Sunday, January 11, 2009

CASA PIA

Não pensou mal a Rainha. A Casa Pia não era um asilo, mas lugar onde o trono assumia a paternidade e a educação dos que não tinham nem pai nem mestre. Desvios de conduta sexual terá havido sempre. No contexto do execrando papismo isso seria (e será) sempre fatal como o destino. Mas a Casa Pia tinha um Colégio em Edimburgo porque aqueles que quisessem estudar Medicina deveriam poder faze-lo (e puderam) na Escola Médica mais prestigiada daquele tempo. E tinha um Colégio em Roma para que aqueles que quisessem estudar Belas Artes pudessem fazê-lo no lugar mais prestigiado para tal estudo. E havia um Colégio na Dinamarca para propiciar aos que quisessem ser cirurgiões o estudo na Escola Cirúrgica mais prestigiada da época. Não é obrigatório olhar sempre para o sórdido. A Casa Pia também foi isto. Mas foi-o em contexto papista, claro, e portanto, desde logo, foi tal projecto cercado pela sordidez. Transformada em asilo com uns vagos trabalhos oficinais e a plausibilidade de frequentar o secundário, a Casa Pia foi, como o foram nesta basbacânia papista os demais mecanismos asilares de menores, um lugar de prostituição infantil – induzida ou forçada – homossexual ou heterossexual. Com o advento da “democracia” parlamentar, o conflito entre facções haveria de fazer rebentar o escândalo, mais cedo ou mais tarde. Controladamente ou sem controlo. A CIA sempre manteve o fenómeno sob observação e tem, como anunciou um dos seus agentes, uma lista de 500 nomes politicamente relevantes, ou financeiramente significativos, que são membros da rede de clientes. Foi em Março de 2004 na France 3. A TV5 repetiu-o diante do mundo inteiro. Mas o escândalo foi construído e controlado. O Ministério Público escolheu cinco criaturas para arguidos. E acusou – ou não acusou - por “abuso sexual de menores”, figura que permite a prescrição (mas isto não é mero abuso sexual, é crime contra a dignidade humana previsto na Lei Penal Internacional e insusceptível de prescrição). A defesa dos imputados, age como agiria a defesa de qualquer "pêga" se ainda houvesse crime de adultério. Vem dizer-nos, falhada a tese do sósia, que há talões de auto-estrada a comprovar (dez anos depois) que, naquele dia, aquele homem (por assim dizer) não podia estar ali. Mas quem guarda um talão portagem de auto-estrada por dez anos? E para quê? Por outro lado, um talão de auto-estrada demonstra apenas que alguém passou por ali naquele dia, não demonstra que haja sido aquele homem. Outro tanto se dirá da utilização dos cartões de Multibanco (significa apenas que alguém fez naquele dia e em outro lugar, um levantamento com isso e não que tenha sido aquela concreta criatura a fazê-lo), mas que pessoa normal guardaria a documentação de tal movimento por dez anos? E para quê? Um processo grotesco. Num aparelho judiciário grotesco. De um país grotesco. Restam todavia muitos detalhes. O caso Pedroso é um exemplo. Parecia a coisa decorrer da queda dos graves: quem se eleva só por "levar no rabo", cai necessariamente a "levar no focinho." Uma Lei Geral da Física, em síntese. Parecia fácil. Natural. Compreensível. Mas não… Uns capões de rabo fremente, deram-lhe um balão de ar quente. Ei-lo a pairar no parlamento. Com chama de metano a arder, imagina-se. E um silêncio absoluto por via do “respeito devido às instituições”. Eis pois o que são instituições por cá. O recto de Pedroso. O ânus de Pedroso e, evidentemente, a cicatriz de Pedroso a substituir o sinal que poderia permitir o reconhecimento pelas vítimas. Eis as "instituições portuguesas". E a medida do respeito que lhes é devido. Eis o processo Casa Pia. E o valor da Dignidade Humana nestas terras. Tal como Pedroso estes arguidos deviam ter sido absolvidos, diz um dos defensores. A verdade é que este processo é lixo. Entre lixo. De lixo.

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