Meridianamente o debate eternizado do tuga-médio opõe semi-ideias. A um lado a pretensa tese em cujos termos o passado foi óptimo, o presente nada tem que se lhe compare e se assim continuam as coisas o futuro não é dizível. É o Ramalho e mais os que lhe sucedem. Depois vêm os outros dizendo que o presente asqueroso é uma dejecção do passado e este não pode ter sido melhor do que aquilo que fez. É vagamente o Eça, apesar de nunca se ter abalançado a tanta clareza. (O Batalhão Sagrado é em todo o caso um belo texto e muito elucidativo). O futuro seria a única coisa com a qual contar, a estes olhos. E vem a história do modelo. Um futuro como o presente europeu. Um futuro como o passado da gloriosa navegação (simples movimento de fuga massiva, perfeitamente justificada e inteligentemente aproveitada pela coroa, à custa de coisas que pareciam pouco ou nada estimáveis com razão plausível). Falta a única corrente razoável. Ao mais rápido olhar, o passado foi coisa asquerosa com alguma gente notável. O presente é repulsivo, mas nem aqui faltam, na percentagem de sempre, homens e mulheres de fibra, gente normal, propriamente dita. Em boa medida impotente, como sempre. O que sempre ocorreu por um motivo ou por outro. O príncipe brilhante que nunca chegou a reinar, como nota Eduardo Lourenço. Mas também há a ordem na guerrilha. E a besta radical transmutada em conservador feroz, como o execrando Cabral. Ou o abominando Barroso. Ou o diabo por ele. (É por isso inútil discutir se é cherne ou amiba). Felizmente não há futuro. O futuro não existe. Eis um grande conforto. E o mais que pode acontecer é já não haver tempo para fazer grande coisa. É exactamente disso que precisamos. Há um sopro de liberdade na consumação das desgraças. Por algum estranho motivo, quando tudo estoira ninguém estoira por isso. Estamos fartos. Venha o estoiro. Não há outra forma de nos ser devolvido o significado das coisas. Programas ao esgoto. Modelos ao diabo. Caricaturas ao lixo. Barroso para Teerão. A Leite para Caracas. Portas para Guantanamo. Louçã para o Cabo. Cavaco para a Califórnia. Jusflausinas para os bordeis da Amazónia. Aí aprenderiam todos o significado de discutir. Ah, sim… E Nulicarpo à fogueira que traz na ialma. Nada para julgar. Tudo para eliminar. Por uma vez, nada de complicações. É outra das belezas da desgraça consumada. Tudo é simples. Ao menos por um instante. A que coisas aspirará o Ramalho de então? Que diagnósticos fará o Eça?... Dir-nos-ão, pela certa, que os camelos podem viver sem deserto. E os homens-sapo podem viver sem água estagnada. Podem viver em quase todas as condições. Já nas condições a que chamam suas, ou não se pode viver sem eles, ou não se consegue viver ali. Melhor ordem haverá na desgraça, seguramente.
Tuesday, December 29, 2009
TEMPOS DE ADVENTO
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