Thursday, July 31, 2008

A OTAN e otanascas, UE e federastas

Indigno. Fazer comparecer um combatente num "tribunal" da OTAN (é exactamente isso que aquilo é) onde se absolvem chefes de máfia albanesa, onde se ignoraram criaturas como Tudjman e sob cuja custódia morrem dois dirigentes sérvios, na mesma semana, não é coisa aceitável. Instrumentalizar a justiça como arma de guerra, não é coisa aceitável. Lavrov tem toda a razão. Como a tem o Presidente da Duma. Como a têm os sérvios que gritam traição, porque é precisamente quanto há a dizer. Entregaram, em pretensa "extradição", um cidadão nacional. Ora, contam-se pelos dedos os países que o fazem, mesmo quando a extradição é a sério e não simples entrega ao inimigo. Tadic desvaloriza-se a si mesmo. E faz indigna a Chefia do Estado de uma Grande Pátria que ostenta, orgulhosa, a cruz de Bizâncio nas suas armas nacionais. O testemunho do Semanário Sérvio de Madrid é precioso pela contenção. Tadic e o seu controlo de imprensa mentem como a OTAN. O primeiro por subserviência e a segunda por conveniência. O comentário do Blic é especialmente repugnante. Tadic não tem governo sem o apoio do Partido de Milosevic. A hostilização do Partido Radical - que só não é governo por não fazer alianças estúpidas - é a hostilização (bastante otanasca) da própria Sérvia. Os sérvios vão notá-lo. Tadic não recua sequer perante a imunidade parlamentar. (O Blic mantém o apoio). Mas é a imunidade dos dele que está a lesar, por mais que consiga atacar, prender, calar os deputados do Partido Radical. Aliás ninguém votou tal coisa. Tão peregrina ideia não estava sequer - nem podia estar - no programa eleitoral. Tal conduta percebe-se perfeitamente. E está fora do mandato. Nem faz sentido hostilizar os sentimentos manifestados pelos partidos fora do governo, porque essa é a maioria nacional (mesmo com os votos úteis, em Tadic ou nos socialistas). Traição, claro. E portanto, legítima defesa da Comunidade Nacional (é isso que Tadic quer proibir que se diga, mesmo no Parlamento)... Logo veremos como isto continua, porque não parece que vá acabar tão depressa.

POLITICAMENTE CORRECTO

É politicamente correcto criticar o politicamente correcto, desde que isso não seja politicamente incorrecto. A rebeldia estimula-se, até, diz-se, mas só como arremedo, bem entendido. Como forma sem ideia. Representa isto a determinação em cujos termos nenhuma rebeldia se consente. Evidentemente. Mas se a rebeldia esperasse tal consentimento não seria rebeldia. A rebeldia não precisa de nenhum estímulo senão o da existência de um poder claro, qualquer que ele seja, claramente nas mãos de imbecis, labregos, perversos, ou medíocres. Nenhum rebelde precisa de maior estímulo. Felizmente.

Wednesday, July 30, 2008

Jiménez Losantos

Um provocador a soldo da ”Conferência Episcopal Española”, colégio papista a pretender-se vagamente correspondente ao Santo Sínodo das Santas Igrejas de Cristo. Tem sido repetidamente condenado nos tribunais criminais de España pelos seus “ajustes de contas” radiofónicos, até com conservadores (se acaso em España houver alguém que seja outra coisa). Chamou “traidor” ao antigo Director do ABC. E tal periódico é um precioso órgão da direita española onde ela se nos confessa, quase sempre com toda a clareza, evitando-nos o imenso e inglório trabalho de lhe adivinhar as intenções. Mas nem isso basta já à Igreja de Franco, parece. Nenhum homem tem útero – bem o sabemos – mas, mesmo assim, aqueles parecem histéricos. Que o provocador insultante seja condenado, não nos inquieta. Mas as formulações das sentenças e até as da imprensa española já nos preocupam. O antigo Director do ABC confessou-se “satisfeito” (imagine-se). Já isso nos parece estranho. Não é certamente o Estado quem nos dá a honra. E não pode, por isso, ser o Estado quem no-la devolverá (este é o primeiro equívoco destes processos). A segunda questão resulta do facto das formulações adoptadas pelos juízes españoles e jornalistas solidários com eles, poderem ser subscritas por qualquer juez de qualquer ditadura latino americana. “A liberdade de expressão não é absoluta” (claro que não, todo o direito é relativo, aliás, é uma regulação de relações) e o Losantos teria expresso apenas “sentimentos pessoais” (e então? Porque não haveria ele de expressar sentimentos pessoais?) “insultantes” (cada um sente o que sente) “reiteradamente” expressos (completamente irrelevante, quanto mais se repete um insulto mais se esvazia). E enfim, (finalmente) um fundamento (um único fundamento) aceitável: Losantos imputava factos falsos às suas vítimas. Esta é a única coisa passível de condenação judicial (muito embora, a condenação cível seja mais adequada a tal debate do que o enquadramento penal). Quanto a “los demócratas españoles” Contra Ordem recomenda mais atenção. Não se sacrificam (como aqui nitidamente ocorreu) posições estratégicas a objectivos meramente tácticos. A Lei Penal Española fixa bem os critérios (embora continue a parecer-nos que o enquadramento penal da Liberdade de Imprensa é sempre desajustado). O desprezo temerário pela verdade é um bom critério. Mas só quanto à informação, i.e. quanto aos factos. Não devem fazer-se exigências penais de verdade à opinião. A opinião inidónea é punida no debate onde intervém e pelo resultado desse debate. Não noutras sedes. O tribunal é mau lugar para a tutela dos direitos da verdade nos debates ocorridos fora dele, porque também no formalismo do processo são iguais os direitos da verdade e da mentira. E não podem deixar de ser. Não há melhor solução prática. O tribunal dá muitas vezes a vitória à mentira sobre a verdade, de modo que a punição do vencido como mentiroso não seria, também, boa solução e jamais haveria outra. A Liberdade de Expressão deu demasiado trabalho aos melhores juristas de España como ao Tribunal Constitucional e é excessivamente clara desde os últimos textos jurisprudenciais de 1995, para voltar a ser posta em causa nos tribunais da Coroa, sobretudo por tão pouco. Não partilhamos o entusiasmo do El Pais. Embora o Losantos nos pareça um estupor. E da sua (dele) Conferência Episcopal, nem queremos (evidentemente) falar.

Tuesday, July 22, 2008

Revisão Constitucional consumada em França

Aprovação à tangente. Mas aprovação. Actos de guerra sem informação prévia ou qualquer aprovação parlamentar (art. 35), excepto para o prolongamento das operações além de quatro meses. Possibilidade do Presidente intervir no Parlamento sem que as suas posições possam ser questionadas ou dar origem a qualquer voto sobre as matérias tratadas (art. 18). Novos poderes parlamentares, mascarando novos direitos da maioria parlamentar, permitindo agora a recusa de recepção de Projectos de Lei e cingindo a discussão em plenário ao textos adoptados em Comissão, podendo o parlamento instituir mais duas comissões do que actualmente (art.s 41,42,43). Novos poderes do governo quanto ao agendamento (em duas semanas, sobre quatro), como determina o “novo” art. 48 da reforma. O controlo difuso da constitucionalidade (art. 61.1) é formalmente intensificado (recurso para o Conselho Constitucional em impugnação da norma inconstitucional – por violação dos Direitos Fundamentais - traduzindo a respectiva declaração de inconstitucionalidade uma revogação automática, nos termos do art. 62). Mantendo-se, não obstante, o controlo político do Conselho pelo mecanismo da nomeação. O parlamento pode votar resoluções (sem carácter vinculativo e, por isso, inúteis) relativamente aos projectos da UE, sem qualquer possibilidade prática ou teórica de resistência política (88.4). Mas pode interpor recurso para o Tribunal de Justiça contra qualquer acto legislativo europeu por violação do princípio da subsidiaridade (velha figura cara à doutrina jurídica papista). A França pode participar na UE de acordo com as condições definidas pelo Tratado de Lisboa, quaisquer que sejam as circunstâncias políticas da União Europeia. O Conselho Superior da Magistratura é politizado, constituindo os seus membros de nomeação política a maioria deste órgão (art. 65). É instituído um defensor dos direitos (espécie de provedor dos cidadãos, em teoria) aglutinando as competências da protecção administrativa de menores, controlo das prisões e deontologia das forças de segurança, com as competências de intervenção junto de todos os serviços públicos, centrais ou municipais, sendo o seu titular de nomeação presidencial (art. 71.1). A tudo se junta um imoderado poder do Presidente da República quanto ao recurso ao referendum, dispensando todavia qualquer consulta o tema das novas adesões à UE (com excepção da Turquia). É a vitória, precária embora, da França de Hauriou e do Nacional Catolicismo. Sendo especialmente grave a “constitucionalização” do truque generalizadamente usado na guerra de 99 contra a Sérvia, para o efeito “desqualificada” na designação de “operação”. Tal regressão, formalizada, é gravíssima no plano global. Concretamente, porém, ponderadas as características do sarcoma a ferir a República Francesa, tais poderes podem resultar na mais negra tragédia para a Europa, pela lógica das vinculações por aliança. Lang votou isto favoravelmente. Porque o sarkozismo é um petainismo à escala das circunstâncias, não faltando sequer o apelo ao "novo espírito" e à "nova França". Perfeita loucura. E o semelhante gera o semelhante. Nem a França será uma excepção. Nem a eventual eleição de Obama poderá ser travão suficiente (e isto poderá revelar-se a resistência possível à mudança ante-visível na orientação da política externa americana). As reacções populares alemãs deixam antever uma transmutação possível no "eixo-atlântico". A reacção acantona-se já - à cautela - no eixo europeu "Paris-Roma"? A inconsistência na política externa dos conservadores na Europa avança, isolada embora, para o belicismo? Tudo é possível. É até possível (perfeitamente possível) que Obama não venha a representar o prometido papel. Mas em breve teremos tudo esclarecido. Não demorará um ano, sequer.

“Poeta falhado”, dizem eles

Karadzic, chefe político da guerra popular dos sérvios da Bósnia foi capturado e será entregue ao Tribunal ad hoc, sob cuja custódia já morreram Milosevic e o presidente da Kraína sob ocupação. "Poeta falhado", diz o Libération, cujo redactor seguramente nunca o leu. Moscovo faz notar que o Tribunal deve ser independente, sublinhando as excessivamente evidentes parcialidades entretanto exibidas. O presidente da fictícia Bósnia (ficção dispendiosa) veio dizer que a prisão e entrega de Karadzic não resolve o problema do projecto sérvio estar vivo e ter – praticamente inalterados – os seus apoios sociais e políticos (claro que sim). Assim se demonstra ser tal “paz” a continuação da guerra e nem sequer por outros meios. A Rússia, há três dias apenas, teve uma conferência de ministros dos negócios estrangeiros com a Sérvia. E a nota oficial é importante. Hoje, Karadzic, orgulhoso Tchetnic, filho de Tchetnic, começou a percorrer o calvário que, antes dele, percorreram seus pais. Não sabemos se sairá vivo dos cárceres de Haia, parecendo embora pouco provável. Não sabemos se quem o entrega hoje viverá também muito mais tempo. Não sabemos sequer se a Europa Ocidental não se deixará arrastar para a Guerra a breve prazo. Sabemos que os Sérvios serão Sérvios até ao fim da História. Sabemos que S. Lázaro estará sempre entre os seus. E que Stefan Lazarovic tinha razão quando alinhou pelo Sultão Bayazid contra os cruzados. “Antes o turbante turco que a mitra papista”. E faríamos bem em recordar um lema político do pan-eslavismo, de verdade bem demonstrada: “antes o chicote russo que a liberdade alemã”.

Wednesday, July 16, 2008

É SEMPRE PRECISO MUDAR MESMO QUE NÃO SEJA GRANDE COISA

O procurador do TPI lança perseguição processual a um Chefe de Estado em exercício. Isso será sempre um precedente importante. Seja no sentido de se tornar claro que alguns Chefes de Estado em exercício são mais chefes do que outros, seja no sentido contrário, ilustrando que há matérias onde nenhuma chefia garante imunidades. Os ingénuos estão preparados para acolher a notícia neste segundo sentido. Apesar de Berlusconi se ter declarado imune em exercício. Apesar dos USA declararem as suas acções militares imunes a qualquer discussão no plano do Direito Penal Internacional. Apesar de Guantánamo. E apesar de Portugal em cujas prisões se morre mais do que nas prisões turcas, ou russas e onde a tortura grassa diante dos olhos da opinião pública nacional, como vicissitude frequente que só não deixa indiferentes as instituições quando é denunciada. Porque então a acção penal exerce-se contra quem tiver subscrito o protesto público e esse foi o caso do Prof. Doutor António Pedro Dores. Sendo certo que, em Portugal, bastará encarcerar um homem normal (ao abrigo de um qualquer delito de opinião, aqui chamado “injúria qualificada”, entre outras designações possíveis) para ele se encontrar em plausível risco de execução extrajudicial. Talvez por isso os portugueses possam olhar a notícia desta perseguição com esperança. Este território (formalmente europeu) não tem qualquer importância política capaz de obstar à sua utilização como segundo exemplo. Os títeres locais que se acautelem contra a (quotidiana) violação do Direito Internacional dos Direitos do Homem. E os cidadãos que iniciem a prática de remeter alguns memoranda ao Procurador do TPI.

Monday, July 14, 2008

CIMEIRA DE PARIS: A SÍRIA ROMPE O CERCO

Uma manobra sem nexo nem tino na política externa, onde uma e outra coisa faltam há mais de uma década. Manobra nem sequer vasta, mas bastante bem aproveitada pela Síria, em estado de guerra com Israel desde a segunda metade dos anos 40. A Síria oferece à Turquia a possibilidade de voltar a ter uma palavra no Médio Oriente. E o Presidente Hassad mostra a uma incrédula Europa Ocidental do que é capaz a hieraticidade de um Chefe Árabe, recusando sempre falar outra Língua que não a sua (aliás a mais falada e mais lida do mundo). Só um Nusari seria capaz de governar a Síria na tempestade que para ela representaram estes quinze anos. E ei-lo rompendo o cerco fechado desde o primeiro mandato de Clinton. A cimeira de Sarkozy não pode deixar de fazer sorrir. Sem agenda política e sem norte diplomático, traz à Europa os sorridentes árabes porque traduz, pura e simplesmente, o fiasco da estratégia da exasperação de tensões dos últimos dez anos de política externa americana. Mas falta-lhe qualquer direcção política segura. Qualquer noção de objectivos. A Líbia recusou a participação por questão de princípio. Os outros aceitaram por obediência aos ditames da realpolitik, transigindo com a circunstância de se sentarem à mesma mesa com Israel de cuja delegação ficaram isolados pela utilização do critério alfabético. Os Sírios ficaram ao lado da Turquia. Nada inconveniente. A TV5 informou o mundo que os israelitas procuraram o olhar de Bashar Al-Hassad, sem lograrem que o Chefe Nusari os olhasse sequer de relance. (Com quem pensará esta gente que está a lidar?)… O Al-Ahram lembra que a Turquia, Argélia e Israel representam conjuntamente 60% do Comércio total da EU e cita Mourad Medelci para quem (e em síntese livre, mas com entendimento restritíssimo), “inimigos, inimigos, negócios à parte”. A ida a Paris não compromete ninguém. E - como não deixaria de dizer Henrique de Navarra - Paris vale bem um pequeno incómodo. Na circunstância, o pequeno incómodo foi ter de ver, tão perto, a cara do Chefe do Governo Israelita. Bachar Al-Assad, esse, apresenta a fisionomia de um homem tranquilo. Aparentemente, foi ele quem encheu o vazio político da cimeira e é muito interessante a entrevista que deu ao órgão do PCF antes da partida para Paris. Recebeu há dias Mahmoud Abbass e proferiu umas palavras de circunstância, ele que dá asilo a Khaled Mechaal, com quem Abbass não quis encontrar-se. Sarkozy não tem nenhuma ideia das consequências de abrir caminho à excepcional envergadura diplomática de Bachar Al-Assad. O Rei de Marrocos preferiu não assistir de perto. (Hassan II pensava neste tema com bastante seriedade). O Rei mandou uma carta simpática a Sarkozy e o Príncipe Muley Rachid ao jantar de Domingo. Problemas práticos para a cooperação, um quase nada: despoluição do mediterrâneo. Nada a opor (aliás depois de descarregarem toneladas de urânio empobrecido sobre o Danúbio, os países da NATO bem podem propor-se limpar o que fizeram, se o conseguirem). Navegação do mediterrâneo. Perfeitamente inócuo. Migração ilegal… Nisso já deveriam os dirigentes árabes e turcos pensar duas vezes. (Como certamente farão). Em tudo o mais esta cimeira significa que quem desencadeou a estratégia da exasperação de tensões, ou não aguenta mais a tensão gerada, ou hesita quanto ás forças que lhe restam. É simpático sabê-lo. Agora só têm de pagar o preço. Depois há – como em tudo – as fitas, o folklore e o lixo. Fita, foi a ideia em cujos termos nunca se esteve tão perto de um acordo com os Palestinianos. Qual acordo? Regressam às fronteiras traçadas pela resolução da ONU em 47?... Fitas. Folklore (sem quebra de simpatia) parece ser a abertura da Embaixada Síria em Beirute. Não é propriamente uma simples transigência da Síria, convenhamos, muito embora o Líbano seja produto de simples ficção e conveniência europeia. O lixo foram as declarações de Sócrates que não faz a menor ideia do significado prático da reunião. Ainda bem que Portugal não tem política externa. Ia ser uma desgraça se a tivesse. Parece ter havido também algum sarcasmo. Assim, a Síria declara estar pronta a manter com Israel "relações normais". Nada mais claro. Vejamos agora o que a normalidade possa ser.

Friday, July 11, 2008

VINCULAÇÕES E PERSPECTIVAS

A administração Bush lança obstinadamente as âncoras de uma política externa assente na sua limitadíssima eficácia militar. A “guerra-maravilha” traduz-se afinal nos corpos de exército a borregar, no Afeganistão e no Iraque, diante dos modestíssimos meios de combatentes clandestinos, conformados com a crueldade das soluções que lhes restam. Limitação demonstrada, também, em ocupações dispendiosíssimas, eternizadas e inúteis, nos Balcãs. Mesmo assim, os USA quiseram vincular a República Checa e a Polónia, querem seduzir a Lituânia e procuram a Ucrânia possível, no cerco à Rússia (entenda-se: a Ucrânia dos polacos em unidade com os nostálgicos da SS Galicie e com a avidez dos sórdidos papistas locais, nada de que possa esperar-se senão a desgraça, evidentemente). Mas os USA vão arrastando esses governos, de países divididos ao meio, para decisões onde lhes faltam quaisquer bases populares de apoio. Nem lhes escapam a Croácia e a Albânia, transformando-se a NATO em coisa inverosímil. Um saco de gatos. Pretensa aglutinação de inimigos tradicionais e de conflitos herdados, mas assumidos. Mantêm a provocação do Kosovo. E estimulam a política agressiva da Geórgia. Afirmam-se disponíveis para defender os seus aliados contra o Irão. (Cuja eficácia militar e determinação já foram testadas várias vezes, de modo que nenhuma esperança de vitória militar pode razoavelmente existir aqui). Entretanto, o agressivo Ehud Olmert compareceu pela terceira vez em declarações como suspeito de corrupção. E o Hamas agradeceu ao Egipto a fraterna ajuda prestada à população de Gaza perante o escândalo do bloqueio israelita. Mas alheio a todos os detalhes (por mais significativos que sejam), Bush mantém a linha geral. Junta à lista dos fiascos uma pressão diplomática – tão exasperada como exasperante, sempre com clarins de vitória e sempre sem resultados visivelmente consistentes - sobre os países da Ásia Central. Há também a reanimação da esperança de travar o acesso directo dos vasos de Vladivostok ao Pacífico, estimulando-se o Japão a violar a sua renúncia aos “territórios do norte”, onde os seus exércitos se renderam sem glória. Em África sustenta Bush a política de devastação do continente. Resultado prático da sua presença preponderante entre os “doadores”. E relança a IV Esquadra, numa hostilização evidente à Aliança Bolivariana (ALBA). Os USA de Bush esbracejam. Semeiam de desconfianças o mundo que já nada espera dos primeiros passos do presuntivo presidente Obama, vítima da conclusão em cujos termos “eles são todos iguais”: reacção (evidente) dos árabes diante da disparatada ideia de sustentar a dominação israelita de Jerusalém. A crise, todavia, tem um quadro de solução completamente alheio ao eixo USA-UE onde se gerou. O espaço de solução da crise é Eurasiático. A solução mostra-se incompatível com os modelos institucionais vigentes. Assentar escoras numa estúpida perspectiva belicista, sempre será algo mais do que um erro. Capaz de lesar todos. Evidentemente. Pode-se deixar um país e ir viver para outro lado. Mas ainda não é possível a decisão de viver noutro planeta. Os USA não poderiam nunca vencer um combate de tais proporções, não porque lhes falte a energia (que por acaso falta), não porque lhes falte a vitalidade económica (aliás debilitada), não porque lhes faltem líderes capazes de arrebatar povos e exércitos para uma visão do mundo e da vida (que por acaso também não existem), mas porque sempre lhes faltaria, justamente, a visão arrebatadora. Faltam-lhes até as conclusões teóricas capazes de apresentar a viabilidade provável das soluções. Faltam-lhes perspectivas doutrinárias consistentes que forneceriam um quadro de legitimidade ética. Têm alguns funcionários para as compilações de ideias, mas nenhum pensador. As próprias figuras referenciais se pronunciaram contra o que antes pensaram (Milton Friedman, por exemplo). E Galbraith fulminou os actuais modelos de gestão, sob a epígrafe das “Mentiras da Economia”. Ninguém defende – perante as críticas e as revisões de posição - os modelos coroados pela pretensa vitória política na altura da queda do muro de Berlim. E a crise de convicções é igual à de um qualquer outro fim de regime. Fukuyama, engoliu o disparatado triunfalismo em novos escritos, bastante medíocres (e essa mediocridade não é um acaso). Os executivos da cobardia intelectual e do belicismo não têm Escola, portanto. Meros tiranetes. Em completo desequilíbrio, sem lograrem, sequer, esconder o grotesco e a crueldade. Esbanjam em defesa própria. Sem escol. Nem escolta. Esbracejam, como Bush. A sua acção, em política externa ou interna, justifica certamente todas as apreensões. Mas não merecerá, nunca, qualquer consideração.

Thursday, July 10, 2008

Humor, Amor e Garb

De um magrebino em Itália:

Pour toi je soulèverais des montagnes et détruirais des collines sur mon chemin

Pour toi je ravirais des étoiles et te les porterais jusque dans ta main…

Pour toi, j’alignerais les planètes et je t’en ferais un collier, quel dessein !

Bon, on couche ensemble ou dois-je d’abord détruire tout l’univers ?

"continueremo a dire quel c....o che ci pare"

Nada em Parvagal se parece com coisa nenhuma. As gentes que aqui se exibem não são parecidas a ninguém que se conheça. E isto vem a propósito da Senhora Carfagna (na foto à direita). Quem é a senhora Carfagna?... É a Cardona de Berlusconi. Quer processar a Guzzanti (por acaso filha de um senador de Berlusconi) por esta ter feito alusão a um escândalo sexual. Mas quando se olha para a senhora Carfagna percebe-se que as alusões a um escândalo sexual surjam plausíveis. Quando se olha a Cardona também se tem um arrepio, em todo o caso. Por motivos completamente diversos, embora. Pois a Cardona de Berlusconi decidiu processar a Guzzanti. Nada de mais. Fini também se mostrou ofendido. A Guzzanti (foto à esquerda) respondeu a tais ameaças e anúncios. "Há anos que vocês se sentem ofendidos", diz ela do seu Blog abaixo (entretanto abatido): " (...) Non ci fate nessuna paura e sappiate che noi continueremo a dire quel c....o che ci pare, criticando chi vogliamo e come vogliamo. Questa è la libertà. Non ce lo spieghi né tu né nessun altro dei tuoi non eletti colleghi, cosa sia la libertà». Bravo!

Wednesday, July 9, 2008

ESPREITADELA DE GARIBALDI

Na piazza Navona ribombaram frases dignas de combatentes da Legião Italiana. «Tra 20 anni Ratzinger sarà morto e sarà all'inferno, tormentato da diavoloni». Esta foi de Sabina Guzzanti. Di Pietro demarcou-se. Está excessivamente ocupado com a independência do poder judicial para se ocupar da Condenação Eterna seja de quem for. E Carfagna anuncia processo por se ter sentido mal tratada. (Exagerada). Já Contra Ordem não tem reparos à perspectiva Teológica expressa. Não se vê para que outro lugar possa ir Ratzinger. E vinte anos é prazo razoável. Prazo plausivelmente necessário às negociações com as potestades infernais. Porque não se antevê que os diabos aceitem a tese da soberania universal do pontífice romano. (O inferno já tem primaz soberano). As negociações serão pois longas e difíceis. Mas daqui a vinte anos Ratzinger estará no inferno. A coisa parece clara. Sem soberania universal. Sem primado. Sem sé. E plausivelmente atormentado. (Tormentos que aliás já devia estar a sofrer). A perspectiva da Guzzanti parece-nos, senão verdadeira, ao menos verosímil. Di Pietro também não foi meigo, em todo o caso: «Qualcuno mi sta processando? Mi faccio una legge che dice che quattro cittadini italiani una volta che diventano presidente della Repubblica, della Camera o del Senato, capo del governo, possono ammazzare la moglie, stuprare bambini, o addirittura corrompere un testimone in un processo e non possono essere processati». Secondo il leader Idv «i cittadini devono resistere e ribellarsi: tutti i regimi cominciano in maniera dolce». Il Cavaliere reagiu no seu bom velho estilo: «Della spazzatura mi occupo a Napoli. Nessun altro commento (…)». Menos sintética foi todavia a reacção do Chefe do Governo Italiano à informação oficial da Casa Branca que o apresentava (a propósito da cimeira do G8) dizendo-o um “dirigente diletante de país corrompido”. Il cavaliere agitou-se. Exigiu desculpas. E teve-as. A Itália será sempre um país animadíssimo.

Sunday, July 6, 2008

PAROLADA

Contra Ordem tem a sua gente sob sequestro no território a sul do Rio Minho. Contra Ordem não gosta de sequestros. Liberdade de palavra, dão-lha o Blogspot e a Santa Hélade. Mesmo assim, em torno do Google andam esbracejando, pela certa, pedindo as cabeças de Contra Ordem, os esbirros da Opus e dos gangs federados em pretensas “maçonarias” à moda do “tuga médio” – uns proxenetas, uns vendedores de licenciaturas e animadores de “bolhas”, uns traficantes de tudo, (armas incluídas), uns agentes da PJ em vaga reforma, uns autarcas e funcionários no activo com os guantes na “massa” dos concursos públicos e uns juízes à procura de comissões de serviço – uma beleza. (Que iniciados, hein?)… Os pedómanos do papismo também não gostam da Contra Ordem. Nem o execrando Júdice. E Contra Ordem tem uma noção muito exacta do que fazer com eles. Com todos eles. E jamais os sequestraria. Contra Ordem não gosta de sequestros. Contra Ordem não gostou do sequestro de Ingrid Bettencourt. Nem gostou da libertação de Ingrid Bettencourt. Entre os dois horrores, Contra Ordem recusa-se a escolher. A libertação é parolada da qual o cativeiro nos preservava. E o cativeiro, outra parolada à qual pôs fim a tremenda libertação. Os velhos comunistas irritaram-se. Mais uma parolada. Os gajos de serviço no local (com o Rogeiro à cabeça) uivaram laudas disparatadas e “condenações” fulminantes. Sempre a parolada. Os Suíços limitaram-se a dizer que aquilo custou vinte milhões. Ninguém como os suíços, para a santa objectividade quanto às coisas chãs. E os colombianos enchem-nos com o que pensam deles próprios. São militares, a seus olhos. E muito desembaraçados, sempre em sua perspectiva. (Que haveriam eles de dizer?) … O desembaraço do exército da Colômbia (passe a expressão) mede-se bem na sua impotência diante da guerrilha. E a eficácia da guerrilha pela sua impotência ante o exército (se tal designação ali couber). E lá veio Sarkozy, claro, no papel de triste figurante em bicos de pés. Com a França de nervos em franja diante dele. Sempre gesticulando como um patrão de tasca. Em tons de “autoridade” que a literatura põe nos donos de bordel. (De iure constituendo) têm de proibir-se quaisquer versões futuras do Bush, congeminadas por húngaros. Ao menos Berlusconi é um velhinho bem travestido. Completamente isento daquele ar gingão do Sarkozy, sempre numa imoderação de embarcadiço chegado ao cais. Marujo de água “doce”, evidentemente. Que aquilo veio pelo Danúbio abaixo, com toda a probabilidade. Mas falávamos da Ingrid. Um velhinho veio comover-se por a ter visto, enfim, com maquilhagem. Mas depois – diz ele - imagina-a a maquilhar-se. Era então isso. Um fetiche. E bate na Luísa de um Blog, Sempre a parolada. Vinte milhões, custou aquilo. Falta de noção do valor das coisas, do valor do dinheiro e radical ausência de qualquer noção das proporções. Agora a Ingrid vai ao Ratzinger. A novela finar-se-á numa novena. A menos que Sarkozy decida, a despropósito, levar o Te Deum do Berlioz a Notre Dame. (Uma historieta tão má deve ser morta várias vezes).