Saturday, June 13, 2009

ELEIÇÕES IRANIANAS

Evidentemente, é impossível olhar o Irão com neutralidade emocional. A Pérsia é um dos berços da Civilização e os seus sátrapas foram sempre muito menos sátrapas que outros – alguns dos quais imediatamente contemporâneos e bem ocidentais – a Pérsia não é referência que possa esquecer-se. E é inesquecível o - tão literário - simbolismo do Trono do Pavão. Como é curioso, na Pérsia recente, a fascinação do Imperador pela Guarda Cossaca de onde haveria de sair Reza Khan, para tudo comprometer. Mas esses persas que libertaram Israel e o reconduziram à liberdade de Deus, reedificando-lhe o Templo, esses persas, cuja brilhante cultura herdámos provavelmente, tanto através do judaísmo, como através de Alexandre, essa Pérsia que nunca nos abandonará, essa Pérsia é hoje muçulmana e legitimista (o que naquele quadro significa Chiita). Continua tão combativa como sempre. Só que um tanto diferente. Muito diferente, querem dizer-nos. Porventura sim. Mas numa coisa os persas subsistem iguais a si próprios. Continuam a ser um alvo difícil para ânimos hostis. E teimosos, porque Deus é Misericordioso. Ora o Irão acabou de confirmar o pior pesadelo do “ocidente” naquela região. Disseram que... não. Mas porque haveriam eles de dizer que sim? Os belicistas têm pois o seu incómodo alvo reajustado. Embora não tenham meios para lá irem alvejar com êxito seja o que for, a não ser ao preço da catástrofe. As eleições tiveram uma taxa de participação a rondar os oitenta por cento. Contestados os resultados, importa notar que a coisa é muito provavelmente assim mesmo. Haverá quem pense diversamente no Irão. Claro que sim. Mas é assim que as coisas são. As comunidades atacadas unem-se frequentemente em torno da sua chefia. Devia saber disso quem se proclama defensor da paz e da segurança. E o presidente reeleito é homem modesto, vivendo modestamente, mais ou menos à vista de todos. Não é um Cavaco para quem a dotação financeira dada ao Rei de Espanha não seria nunca suficiente. Não espanta que Ahmadinejad agrade a boa parte da sua gente. Nem espanta que Seyyed Ali Khamenei tenha tornado pública a sua alegria. Haverá uma gente de formação mais universitária, mais educada nesse sentido, pensando e fazendo as coisas que as pessoas bem-educadas costumam pensar e fazer. Sim. Mas talvez eles possam começar pelo princípio. Talvez eles possam influir na subida do nível de todos os outros, trabalhando mais em prol de todos os outros, antes de se proporem dirigir o Estado. (Foi, a seu modo, quanto fez a Hierarquia Religiosa). Os opositores eram aqui mais elegantes. Sem dúvida. Mas a elegância não perde nunca oportunidade. E nada os impede de continuarem a ser elegantes.

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