Sunday, December 6, 2009

DUBAI: MORAL E CRISE

Os financeiros muçulmanos guiam-se por parâmetros morais próprios: a recusa da legitimidade do juro e a aceitação do lucro moralmente legítimo. Temos hesitações quanto à legitimidade do lucro assente na exploração de mão de obra quase escrava, (sobretudo - e para cúmulo - composta por irmãos de fé) excluída de qualquer participação nos frutos do trabalho feito e, até, expulsa do território sempre que perde utilidade. Mas, enfim, todos os homens (e todos os poderes) têm dificuldade em acomodar a prática decisória ao projecto moral que os guia e ao qual querem manter-se fiéis. E assim será, também aqui. Esta posição moral dos financeiros muçulmanos parece aliás te-los afastado dos piores cenários de crise. Mas, não obstante, o Dubai corre risco iminente de falência. O Abu Dhabi atravessou-se, por razões políticas - e também morais - e isso bastará para travar o descalabro estritamente financeiro. As últimas informações dão conta de uma estabilização. Resta o preço político. O Dubai será comandado doravante a partir do Abu Dhabi. Resta ver o que os novos contextos reservam ao emir e à sua família e bem assim como serão tratadas pela nova direcção política as liberdades atingidas no Dubai, a começar pelas liberdades concedidas às mulheres. Mas talvez não aconteça nada. Talvez os juristas do emir consigam impor a distinção entre o emirato e as empresas do emirato. Isso resolveria algumas coisas. Resta ver se basta à viabilidade política. Talvez sim, mas só vendo. Entretanto, mesmo em frente, os iranianos acabam de receber mais uma pressão relativa ao seu projecto nuclear e, a noroeste da península arábica, ouviu-se já a voz de Bashar al Assad, trazendo a solidariedade da Síria ao Irão, onde Rafsanjani apelou à unidade em torno do programa nuclear. A idiotia americana continua a significar uma ameaça objectiva do abrasamento da inteira região. Os demais povos deviam exigir aos candidatos às funções governativas dos USA um seguro contra a imbecilidade.

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