Sunday, June 21, 2009

IRÃO, AUTORIDADE E CRISE

Qual é o significado das posições de Ahmadinejad e Khamenei? É o de uma clara convicção em cujos termos o Irão tem, nos USA e na Europa, inimigos perigosos. Que significam as posições europeias e americanas da última semana? Significam que Ahmadinejad e Khamenei têm toda a razão. Entre mil e duas mil pessoas, apenas, desafiaram no Sábado a palavra de autoridade da Oração de Sexta-Feira. Não foi portanto a polícia quem esvasiou as ruas. Nem a palavra de autoridade perdeu, aparentemente, pelo menos, qualquer influência. Onde a autoridade se impõe à crítica, não pode haver crise. É uma impossibilidade lógica. Alguns oposicionistas vieram dizer que não querem mudar o regime. Interessante. E bastante indigno da bravura dos quase dois mil homens que ousaram sair à rua e são, por isso, credores de um respeito que não deve ser-lhes negado. Um outro – porventura oposicionista, mas que sabemos nós? – fez-se explodir sem causar os estragos que porventura visaria. E Moussavi, pobre homem, deu o seu definitivo sinal de fraqueza. Pediu uma greve geral para o caso de o prenderem. E disse estar pronto para o martírio. Cuidou ele de saber se quem o seguia estará pronto para o martírio? Na verdade tão pouco explicou a que testemunho se reportaria tal prontidão. Também isto é bastante indigno da bravura e do entusiasmo de quem o seguiu sob o olhar preocupado e severo da Hierarquia Religiosa. A polícia não utilizou armas de fogo e morreram na rua dez pessoas baleadas. Os jornalistas estrangeiros foram convidados a sair e já não era sem tempo. Umas fêmeas excitadíssimas, ao estilo da Miss Curraleira da RTP, que nem lá deveriam ter ido, por ser despesa inútil aceitar e pagar os comentários do ponto de vista de uma estupidez mais que certa. (Os vistos devem entretanto ter expirado). Este Domingo correu sem qualquer protesto de rua. Falhou outra “revolução colorida”. Khamenei tinha prevenido, na Sexta-Feira - “ o Irão não é a Geórgia”. Pois não. Mas só o La Croix (imagine-se) se deu ao trabalho de noticiar este detalhe. “O Irão não é a Geórgia” e, ao contrário da Geórgia, mostra-se muito longe de qualquer falência. Os serviços de inteligência podem averbar mais uma manifestação de radical idiotia. E a “imprensa livre” (aparentemente sob avença de publicidade redigida), bem poderia tentar regressar à liberdade de palavra que apregoa. O jogo está perdido. E tal como dissera Obama, com alcance mal ponderado, o mundo estava a ver. De registar o facto do bom controlo da polícia (apesar das crises de nervos a que os polícias são sempre atreitos), bem comandada e a intervir sem armas de fogo, em incidentes de gravidade e projecção evidentes. Temos todos visto muito pior, por muito menos e em quase todo o lado. Agora é questão de lucidez e equilíbrio dos tribunais. Carece de sentido que o rescaldo seja pior que o incêndio. E a bravura, mesmo com manifestação deslocada, é um valor em si própria. Supõe-se que chefes de religião e de guerra o saibam ver. O MNE do Irão mandou um recadinho bastante deprimente ao Quai D'Orsay e ao Eliseu. Mas a vergonha não é o forte dessa gente. Lembrem-se de Ben Gurion que nisto falou bem melhor do que logrou fazer: - a posição moralmente correcta, em política, é a única inteligente. Nixon, Ford, Reagan, Bush&Bush foram tão somente labregos. E os seus homens instrumentais na Europa nem essa rusticidade podem invocar como atenuante.

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