Sunday, September 28, 2008

Regressões a Sudoeste

A França recua a caminho do séc. de Francisco I. Desde 22 de Agosto pode registar-se, em todas as Gálias, um nado-morto independentemente da fase do seu desenvolvimento (“sans condition de poids ou de durée de grossesse”). O pessoal está aos saltos. Ou em estado de choque. Isso implica o reconhecimento da personalidade jurídica ao embrião, dizem. Bom, implica pelo menos uma acentuação dos absurdos do estatuto jurídico do embrião humano. No tempo de Francisco I as mulheres registavam a gravidez e presumia-se o homicídio se a criança viesse a morrer sem esse registo e privada de baptismo. As feministas estão aos gritos. E estar aos gritos é estar à rasca. Por algum motivo, a rascoeira feminista sempre nos fez lembrar a acção católica do outro lado do espelho. Felizmente, só berram alternadamente. Eventualmente, se as puséssemos a berrar ao mesmo tempo obteríamos um nível de toxicidade capaz de curar a França do seu sarcoma húngaro. E por falar nisto, escassas semanas depois de Sarkozy largar a peçonha papista nas feridas que vai abrindo (com a repulsiva visita de Ratzinger), nada ficou visivelmente mais grave. As gentes do cardeal vinte e três continuam como sempre: a pedir dinheiro. Dizem que não podem viver sem donativos (mas porque é que hão-de viver?) ... E não têm gente, dizem, embora isso não seja completamente verdade (80% do "clero" tem mais de sessenta anos e a coisa é grave porque ainda há 20% com menos de sessenta anos... Como é isto possível?)... Os Latinos (como os bárbaros do sudoeste gostam de se chamar) não sabem ser fiéis à liberdade. Amam-na como todos os homens. Combatem por ela. Mas nunca lhe são fiéis. Olhando a execranda figura de Ratzinger ao lado do horrendo magiar Sarkozy e diante da notícia da "personalização" do embrião humano não pudémos deixar de nos lembrar disto. Balkãs à parte, metade dos colégios eleitorais da Europa do Sul são sensíveis aos fáscio-papistas. Mas haja esperança. Todas as crises são libertadoras.

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