Monday, June 8, 2009

ELEIÇÕES FALHADAS

O poder de não ser cliente fez-se sentir. Pode-se e deve-se questionar em debate político a ilegitimidade política do parlamento europeu. As taxas de participação ficaram, em média, abaixo dos 44%. A maioria dos eleitorados decidiu ignorá-los, portanto, e fê-lo ostensivamente, não obstante a crise, não obstante os apelos, não obstante tudo. Os que votaram expressaram maioritariamente alguma teimosia nos modelos, lideranças e partidos que conduziram ao desastre. Com ligeiríssimos ajustamentos. O PPE perde tendencialmente em número, mas mantém a liderança com 267 a 271 lugares. O PS perde mais significativamente e ficará entre 155-165 deputados. Os liberais apresentam-se agora com uns orgulhosos 80 a 82 lugares. O número de organizações não filiadas sobe espetacularmente à direita para 83 a 89 lugares (a Europa das Nações perde e fica entre os 33 e 37). Os verdes sobem significativamente para 52 a 56 assentos e a esquerda unitária desce também para os 33 a 37. A Assembleia torna-se menos previsível, mas carecerá de legitimidade própria capaz de se contrapor ao reflexo, em Comissão, das legitimidades parlamentares nacionais. Há umas caras novas: a filha do Presidente romeno e algumas garotas que chamam pai ao Chefe do Governo de Itália. Mais as amigas do Chefe do Estado Francês. (Tudo muito digno, como se vê). Novidade ainda é a presença dos russos pela eleição a partir das minorias russas das repúblicas baltas. Mas veremos portanto que novidades trarão as próximas eleições legislativas nos países-membros, sendo certo que a sustentação de Barroso vai ter uns arrepios. Caso Barroso se mantenha, é sinal de crise para a União (porque nenhum homem de primeiro plano aceitará protagonizar o que a este infeliz será exigido pelos seus mandantes). Em todo o caso, nem do ponto de vista económico, nem do ponto de vista político, tais estruturas fazem sentido. Só a Eurásia faz sentido cabal, no plano económico e político. É preciso deixar de resistir à geografia. Trata-se de uma questão de bom senso. Mas o bom senso é difícil, bem sabemos. Em Portugal as tolices disparatadas que se disseram a propósito desta votação falhada em tudo traduzem apenas a falta de gosto e de senso, habituais em todos os quadrantes desta corja. Nada a assinalar quanto às declarações. Quanto aos votos, a taxa de abstenção não permite valorar definitivamente a posição relativa dos radicais em contexto interno (nem à direita nem à esquerda). Era interessante que os radicais pudessem ser vinte por cento à esquerda. E conviria uma percentagem análoga à direita. Porque é preciso um novo centro para viabilizar politicamente o país. (É da sobrevivência do Estado que se trata, sim). Sem viabilidade política, não há viabilidade económica sequer formulável. A Economia é apenas um dos aspectos da Política. Se a coisa se viabilizar será um processo muito interessante para seguir. Se o país falhar a sua existência será um processo muito interessante para estudar.

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