Tuesday, September 2, 2008

Paz Fria: o descongelamento da guerra

A estratégia anti russa é uma estratégia de cerco – de Vladivostok ao Cáucaso, do Báltico à Ásia Central. Não têm obtido grandes resultados em função da gigantesca mobilização de meios, designadamente militares, como os necessários para a instalação e manutenção de vinte grandes bases norte-americanas de cerco. Sendo certo que durante o período Bush os USA abriram novas sediações militares, subindo o número de instalações militares americanas a 730, espalhadas por cinquenta países. Nisto se saldou o “fim da guerra-fria”. Visivelmente trata-se do descongelamento da guerra. "Paz Fria" escreve (num bastante agressivo artigo) o Der Spiegel. Chame-se-lhe como se quiser. Entre tugas, Adriano Moreira lembra hoje o projecto de "libertação" da Europa até aos Urais. E o primeiro a pensar assim na divisão da Rússia, (o primeiro a sonhar assim a derrota da Rússia) foi... Hitler. Todavia, a eficácia militar dos russos, a firmeza da nova Direcção Política Russa, o visivelmente unânime apoio popular às posições tomadas, deixam os "ocidentais" decepcionados (consigo próprios, bem entendido). Enraivecidos, até. E não conseguem sequer pensar. Ninguém formula uma perspectiva de Estado , sequer. Schröder dá razão aos russos. Merkel confessa a sua admiração - se não mesmo o seu impossível amor- pela Rússia. Estão todos os ingredientes da guerra em presença. Até este. (A irracionalidade, sim). E neste âmbito ocorre a tentativa (igualmente obstinada e igualmente impossível) de eliminar o último travão: a capacidade nuclear assegurada da destruição total recíproca. A Rússia mantém essa capacidade. Enquanto a mantiver, não pode ser subalternizada, isolada, ou atacada em campo aberto. Certo, subsistem possíveis ataques de outro tipo. Mas para algumas técnicas já ensaiadas, o tempo parece ter-se esgotado. Revoluções laranja, rosa, azul-celeste ou verde-alface, podem talvez justificar a apropriação (ilícita, claro) de fundos estatais norte-americanos, mas o tempo de eficácia de tais técnicas esgotou-se. Chavez já sobreviveu ao emprego simultâneo da técnica chilena e da revolução laranja. Resta a velhíssima (e tristíssima) ideia de fazer a guerra em casa alheia. Isso poderá continuar a usar-se. Embora não com exércitos de opereta que uma simples divisão desbarata em três dias, desarmando completamente a respectiva república das bananas. É essencial verificar se o estado vassalo tem homens de armas aptos a suportar a provocação militar desejada, antes de a encomendar. Com treino americano, dificilmente haverá qualquer aptidão militar. Basta observar o que se passa em todo o lado perto das bases americanas (perda de soberania, deficit democrático, esgotamento económico, despovoamento, impacto ambiental desproporcionado, crime impune - compreendendo crimes sexuais e a prostituição - problemas de saúde por contaminação). E os cinquenta países onde tais fenómenos se impõem - umas setecentas e trinta vezes, todos os dias - ao abrigo da "aliança", são, diz a retórica oficial, "amigos". Claro que se os americanos não o dissessem, ninguém o notaria. Qualquer treino dirigido por tão má gente é certamente e apenas guiado pelo princípio universal em cujos termos o semelhante gera o semelhante. Gente desta sabe destruir e matar. Mas isso não pode ser difícil. Alguns animais conseguem fazê-lo perfeitamente, embora e em regra tenham motivos visíveis para o fazer. Combater é, porém, outra coisa. E estar pronto para o combate é coisa muito diversa. Das mãos de tal gente sai qualquer Abu Graíb. Qualquer Guantánamo. Qualquer quarteirão de bordeis. Qualquer bombardeamento aéreo de populações civis (na Sérvia bombardearam até os altares da Páscoa - com os votos de Páscoa feliz escritos nas bombas - como bombardearam hospitais, uma igreja do séc. IV e, mesmo, a Embaixada da China). Está por demonstrar que consigam fazer alguma coisa mais do que isto. Está até por demonstrar que haja muitos oficiais europeus capazes de continuarem a conduzir-se como se não desprezassem mortalmente tal corja e a direcção política que lhe corresponda. (E este é também um factor quanto ao qual não será inútil estar atento).

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