Sunday, December 16, 2007

OS FEDERASTAS E O KOSSOVO

A União Europeia está em plano inclinado com a questão do Kossovo. Atirada pelos USA para a hostilização da Rússia, ouviu com surpresa a debilitada mas firme Sérvia afirmar, formalmente, que a eventual candidatura à União não se fará a qualquer preço. E certamente não àquele preço. Ainda não perceberam bem, estes, o povo que cantava e dançava nas ruas durante os criminosos bombardeamentos de 1999 (com os quais se encheu de urânio o Danúbio). Ainda não perceberam bem o povo que celebrou a Páscoa debaixo das bombas da OTAN e em todas as Catedrais e Igrejas, sem excepção, sem que um só bispo, ou um só sacerdote, tenham faltado, sem que um só leigo (que se conheça) tenha deixado de se unir à afirmação litúrgica da vitória sobre a morte. E a Rússia não está na posição de 1999. Nem voltará a estar. Eles também não perceberam isso. A OTAN condiciona a sua intervenção futura a um quadro formal do Conselho de Segurança, que este não dará. (Em 1999 também não o deu). E por menos confiança que inspire a exigência da legalidade por parte da OTAN para uma intervenção futura, o certo é que os Estados da União Europeia talvez tenham de inventar outras fontes de abastecimento de combustível, para intervir militarmente sem o Conselho de Segurança e contra a posição russa. Falta sublinhar que a província sérvia do Kossovo onde os albaneses viviam melhor que na Albânia, apresenta hoje taxas (oficiais) de desemprego a passar os 75%. É o segredo das manifestações albanesas de massas. E aquele território é um exemplo de racismo e limpeza étnica consumada e sob patrocínio da ONU. Ao mesmo tempo que os últimos burlões apontam ainda o pretenso racismo sérvio (sendo a Sérvia o único estado pacificamente multi-étnico da região). Ninguém fala também dos mais de vinte por cento dos albaneses do Kossovo, cristãos ortodoxos da Igreja da Albânia (em comunhão plena com a Igreja Sérvia). Em todo o caso, a pretendida independência é economicamente e politicamente inviável. Embora nela estejam interessadas todas as máfias locais e só elas. Tal concretização jamais resistiria a um simples encerramento de fronteiras decidido por Belgrado. Aquilo é outro inferno sobre a terra. O poder é tribal. No comércio, traficam-se estupefacientes e pessoas. A própria unidade da Língua regrediu (tal unidade é um artifício universitário, porque a Língua Albanesa nunca existiu). As potências externas subsidiam ainda aquilo, mas com esses subsídios lançam o crime kossovar nos territórios da Europa, segundo os lamentos das respectivas polícias. E o mais provável é que, no espaço da antiga Jugoslávia, as secessões provocadas pela pressão externa acabem por se traduzir – a médio ou longo prazo – em quatro territórios sérvios federados, não estando ainda esclarecida a amplitude dessa Federação, de cujo horizonte não pode excluir-se uma Confederação com a Rússia. Os sérvios têm percebido bem, ultimamente, o sentido de uma velha frase oitocentista onde se dizia, “antes o chicote russo que a liberdade alemã”. Ora o chicote russo está, ao que parece, outra vez pronto a estalar sobre tal pretensa liberdade (já nem sequer muito alemã). A União Europeia perdeu todas as oportunidades com a Turquia. E insiste em perder, com a Sérvia, um aliado tradicional na região com o qual nem a Grécia, nem Chipre, nem os romenos, nem os russos – nem o Contra Ordem – quebrarão alguma vez os laços de amizade fraterna. A aproximação chinesa à Sérvia também não regredirá presumivelmente. A União Europeia pode impor a desgraça ao Kossovo. Mas corre o risco de inviabilizar, a curto prazo, qualquer simpatia pelos seus interesses por parte das nações mais importantes da península balcânica. Sem poder propiciar a repetição fácil e sem resposta do bombardeamento pela OTAN do Hospital Materno Infantil de Belgrado, ou o da Embaixada Chinesa na mesma Cidade. Sempre se dirá que é uma experiência inolvidável ter notícias de uma amiga por a ver, na televisão, (viva ainda, mas a morrer de medo) diante de um buraco de bomba e entre chamas… na maternidade de Belgrado, onde acabara de nascer o seu filho. Talvez os netos do licenciado Sócrates, de Guterres, ou Barroso, possam vir a ter a oportunidade de nascer assim. (Paulo Portas, não tem filhos e não pode, portanto, sequer, entender a angústia de os perder, ou a dor de os ter perdido, tão estupidamente). Os Federastas - como dizem alguns radicais portugueses e com muita graça - estão em risco iminente de perder definitivamente os sorrisos néscios. Federastas. Subscrevemos a expressão. É perfeita. E conjuremos a morte de tais sorrisos. É urgente.

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