evidentemente. E até trazem penduradas às braguilhas umas “garinas”, completamente analfabetas, licenciadas por uma qualquer Independente, a sustentar pelas quotizações dos advogados. Mas os juízes de instrução das “pronúncias automáticas” e os juízes criminais das “condenações automáticas” também são remunerados. Os desembargadores da “jurisprudência dominante”, também. (Deviam devolver o dinheiro, não era? E há modo de o exigir…é só uma questão de perseverança e algum tempo). Os procuradores também são remunerados por actividade próxima, mas não têm poder de decisão. Pagam-lhes mais para ladrar que para morder. São alvos menores, do ponto de vista político. Nenhum Estado alguma vez conseguiu reprimir a liberdade de expressão sem cair na abjecção, que é o próprio modo de tais repressões. Aqui não é diferente. (Porque haveria de sê-lo?) … Ora todas estas coisas saltam, por associação, quando os federastas da União Europeia, em vénia diante dos USA, se apresentam a viabilizar a independência de um novo bantustão do crime, desta vez na Europa. Sustentando a actuação necessária, à boca de cena, por figuras de quinto plano (como Barroso, ou o licenciado Sócrates), porque nenhuma figura de primeiro plano aceita, apesar de tudo, tais desempenhos. O novo bantustão do crime é o Kossovo. E é exactamente disso que se trata. Uma nova plataforma giratória para os tráficos “necessários”. Mais perto dos mercados. E mais perto das “ novas zonas de intervenção” numa estratégia (violenta) de ataque a Leste. Talvez consigam algum êxito. E talvez não. Os homens de Putin parecem perfeitamente aptos a travar tal fenómeno. Ou a devolvê-lo à procedência. (E dispõem da imensa vantagem de ser gente que ama a sua terra). Mas isso devolverá às populações da Europa Ocidental o problema político da passividade própria.

Sunday, December 16, 2007

OS FEDERASTAS E O KOSSOVO

A União Europeia está em plano inclinado com a questão do Kossovo. Atirada pelos USA para a hostilização da Rússia, ouviu com surpresa a debilitada mas firme Sérvia afirmar, formalmente, que a eventual candidatura à União não se fará a qualquer preço. E certamente não àquele preço. Ainda não perceberam bem, estes, o povo que cantava e dançava nas ruas durante os criminosos bombardeamentos de 1999 (com os quais se encheu de urânio o Danúbio). Ainda não perceberam bem o povo que celebrou a Páscoa debaixo das bombas da OTAN e em todas as Catedrais e Igrejas, sem excepção, sem que um só bispo, ou um só sacerdote, tenham faltado, sem que um só leigo (que se conheça) tenha deixado de se unir à afirmação litúrgica da vitória sobre a morte. E a Rússia não está na posição de 1999. Nem voltará a estar. Eles também não perceberam isso. A OTAN condiciona a sua intervenção futura a um quadro formal do Conselho de Segurança, que este não dará. (Em 1999 também não o deu). E por menos confiança que inspire a exigência da legalidade por parte da OTAN para uma intervenção futura, o certo é que os Estados da União Europeia talvez tenham de inventar outras fontes de abastecimento de combustível, para intervir militarmente sem o Conselho de Segurança e contra a posição russa. Falta sublinhar que a província sérvia do Kossovo onde os albaneses viviam melhor que na Albânia, apresenta hoje taxas (oficiais) de desemprego a passar os 75%. É o segredo das manifestações albanesas de massas. E aquele território é um exemplo de racismo e limpeza étnica consumada e sob patrocínio da ONU. Ao mesmo tempo que os últimos burlões apontam ainda o pretenso racismo sérvio (sendo a Sérvia o único estado pacificamente multi-étnico da região). Ninguém fala também dos mais de vinte por cento dos albaneses do Kossovo, cristãos ortodoxos da Igreja da Albânia (em comunhão plena com a Igreja Sérvia). Em todo o caso, a pretendida independência é economicamente e politicamente inviável. Embora nela estejam interessadas todas as máfias locais e só elas. Tal concretização jamais resistiria a um simples encerramento de fronteiras decidido por Belgrado. Aquilo é outro inferno sobre a terra. O poder é tribal. No comércio, traficam-se estupefacientes e pessoas. A própria unidade da Língua regrediu (tal unidade é um artifício universitário, porque a Língua Albanesa nunca existiu). As potências externas subsidiam ainda aquilo, mas com esses subsídios lançam o crime kossovar nos territórios da Europa, segundo os lamentos das respectivas polícias. E o mais provável é que, no espaço da antiga Jugoslávia, as secessões provocadas pela pressão externa acabem por se traduzir – a médio ou longo prazo – em quatro territórios sérvios federados, não estando ainda esclarecida a amplitude dessa Federação, de cujo horizonte não pode excluir-se uma Confederação com a Rússia. Os sérvios têm percebido bem, ultimamente, o sentido de uma velha frase oitocentista onde se dizia, “antes o chicote russo que a liberdade alemã”. Ora o chicote russo está, ao que parece, outra vez pronto a estalar sobre tal pretensa liberdade (já nem sequer muito alemã). A União Europeia perdeu todas as oportunidades com a Turquia. E insiste em perder, com a Sérvia, um aliado tradicional na região com o qual nem a Grécia, nem Chipre, nem os romenos, nem os russos – nem o Contra Ordem – quebrarão alguma vez os laços de amizade fraterna. A aproximação chinesa à Sérvia também não regredirá presumivelmente. A União Europeia pode impor a desgraça ao Kossovo. Mas corre o risco de inviabilizar, a curto prazo, qualquer simpatia pelos seus interesses por parte das nações mais importantes da península balcânica. Sem poder propiciar a repetição fácil e sem resposta do bombardeamento pela OTAN do Hospital Materno Infantil de Belgrado, ou o da Embaixada Chinesa na mesma Cidade. Sempre se dirá que é uma experiência inolvidável ter notícias de uma amiga por a ver, na televisão, (viva ainda, mas a morrer de medo) diante de um buraco de bomba e entre chamas… na maternidade de Belgrado, onde acabara de nascer o seu filho. Talvez os netos do licenciado Sócrates, de Guterres, ou Barroso, possam vir a ter a oportunidade de nascer assim. (Paulo Portas, não tem filhos e não pode, portanto, sequer, entender a angústia de os perder, ou a dor de os ter perdido, tão estupidamente). Os Federastas - como dizem alguns radicais portugueses e com muita graça - estão em risco iminente de perder definitivamente os sorrisos néscios. Federastas. Subscrevemos a expressão. É perfeita. E conjuremos a morte de tais sorrisos. É urgente.

Saturday, December 15, 2007

SEGURANÇA À PORTUGUESA

Em Portugal - descontando agora os demais mortos das redes bombistas - um primeiro ministro e dois ministros da defesa tiveram morte violenta e não aconteceu nada. Morreram nos últimos seis meses uns seis alarves - que também são gente, é verdade - e não aconteceu nada. E para que, ao menos, alguma coisa se saiba, ou alguma coisa se faça, o PGR nomeou uma equipa especial de investigação à morte dos seis alarves, porque o primeiro ministro e os ministros da defesa passaram à categoria dos mistérios da História. A intervenção do PGR trouxe a tragédia. A Polícia ficou ofendida. (!)... O MP ficou ofendido. O presidente Cavaco veio fazer declarações. (Há aqui um qualquer problema de escala que nos está a escapar). Depois, para devolver o sentimento de segurança, ao que dizem, largaram quinhentos polícias nas ruas do Porto, que isto não há como um clima de estado de sítio para as pessoas se encherem de sentimentos de beatífica tranquilidade. Estaremos a ver bem? A polícia é o ópio do povo?

ENTRA O CÓMICO NA TRAGÉDIA

A disfonia de Cavaco voltou a fazer-se ouvir. Pede às polícias que devolvam o sentimento de segurança à população. Isso poderia realmente fazer-se. Mas distribuindo postos de administração endovenosa de morfina, por exemplo. Quanto está em causa é, segundo o presidente, não tanto a segurança, mas o sentimento. E além disso, o sossego. Tragam a morfina, portanto. Estas intervenções presidenciais apresentam o eterno problema da vida institucional portuguesa. Os economistas entendem isso bem: é a relação qualidade-preço. Focando a coisa com maior exactidão, a Presidência da República Portuguesa é, anualmente, quinze milhões e quatrocentos mil euros mais cara que a Casa dos Grão-Duques do Luxemburgo. Custa o dobro do que a Casa do Rei de Espanha e a ordem de grandeza mantém-se face à Casa do Rei dos Belgas. A Família Real Britânica inteira sai mais barata que um único Cavaco Silva (e em quase um milhão de euros por ano). Ora, com a provável excepção de SM a Rainha Isabel II (porque o terceiro sexo são as inglesas velhas), todos os outros ganham no design. Como no timbre. E todos, sem excepção, na sensatez. Quando falam, faz algum sentido o que dizem. O presidente Sampaio foi um Thomaz (ml). Um corta fitas, à excepção do caso de Santana Lopes onde foi, finalmente, um corta vazas. Mas o presidente Cavaco corre o risco de protagonizar uma restauração integral do perfil do Almirante Thomaz. Em breve rebentarão as anedotas que o tenham por “herói”. Talvez um pouco mais impiedosas, agora, que a designação do seu concerto preferido de Motzart e este era - segundo a anedota, a correr como história verídica - “o Amadeus”, de acordo com as palavras que lhe são atribuídas.

Friday, December 14, 2007

TERRA HORRENDA

A Europa dá a Portugal a importância que Portugal dá a Monchique. Território tribal, para todos os efeitos. Escandaloso, quando se olha melhor. Monchique é uma parte do paraíso tomada pelos demónios. Perdeu três quartos da população. (Satanael é inimigo da vida humana). O concelho mostra-se chacinado pela brutalidade. Exibe a lindíssima serra esventrada onde se arrancam blocos de pedra cinzento e rosa, parecida com o granito, mas excessivamente frágil a não ser para utilização ornamental interior. A extracção faz-se diante de casas e pequenas herdades camponesas, cujos ocupantes devem ter morrido asfixiados pelo pó. Nas encostas há vazadouros de lixo. E restaurantes vazios à espera dos turistas que as hão-de subir, no verão, para ver a paisagem assombrosa. Um milagre até agora repetido e assente nas indicações de folheto. As ribeiras usam-se como esgotos das criações de porcos, correndo a céu aberto para Portimão. A Escola tem coberturas degradadas de amianto, talvez para as crianças não durarem muito. Já só há trezentas, vindas de todo o concelho e não só da Vila. Devem ser demais, mesmo assim. Mas a redução constante da população fará com que venham a morrer anónimos e longe. Terra de velhos e parvos, aquilo. Dos parvos trata a Caixa Geral de Depósitos, tanto quanto parece. Dos velhos, ocupa-se (mal) o Município, que é como quem diz, o presidente Tuta. E o tribunal, que em nada destoa do horrendo cenário. O régulo investe no Brasil, como a EDP (supondo-se que tais investimentos não hão-de compor-se das verbas do magro salário de Presidente da Câmara). A vila já não tem população para ser Município. Nem futuro. Stanley Ho tomou as termas, no fundo de um estreito vale de águas inquinadas (mas tratadas, para tal efeito). Percorrem-se ruas inteiras de casas abandonadas. E potentíssimos radares militares, unidos às antenas emissoras de telefone sem fios, irradiam a população que sobra. Tuta é um velho bronco a sentir-se invulnerável na sua voz de sargento, debitando frases feitas. Algumas coisas lembram ali, com força, algumas páginas de Jorge Amado e até de Ferreira de Castro. Com algumas imagens de Felini. O país também. Mas ponderada a existência da Casa Pia, ocorrem ainda umas cenas de Pasolini. (Bem entendido). A Europa dá a isto a importância que isto dá àquilo. Quem tiver pernas para andar que se mude. Em Monchique restam alguns velhos, paupérrimos e abandonados nas encostas e entre montes, falando num sotaque mouro e esquecido, de vogais surdas com conjugações erradas. Destilam clandestinamente a sua óptima aguardente de medronho, estremecendo à recordação da malevolência do Tuta, temendo a guarda e o juiz da vila que vivem felizes por se sentirem temidos. Um magala da GNR dá informações a quem passa, com o sobrolho levantado. Também ele se sente importante, em lugar sem importância nenhuma. (Nem o despropósito da cena vale telefonema ao comandante de companhia). O país inteiro é uma colecção sem qualquer interesse destas gentes tremendas, em terras que conseguem fazer pavorosas, nuns cenários de paraíso. (Sodoma e Gomorra ficavam também em lugares lindíssimos).

Wednesday, December 12, 2007

PORTUGAL, A CORRUPÇÃO, AS OPINIÕES E AS PESSOAS

Tranparency Internacional 2007. Há mais portugueses que tailandeses a acharem que o sistema judicial do seu país é corrupto. (A verdade porém é que os portugueses ainda não sabem da missa a metade e essa é uma das vantagens das restrições à imprensa pela ameaça permanente dos pretensos crimes de "injúria" e de "informação tendenciosa"). Há mais portugueses do que sul-africanos a entender o mesmo. Mais portugueses do que malaios e - evidentemente - muito mais portugueses que cidadãos de Singapura. Estamos nisto ao nível das opiniões dos cidadãos da Colômbia e das Filipinas. Ligeiramente ultrapassados, mas só ligeiramente, pelos cidadãos do Kossovo (!)... O Kossovo. Isto revela uma utilidade inesperada da independência de um estado nado-morto. Uma ficção de Estado na Europa com a qual Portugal pode enfim comparar-se em vantagem clara. (Embora não necessariamente com grande vantagem). Sessenta e quatro por cento dos portugueses inquiridos esperam que a corrupção se agrave nos próximos três anos. Realistas, portanto. Mas subiste um elevado índice de confiança no sistema, porque ainda há vinte por cento de inquiridos a esperarem a baixa de tão sinistros índices. Mas sessenta e quatro por cento dos cidadãos estão já cientes que o Estado - e os seus infindáveis parasitas - é o principal problema do país. Isto, numa terra onde a imprensa está sob pressão cerrada - e onde toda a gente fala por meias palavras, onde todos os temas são "melindrosos" - é definitivamente alguma coisa.

A IMPRENSA PORTUGUESA NO MUNDO

Um bom indicativo da presença de Portugal no mundo é seguramente dado pela relevância da sua imprensa “on line”. Ora os jornais portugueses teoricamente mais relevantes, escondem-se. Uns no clix. Outros no sapo. Na primeira estão o Expresso, o Público e o Sol. Na segunda o Jornal de Notícias e o Diário de Notícias. A interposição dos números destes portais vicia, parece, o “traffic ranking” destas publicações. São publicações escondidas. Em todo o caso, nenhuma está nos 500 primeiros lugares. O Le Monde, sim. O El mundo, também. E o Globo, evidentemente. Examinado o alexa – bom e muito utilizado instrumento de observação destas coisas – os números são desanimadores. O desprestígio da imprensa portuguesa é planetário. O Jornal de Negócios safa-se com uma menção honrosa, conseguindo estar presente nos primeiros vinte e cinco mil sites. E o Correio da Manhã, nos primeiros vinte mil. As comunidades portuguesas mantêm consultas frequentes destes sites, pelos vistos. Mas enquanto no espaço da Língua Castelhana as publicações espanholas preservam uma clara posição de referência, já no espaço da Língua Portuguesa a imprensa local não revela qualquer importância, aparecendo ao nível das publicações de menor relevância (deste ponto de vista). O El mundo não é um jornal “popularucho” (longe disso) e apresenta-se no ranking mundial em 338º lugar. A presença espanhola bate-se portanto - e muito bem - com os vastos espaços culturais das Línguas do Oriente, como o Árabe e o Chinês (por exemplo), batendo-se igualmente bem com os vastos ecos da imprensa de Língua Inglesa e Francesa. É pois razoável dizer que, no território português, imprensa autóctone partilha do profundo desprestígio do Estado da Casa Pia – entre outras máfias - aos olhos da sua população. Mas, no mundo, é ignorada pela sua vacuidade. Tal imprensa está marcada pela mediocridade, pela ausência de liberdade de iniciativa (e de palavra), vivendo sem polémicas, sem cultura, sem ecos suficientes ou consistentes da vida científica, sem análise penetrante – ou sequer útil - das relações internacionais, sem notícia de vida editorial e intelectual própria – porque não existe, evidentemente – esta imprensa vive, no mundo, da boa vontade e nostalgia dos portugueses do exterior. Mas não traduz nenhuma afirmação cultural própria e é por isso dispensável a todos os outros olhos. Mesmo do ponto de vista noticioso. O caso Maddie deu-nos um bom exemplo, com a imprensa inglesa a portar-se como sempre se portou, dizendo quanto via e com toda a clareza. Mas a imprensa portuguesa (sempre sob a pressão da pretensa injúria na comunicação social) reduzia-se ao papel de porta-voz da polícia, apelando até para um nacionalismo gasto, ao abrigo do qual teríamos de incluir tais criaturas, em concreto consideradas, na fórmula do “tão bons como os melhores”. Isso não é simplesmente verdade. Uma polícia que vive da violência, de resto, "não precisa" da técnica. Como “os políticos” que vivem da intriga e da propaganda não precisam do debate (que aliás temem). Há quanto tempo não acaba esta gente um livro? E qual foi o último título que leram estas prodigiosas criaturas? A imprensa portuguesa – mero reflexo disto - é tão inútil aos portugueses, como o é para quaisquer outros. Não obstante, faz ainda algumas coisas, claro. Todos nós vamos estando vivos, apesar de tudo e por enquanto. A imprensa também. Mas isto que fique claro: só há duas condições para as ideias aparecerem – a vitalidade própria e a liberdade. Em regra é quanto falta nas terras onde nenhuma ideia interpela ninguém. No mundo, porém, a vitalidade intelectual é, ainda, o primeiro instrumento de sedução. Nem sequer são raros os pequenos países, ou países muito subalternizados, só amados e só respeitados pela presença dos seus homens de cultura. E para isso não bastam os títulos de universidades medíocres. São mesmo necessárias as ideias. E a liberdade de as enunciar. É inútil falar em tolerância numa terra de gente sem ideias. Onde esse vazio existe, ele traduz, além de todas as fórmulas e formalidades vazias, uma opressão materialmente efectiva. Mas há os blogs, claro. E entre estes, os novos clandestinos - como Contra Ordem, justamente - mas isso é outra história. E uma história interessante. Até porque também há instrumentos de medida e estes trazem elementos tão notórios como notáveis.

Tuesday, December 11, 2007

ORDEM DOS ADVOGADOS: JÚDICE PERSEGUIDO PELOS SEUS SERVOS

Hegel já o tinha dito e a coisa raramente falha. Tratemos de ver a coisa em prática. Onde há um Júdice, há um Alves. Onde há um Júdice há um Pinto. Ora o Pinto médio e o Alves médio são os braços da tenaz que os Júdices montam para que os sirvam. Que os Júdices montam para perseguir outros. Para aterrorizar outros. Mas os outros estão mais longe. O modelo dos servos dos Júdices, as aspirações dos servos dos Júdices, são os Júdices. Os Alves querem ser como os Júdices têm sido. E delegando nos servos o sórdido de que as suas vidas são feitas, os Júdices perdem as chaves da segurança da sua própria existência. Júdice montou o terror contra a liberdade de palavra dos advogados. Instituiu a censura na Ordem dos Advogados. Menosprezou os advogados liberais. Montou os instrumentos da perseguição destes por concorrência desleal. (Cuidando, pelo terror, que não pudessem reagir em debate público) E agora pretende fazer uso das liberdades de que todos gozavam até ao seu alçamento como Bastonário do caso Casa Pia. Os servos que desaçaimou perseguem-no.(Um Júdice deve ser tratado com o léxico de Aquilino). Assenhoream-se do seu espólio. Querem eliminá-lo. Chama-se isto, dialéctica do senhor e do escravo. Talvez os fabricantes de helicópteros e submarinos o socorram. Rogério Alves (o ainda bastonário, como a SIC lhe chama) não gostou que Júdice chamasse bando à sua matilha de mandíbulas careadas e anunciou a instauração de outro processo disciplinar contra Júdice (na ainda Ordem). Júdice, o príncipe vândalo, não tem sequer um Belissário a quem peça a lira para cantar chorando tais dores. Contentar-se-á com a Quinta das Lágrimas? A Hotelaria é aliás campo dos seus maiores êxitos empresariais, sendo de supor que aí terá sempre um radiante futuro. Talvez José António Barreiros o salve, porque tudo é possível. E o novo Conselho Superior entra em funções daqui a um mês. "Lutas intestinas", diz alguém de tudo isto. Não pode haver outras lutas na ainda Ordem dos Advogados. Tudo aquilo é intestino. Nada ali é mais do que intestino. Canceroso, para cúmulo.

Monday, December 10, 2007

GUERRA DESENFREADA A MARINHO PINTO

Abriu a caça ao bastonário eleito. José Miguel Júdice (criatura execranda para muitos e também a nossos olhos) não lhe perdoa o êxito. Lança contra ele o alarme das exclusões futuras. Logo Júdice. O arquitecto das exclusões presentes. Continua a falar do “seu” Estatuto. Como se aquilo fosse mais do que uma série de barbaridades. Diz que o outro provocará queixas na Comissão Europeia por violação da concorrência e ignora as que estão a entrar contra a estrutura que ele montou. O que se perdeu com Marinho Pinto foi o projecto de uma Direcção Geral da Advocacia, com controlo político estreito. Com comissões de censura. Com corpos de polícia especial (política, sim e com todos os tiques de PIDE, compreendendo a difamação de advogados em pretensos processos disciplinares). Porque essa projectada Direcção Geral era um socorro, talvez não de todas as máfias, mas seguramente das máfias rentáveis. Muitas delas representadas nos corpos de polícia. As do Futebol e da Casa Pia estavam claramente lá. Como as facções da Casa do Sino e a execranda Opus. Ali Júdice pôde enfim experimentar o poder que sempre lhe fugiu. Porque Júdice é uma colecção de fracassos. A vida partidária fechou-lhe todas as portas, com excepção dos negócios. A vida universitária travou-lhe o passo (não passou de assistente). A vida profissional consentiu-lhe uma multidão de contratados que trabalham por ele (no plano técnico) e para ele (no plano empresarial) reservando-lhe o seu papel preferido: relações públicas. (Isto não é um desempenho de advogado, todavia). Fracassou também na imprensa, onde o peso das minutas lhe fez produzir umas estopadas, nas quais nenhum editor viu interesse. Na Ordem, a polícia política por si erigida para os outros, feriu-o a ele antes de lograr a eliminação de qualquer outro. Mas Júdice não se cura do ressentimento. E com a caça a Marinho Pinto – com a qual talvez consiga desgastar precocemente o bastonário eleito – viola uma das regras mais velhas do pragmatismo na vida pública: quem ascende não se hostiliza, integra-se. Marinho Pinto está pronto (como sempre esteve) para a integração. Nunca foi detectado como ameaça para nenhum interesse instalado e, portanto, nunca teve nenhum processo disciplinar, coisa que diz com camponesa ingenuidade e orgulho de funcionário administrativo. Está pronto a usar o Estatuto Júdice e a acolher a polícia política de José Miguel Júdice. Nunca lhe ouviram (lembra ele, como se fosse preciso) uma palavra de recusa dirigida às comissões de censura da Ordem. Marinho Pinto está pronto a ser como os outros, porventura mesmo, um pouco pior. Enuncia tranquilamente a sua disponibilidade para trair a vitória da insubmissão que o alçou. Mas Júdice hostiliza-o obstinadamente. Ainda bem. Isso manterá, por mais algum tempo, Marinho Pinto nos braços de quem o elevou. Júdice não perdoa a insurreição de um súbdito dócil. Sente-se enganado. Mas só os mendigos exibem feridas em público. Este é o mais recente falhanço de Júdice. Ruiu por fim a imagem de fidalgote. Nenhum fidalgo exibe chagas. Outro fiasco, portanto. E ainda não será este o último.

Friday, December 7, 2007

A EXTINÇÃO DO TRIBUNAL CONSTITUCIONAL

O Desembargador Eurico Reis continua a discutir a extinção do Tribunal Constitucional. No Primeiro de Janeiro. E isso parece muito bem. A nossos olhos é evidente tratar-se de Tribunal mais nocivo que inútil – órgão onde objectivamente se protege a violação de todos os Direitos Fundamentais, por um formalismo a permitir a recusa de pronúncia e, não obstante, o arrancamento das verbas elevadíssimas de custas aos recorrentes, verbas das quais o órgão se apropria directamente – é repugnante percorrer a interminável série de recusas de pronúncia, com o seu cortejo de pretextos absolutamente indignos, quase sempre, e sem nexo lógico, sequer, com revoltante frequência. Se nem a dignidade intelectual lhe resta, não lhe resta coisa nenhuma a não ser a fotografia oficial do seu presidente com a boca aberta. (Que imagem repulsiva). Mas a quem se atribuiriam tais competências? Ao Supremo não pode ser. (Claro que não). Quem trataria disso?... Esse não é um problema. (Embora se possa e deva pensar nisso). Num país onde tanta coisa se copia tão mal aos franceses, não seria certamente pior que os senhores conselheiros de Estado fizessem, enfim, alguma coisa de útil. O Conselho de Estado (reestruturado, evidentemente) seria uma solução plausível para o exercício das competências da fiscalização constitucional das normas e das práticas decisórias. Isto, em todo o caso, não é um detalhe. A judicatura e as práticas decisórias reformam-se a partir da fixação de exigências de conformidade e disciplina intelectual formuladas pela cúpula e não tentadas ou experimentadas a partir da base.

AGORA VOU SER FAMOSO

Mais um. Robert Hawkins. De tempos a tempos somos informados que um homem, ou uma mulher, decide morrer matando. A imprensa sublinha a loucura. E a situação é sempre a mesma. Não se vê diferença entre Hawkins e o homem (com um DEA em História) a dizimar os membros de uma assembleia de município em França. A dizimação romana: coisa de historiador, parece. Também houve o rapaz coreano e bastante marginalizado na universidade americana onde estudava. E um estudante do secundário na Alemanha, expulso da escola. Já há casos suficientes para uma estatística. Os analistas sublinham, nisto, o contexto depressivo. Ou a falta de esperança. E os conservadores pedem “segurança”. Tais coros não anunciam, nem revelam. Escondem. Os coros têm o papel invertido, nestas tragédias. Não há segurança possível diante de nenhum homem a quem se diz (ou se mostra, coisa pior) que “nada vale”. Isso será sempre dizer-lhe que só a morte vale alguma coisa. “Agora vou ser famoso”, escreveu Hawkins. Ia representar o papel que dele se esperava, com a certeza de que o faria bem. No lugar da chacina, havia música de Natal em fundo. O cenário estava montado. E o guião, pronto. Só faltava o desempenho. Hawkins não teve dúvidas nisso. “Agora vou ser famoso”. E tudo indica, realmente, ter correspondido às expectativas no papel que lhe foi distribuído.

Thursday, December 6, 2007

O PAÍS DA CASA PIA

O juiz Rui Teixeira vem dizer – no essencial - que sem o arbítrio solto, antes possível, já não pode haver investigação criminal eficaz. Também na PJ o “inspector médio” pensa mais ou menos o mesmo, ainda que em gradações diversas –“como é que se pode saber a verdade sem dar umas latadas nos gajos, não é?” Rui Teixeira acha, segundo parece, que as alterações do Processo Penal se fizeram para proteger o crime. É talvez dramatizar. A generalidade das instituições, segundo a experiência comum do autóctone médio, servem bastantes vezes para proteger e cultivar aquilo que devem prevenir e perseguir. E fazem-no com estas alterações ao Código de Processo Penal ou sem elas, porque o problema é social e não tanto técnico-jurídico. Entretanto José Maria Martins vai na terceira ou quarta condenação (na pendência do processo Casa Pia) por alegados excessos verbais no desempenho da sua defesa, entre as quais se conta ter chamado "porco" por três vezes a Serra Lopes. A possibilidade de se processar e condenar um advogado em jurisdições paralelas (a Ordem e outros Tribunais Criminais) na pendência do seu desempenho de uma defesa e antes do processo onde advoga terminar, a possibilidade de publicar essas condenações, sem qualquer menção do contexto ao qual se reportam os factos, isso traduz solução única na Europa. (Não é possível com esta facilidade em mais parte nenhuma). E podendo embora achar-se estranho que um advogado chame porco a outro (em audiência?) não deixa de ser estranho que um advogado se sinta impelido a fazê-lo (se o tiver feito). Não pode esquecer-se que, no âmbito do Processo Casa Pia, a porcaria, como se sabe, é a substância e o modo das coisas. Tais condenações de José Maria Martins não ajudam, em nada, à honorabilidade do três vezes chamado porco. E geram até compreensível simpatia por José Maria Martins. Sobretudo porque a Lei Portuguesa pune a resposta verbal sob o efeito da cólera perante provocação injusta (ao contrário das outras leis criminais da Europa), como pune o insulto que responde a outro. Como toda a gente bem vê, isto é intolerável pelo simples e evidente motivo de traduzir constrangimento, pela força da Lei Penal, à conduta de poltrão. Um homem deve calar-se diante de um insulto e apresentar queixa (para ficar em processo uns anos). Não pode ripostar com uma qualquer fórmula decapante e esquecer a coisa, porque lhe fazem a ele um processo crime... Devíamos ver quantos processos desses entopem os tribunais. E indagar dos motivos pelos quais a "inteligência" legislativa, como a "inteligência" do aplicador da Lei são tão avessas ao padrão habitual da virilidade de conduta, ao ponto de o punir obsessivamente e sem transigências (não há suspensões de processo, nem, em regra, suspensões de pena nestes "crimes" que boa parte das vezes o não são, segundo o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem). Este horror diante dos habituais padrões de virilidade é uma decorrência - bastante lógica- dos critérios doentios e demais padrões do país da Casa Pia. Tudo isto é completamente alheio às reacções normais de um homem normal.

CORJA DOS ADVOGADOS: as últimas

Ele há “inimigos internos e externos” da Ordem e do seu “património” que seria a “unidade dos advogados”. Vem esta “advertência” do cessante Alves, tomando como destinatário o eleito Marinho Pinto. Atente-se na minuta nacional-católica da coisa. Completamente paranóide, aquilo.Não tarda estão a chamar “estrangeiros do interior” a quem quer que reaja. Onde há um Opus, aí está um tipo com a paz dos cemitérios na alma. (Mas nem a a unidade dos cadáveres é segura, mesmo ponderada a igualdade diante da morte). Bom… Felizmente a Ordem está por um fio. Tratemos de o partir. A "forma mentis" expressa nestas palavras d'Alves bastaria para exigir a extinção daquilo, porque basta perfeitamente para ver os intuitos que ali se prosseguem e o clima de hospício psiquiátrico daquela coisa. (Um hospício psiquiátrico entregue aos internados).

FIND MADDIE: ESTA GENTE NÃO TEM CURA

O Daily Mail é muito expressivo. Os “nossos” polícias chegaram lá com um ar de quem se sentia no direito a que os laboratórios de genética forense lhes dessem quanto procuravam, como se ali houvesse magos omnipotentes, ou bruxos de poderosas artes. E ali só há gente de laboratório. Aliás com uma perspectiva clara quanto às deficiências da recolha das amostras feita pela PJ. A sequência é de filme cómico: os polícias ficaram ofendidos. E agora? Vão processar os geneticistas ingleses por pseudo-injúria, também?... Contra Ordem gostaria de não ter razão, aqui. Infelizmente, porém, tem-na. As investigações falham desde o primeiro momento pela inépcia policial. Essa é a única constante de todo o processo. Mas os portugueses vão aprendendo o que é um jornal e para que serve, porque esta história de se poder perseguir um jornalista por tudo e por nada não se consegue fazer com a imprensa inglesa. Eles continuam a dizer o que vão vendo. Simplesmente. Isso tem sido muito pedagógico. O sentimento de ofensa, em todo o caso, nunca bastou para suprir a inépcia. Eliminem a inépcia que logo se sentem menos ofendidos.

Wednesday, December 5, 2007

ESTADO PORTUGUÊS PROMOTOR DA MISÉRIA

Uma audiência na crónica dos Mirpuri. No segundo juízo do Tribunal de Comércio de Lisboa foi hoje fixada a graduação de créditos no processo de falência da Air Luxor. É uma história de infâmia, tudo aquilo. Se bem ouviram os jornalistas presentes, o montante geral dos créditos pendentes sobre a massa falida, hoje fixados e graduados, não atinge os setenta milhões de euros. Verba de respeito. Mas o Estado devia à Air Luxor - e ainda não pagou à massa falida - mais de cem milhões de euros. Isto significa (por modo absolutamente objectivo) que tal falência foi determinada pela falta de pagamento do Estado. Mais interessante: o Estado está a pedir subvenções comunitárias para financiar rotas de que se ocupava a Air Luxor (sem subvenções). Todas as dúvidas quanto aos Mirpuri perdem, a partir de hoje, qualquer relevância. O Estado não se limita, portanto, a violar as regras da decência. Não se limita a violar o Direito da Concorrência. O Estado – parasitado por funcionários enlouquecidos - promove a miséria. Activamente. E objectivamente. Um advogado convocou em alta voz os seus colegas para os informar que aqui havia – no seu entendimento - uma séria violação do Direito Comunitário a carecer de reacção específica. Boa sorte. Porque todos os funcionários e agentes do Estado (compreendendo os Ministros) envolvidos nisto merecem bem ver todos os seus bens vendidos em hasta pública para suprir o pagamento da sanção comunitária aplicável. E para ressarcir o prejuízo sofrido não só pelos Mirpuri, mas por todos os que perderam o emprego.

Tuesday, December 4, 2007

INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR

Na sequência da publicação dos resultados do PISA 2007, não será inútil a verificação dos desempenhos das selecções nacionais em quanto respeita à Matemática. Assim, Nas Olimpíadas Internacionais da Matemática de 2007, os nossos melhores meninos obtiveram o 62º lugar (abaixo da Albânia:58 º; evidentemente, abaixo da Moldávia: 20º). Mas se isso consola (e em algumas circunstâncias, sim) a Espanha ficou em 66º lugar. Deixemos aos espanhóis os problemas que lhes cabem. Ficar abaixo da Rússia e dos USA é habitual. Mas abaixo da Albânia e da Macedónia tem algum significado. Não é aliás um resultado isolado. Aparte os problemas das médias dados pelo PISA, há um problema no que diz respeito aos níveis máximos alcançados pelo sistema de ensino. Que a média seja má é deplorável. Mas que os melhores resultados possíveis estejam abaixo do medíocre é alarmante.

PISA 2006: PORTUGAL SIGNIFICATIVAMENTE ABAIXO DA MÉDIA

Pouco de novo. Os resultados do PISA 2006 foram hoje divulgados. Há uma evidente relação entre a prosperidade económica das famílias e o nível de rendimento intelectual dos alunos. Entre os países e territórios (significativamente) acima da média da OCDE estão (exemplificativamente) a Finlândia, o Canadá, a Estónia, a Eslovénia, a Irlanda. Na média, a Hungria e a França (também exemplificativamente). Significativamente abaixo da média, os USA, o Kirguizistão, a Rússia, a Noruega (!) o Qatar e, naturalmente, Portugal. Surpreende até que os resultados portugueses não sejam piores, parecendo isso significar ter havido alguma sorte com as escolas seleccionadas por sorteio. (Sem querermos ser aves agoirentas, bem entendido). Alguns países progrediram significativamente desde 2000 e 2003, conclui a OCDE, embora os resultados não sejam directamente comparáveis em razão das mudanças operadas nos questionários. Dados interessantes: pouco mais de 20% dos estudantes afirmam sentir-se atraídos pela investigação científica como carreira profissional, apesar do considerável interesse pelas matérias da maioria deles. E os estudantes com melhores resultados são também os mais pessimistas. (O realismo é mais precoce do que se imagina, em suma).

Monday, December 3, 2007

НИКОГДА НЕ РАЗДРАЖАЙ РУССКОГО МЕДВЕДЯ!

Rússia Unida venceu as eleições. O significado objectivo de tal resultado traduz que os Russos não aceitam nenhuma mudança de perspectiva quanto à relevância da Rússia no mundo. Os oligarcas em divergência podem regressar aos seus lamentos. A Europa e os USA, também.

CHÁVEZ E PENEDA

Com uma abstenção a superar os 44 %, o Presidente Chávez obteve 49,29 % por cento dos sufrágios, contra 50,7 % no primeiro agrupamento de questões. Uma vitória tangencial da oposição que nada indica, com segurança, relativamente à eventual quebra da base social de apoio do presidente. De novo a oposição venezuelana teve uma crise de histeria, desta vez, com a Igreja de Stennico a ajudar visivelmente. Salienta-se a parvoíce infinita de Silva Peneda que, à frente de uma delegação do Parlamento Europeu, ali se deslocou para “observar” o referendum, multiplicando-se em declarações em nome da Europa, com muitas (e pretensas) inquietações quanto à “liberdade de expressão”. Isto vindo de um homem em cujo país (Portugal) a imprensa partilha do desprestígio do inteiro sistema político-partidário, onde a liberdade de expressão é permanentemente violada por sentenças criminais que mais parecem sentenças criminosas e são objectivamente violadoras da Convenção Europeia dos Direitos do Homem (segundo a jurisprudência constante do Tribunal Europeu) e onde o Tribunal Constitucional é tão escandalosamente parasitário que até os conservadores lhe propõem a extinção. É portanto um Peneda emergindo de país neste estado que se vai por a comentar as “infracções” do presidente Chávez. Acha mal que uma licença de televisão caducada não tenha sido renovada (de facto podia tê-lo sido, mas seguida do confisco do estabelecimento como instrumento de crime nos termos do Código Penal Venezuelano; teria preferido assim, Silva Peneda?)... Nem se percebe aliás o que poderia um homem como Chávez fazer pior do que os portugueses fazem cá na terra (se alguma coisa estivesse a fazer mal). Mesmo nas perseguições judiciais à “extrema direita”, em Portugal, não se percebe exactamente em que sector seriam os perseguidores mais liberais que os perseguidos (tudo indicando o contrário, de resto) … devendo sublinhar-se a apreensão do Animal Farm de Orwell exibido na Televisão pela Polícia como um dos sinistros livros que os fascistas autóctones lêem (!) … Nem à esquerda, nem à direita, por mais radicais que sejam, pode haver maiores horrores que estes do pardacento centrismo autóctone (podem ser ampliados no plano da quantidade, mas não podem ser piores no género). Restariam os casos de morte, mas isso, no quadro do “respeito devido às instituições”, sempre poderia ser suprido (quanto a Portugal e entre muitos outros episódios) pela decapitação de Sacavém no posto da GNR … Peneda: “por qué no te callas?”

BANCO ALIMENTAR CONTRA A FOME

Neste fim de semana foi divulgado por esta organização assistencial que vem sendo chamada a assistir um número crescente de quadros técnicos. Estes, tendo perdido o emprego, têm o subsídio de desemprego completamente parasitado pelos créditos bancários pendentes, ao ponto de não conseguirem alimentar os seus filhos. Chama-se a atenção para o facto da Banca Portuguesa - com a sua multidão de avençados no governo - sempre se ter oposto (com êxito) às moratórias e consolidações dos débitos nestas circunstâncias e sob supervisão judicial. Fizeram até um código de insolvência onde o terror é a regra (os insolventes podem ser inabilitados, como solução mais provável sendo a insolvência inscrita no registo de nascimento, desde a entrada do requerimento em juízo, aliás). E o Tribunal Constitucional não toma conhecimento dos recursos interpostos com este objecto (estando em causa a violação de princípios pacíficos desde que as Leis contra usura foram decretadas na Velha Roma). As tragédias que isto suscita - e a imbecil recusa de resposta institucional- são outro grande vector da convulsão que se avizinha neste sector da "Europa dos Direitos Humanos". O peso de tais - e tão inúteis - tragédias é sempre um factor de imprevisibilidade do desfecho de qualquer crise social e política. Também aqui, bem entendido, os advogados estão limitados pela polícia política da Ordem. Uma participação aos conselhos de polícia da Ordem por alegado excesso em debate e o advogado tem sete anos de processo disciplinar (com condenação, caso esteja do lado da facção "errada", ou não esteja em facção nenhuma e os seus textos revelem capacidade intelectual apta a fazê-lo "perigoso"). Também por isto é preciso extinguir a Ordem.

Sunday, December 2, 2007

MARINHO PINTO na RTP-cabo

O Bastonário dos advogados foi entrevistado, na sequência da sua eleição, por uma criaturinha da RTP. E foi por essa criaturinha tratado com… condescendência. Mas as senhoras cujas sucessivas aparições como "pivôts" têm ocorrido na RTP suscitam em regra a mesma dúvida no português médio… Habitualmente pergunta-se com quem terá dormido a rapariga para ali estar. São coisas com longa história, evidentemente. História ilustrada de muitos modos e raiz segura de sólidas reputações que, por evidentes, nos dispensamos de focar. Tais dúvidas, eventualmente serão injustas, até, relativamente a algumas pessoas. Mas não podem ser evitadas no caso de uma garotelha a permitir-se olhar com sobranceria um Bastonário eleito da Ordem dos Advogados. A degradação da profissão não pode ter chegado tão longe. Nem tal coisa pode consentir-se sem reparo. (Mesmo que na cama da garotelha tivesse estado um príncipe). Vamos lá a ver se restauramos a noção das distâncias e a das proporções, sim?

VITÓRIA DOS VOTOS DE PROTESTO NA ORDEM DOS ADVOGADOS

resultados infelizmente contraditórios. José António Barreiros logrou a sua eleição com números equiparáveis ao êxito de Marinho Pinto. O colégio eleitoral não soube, parece, ler os sinais do confronto expressos em campanha. José António Barreiros é evidentemente incompatível com Marinho Pinto, como o é com Garcia Pereira. (Histórias antigas, sim). Foram pois eleitos independentes (com qualidades pessoais, mas) incompatíveis entre si. Em Lisboa e para a primeira instância, a polícia política das máfias logrou a sua subsistência pelo que, com uma votação ridícula, o execrando Relógio e o caricatural Marabuto nas fotos à direita lograram a sua formal eleição, ao abrigo do método de Hondt. Tal repulsiva lista não tem qualquer sub-presidência do Conselho de Deontologia de Lisboa, mas em bom rigor, não deveria validar-se tal eleição. A esta gente é essencial à protecção própria poder invocar a irresponsabilidade que os cobriria. Mas não é aceitável que um tal órgão de polícia (da palavra, do estilo e, até agora, ao serviço claro da protecção da rede da casa pia e de outras coisas nada recomendáveis, segundo a imagem pública que aquilo deu de si) seja, nas presentes circunstâncias, eleito por menos de metade do colégio eleitoral e sem qualquer informação disponibilizada sobre o que andou a fazer. Isso está em clara oposição com quanto ocorre com as demais listas e em quadro de voto obrigatório – com votação simultânea – e não pode deixar de significar clara recusa de confiança na própria solução institucional. A maioria do colégio eleitoral teve nojo daquilo, segundo tudo indica, ao ponto de não querer sequer tocar-lhe. Não se vê como haja isto de ser ignorado. Não o pode ser. Não deveria reconhecer-se a existência de qualquer eleição para o Conselho de Deontologia em Lisboa e para mais com tais energúmenos no seu bojo (gente indigna que ali se acoitaria com uns dois mil votitos, no âmbito de quatorze mil profissionais). Aliás não pode avaliar-se eleitoralmente nenhum mandato sem informação especificada - absolutamente ausente - de quanto andou a fazer tal gente. Tudo quanto sabemos é que o progenitor de Relógio disse de tal especimen que ele ia estudar para aldrabão. Longe de nós impugnar tão claro e definitivo juízo. Assim parecem ter-se consumado as coisas, de resto. Mas a eleição deste conselho é nula, salvo melhor opinião, por absoluta ausência de informações imprescindíveis à eleição. Impensável, isto. Em todo o caso, os resultados eleitorais para o conjunto dos órgãos, globalmente olhados, implicam que a Ordem está por um fio. (Organizacionalmente falando). E duas conclusões são possíveis: a primeira radica no reconhecimento da evidência de uma maioria inconformista e independente. Os votos de Garcia Pereira e Marinho Pinto são largamente superiores à soma dos votos dos outros dois candidatos. A segunda traduz a inviabilidade organizacional pela contraditoriedade eleitoralmente gerada. Neste quadro os agentes das máfias eleitos para o órgão de polícia podem tentar as razias já ensaiadas, ceifando advogados independentes, i.e. colando-lhes “multas” e “censuras” (ou suspensões, ou exclusões) que, mesmo infundadas, os impeçam de concorrer a eleições ou congressos, ou de deixar claro seja o que for, seja em que processo for. Este conjunto de contradições atinge, logo à partida, a exasperação. A Ordem dos Advogados não é viável. O corpo profissional perdeu a capacidade de se auto-regular neste modelo. E – coisa francamente pior – perdeu qualquer capacidade de proteger as liberdades e dignidades comuns, atacadas a partir da estrutura da Ordem e por encomenda de qualquer máfia. O mais consistente dos candidatos – Garcia Pereira, a nossos olhos – deveria convocar um congresso dos seus apoiantes, preferencialmente a realizar na Galiza (para não haver riscos de provocação e agressão, sem protecção possível das forças de segurança) com debates aptos a cobrir os silêncios do Congresso de Vila Moura, organizado pela gente da Opus para o silenciamento dos advogados. As conclusões devem ser publicadas (senão mesmo todas as intervenções). O prazo recomendável de realização de tal iniciativa deveria coincidir com os três meses deste Inverno. (Mais devendo instituir-se a expressa recusa de admissão a debate de quem tenha integrado qualquer órgão da Ordem d’Alves, não vá o diabo tecê-las). Mas a primeira coisa a fazer neste quadro é estudar e discutir. É imprescindível preparar – já – as convulsões da Primavera. Porque o mais natural é armarem uma confusão a Marinho Pinto para o destituírem por processo no Conselho Superior. E este órgão é presidido por homem que, manifestamente, só não dará provimento a tal intenção se não o poder fazer. Entretanto irá crescendo a Contra Ordem. (Bem entendido... E por muitos motivos).

Saturday, December 1, 2007

CONTRA ORDEM, CONTRA-ORDEM E PALAVRAS COM CHEIRO

Temos um simpático homónimo além Atlântico. Site de poeta. E vimos outro blog de poesia (brasileira, parece) em Portugal. Interessante. Num país onde não se conhecem já poetas vivos, eles relembram-nos o (aqui completamente esquecido) lirismo do Ocidente Peninsular. Contra-Ordem pára até em Fernando Pessoa. Como parou um pintor romeno a oscilar entre Madrid e Lisboa. Numa terra onde se foge dos espelhos, como da luz, é estranho encontrar estes espelhos de vozes e telas. Nós aqui, presos num bordel de Zola, com muros de asilo de Dickens e sobressaltos de Tenessee Williams… E eles dizem-nos baixinho ”que tristeza esta/ que me assalta a alma/ que me corrói que me mata/ que me destrói”… Mas isso, aqui, é assim mesmo. É o peso do fim da terra. Opressivo, bem sabemos. É o lugar da morte das estrelas da Eurásia. Terra de todos os poentes. Não é lugar onde vivam - sem preço em mágoa - quaisquer mãos capazes de obra. Ou olhos de brilhos cintilantes... Mas obrigado por falarem. Pensávamos que esta modalidade da língua galaica já só servia para sórdidas minutas, grunhidas por pardas e acéfalas aventesmas. E descobrimo-vos assim, de repente, à porta do nosso inferno, a chorar baixinho ou a pintar… que surpresa!...