Saturday, December 22, 2007

NOVA LEI DO TRABALHO: A IDIOTIA EM DEBATE

Assistimos incrédulos à selvajaria das alterações propostas e da discussão pública das alterações à Lei de Trabalho. Quem se imagina de direita vem arguir coisas repulsivas. Recorda-nos tal gente os tempos em que a classe média urbana e rural se entendia no direito de discutir e reprovar o que já tinham passado a comer as famílias operárias. A tais criaturas desafiava-os o facto da baixa classe média ter passado a comer carne (!)... Achavam um escândalo que os operários andassem nas cervejarias “a comer marisco” (durante a curta festa do consumo de 1975). Enciumavam-se com o dinheiro ganho pelos operários especializados. E com o preço do dia de trabalho atingido nos campos. Esqueciam que a sua própria mediocridade e mesquinharia traziam a ruína – mais a si próprios do que aos outros – provocando a subida dos preços do trabalho, porque a sua mesquinhez gerara a recusa da miséria, traduzida num abandono do mercado. Os migrantes portugueses procuraram lugares onde a vida fosse possível. E a mão-de-obra rareava. “Não há quem queira trabalhar”, diziam eles e elas. “Não há ninguém para fazer nada”. Pois. É com grande surpresa que assistimos ao regresso de algumas dessas palermices. (Pensávamos que esse gente já tivesse morrido, mas, afinal, parecem eternos). Querem despedir mais do que despedem, por sentirem como uma afronta a segurança no trabalho. Não há segurança no comércio. E irrita-os que “os subordinados” possam ter coisa que eles não têm. O mercado ameaça-lhes cruelmente a inépcia. E eles acham (parece) que se aguentarão melhor se puderem pagar menos, despedir mais, ter menos encargos sociais. Vimos até protestos relativamente à Segurança Social (que tocam menos a gestão da coisa, do que o principio dela). E se os deixassem prosseguir, nada sobreviveria. Nem eles (bem entendido). O horário de trabalho parece-lhes excessivo. A liberdade de trabalho parece-lhes excessiva. A liberdade sindical parece-lhes excessiva. Todavia, se bem vimos os textos, o próprio Mussolini teria passado boa parte deles pelas armas, sem a menor hesitação. E Bismark – instituidor do Seguro Social obrigatório, homem que legislou o papel dos sindicatos – vomitaria se os ouvisse. À direita tais “perspectivas” não têm lugar possível. (Bismark compreendeu perfeitamente que a Alemanha não seria possível sem a radical subalternização do estúpido conservadorismo católico, cujo abandono o próprio Franco teve de ponderar e cujo disfarce o próprio Vaticano teve de procurar; Mussolini, por seu turno, nunca foi um nacional-católico). Mas nem no liberalismo - de direita ou de esquerda- caberiam tais asneiras. Porque a mentalidade que aqui fala quer a humildade assente na servidão objectiva e aflige-a a liberdade seja de quem for. Esta gente quer o arbítrio próprio, mas sem a liberdade do outro. (Seja este outro o trabalhador, ou qualquer concorrente). E o desfecho de tal história seria o de sempre. Os ciclos da usura incomportável desencadeando a reivindicação exasperada. Seria assim, se não houvesse uma alternativa evidente: o abandono. Neste mercado imaginário de absurdos – se tal lógica pudesse vencer – ficariam, num primeiro momento, os que a ele estão presos pela miséria, pela sua irmã ignorância e pelos medos infinitos que geram. Seguir-se-ia a consumação da conquista económica do território por quaisquer empresas externas. Sem mais. Façamos deste fim, o princípio. Partamos, portanto, do desaparecimento (inevitável) desta gente que é a personificação da ruína, própria e alheia. Partamos dos significados possíveis da quebra de população (mais de nove milhões de residentes, incluído um milhão de migrantes… Menos três milhões do que em 1976 em números absolutos, porque, aí, aos onze milhões somou-se o milhão de “retornados”). Toda a análise se altera. Menos um milhão na população activa e o país deixa de funcionar. Simplesmente. (O simples abandono, em curso, dos migrantes eslavos e romenos - mais um punhado de gente do Cáucaso - é um contributo apreciável para tão difícil situação). No lugar onde está colocada, a inteira discussão é um chorrilho de disparates. Sustenta-a a ignorância dos imbecis, mascarada pelos títulos de “especialistas”. Gente que, no plano intelectual, nada escreveu, alguma vez, a merecer mais do que o lixo como destino natural. E os sindicatos trazem ao debate a respeitabilidade de apreensões legítimas. Mas nenhuma posição suficientemente lúcida.

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