Thursday, March 31, 2011

OS DELÍRIOS E A CRISE: MAÇONARIAS DA DIREITA E OUTROS CASOS DE ASILO


Desde o projecto Gládio que a loucura homicida se tornou evidente em parte da (por assim dizer) direita europeia e americana. Há quem veja nas desgraças militares do Iraque, do Afeganistão e em desgraças mais recentes  ainda, uma mãozinha desta (porventura) direita de doidos varridos. E são bastante fetichistas. Ritualistas. Maçons, até, segundo dizem. Isto nem sempre foi assim. Os confrades da Thule-Gesellschaft, o Wotanismo e a busca do Vrill sempre integraram as posições da “Nova Ordem”, isso é certo. Às vezes com o simples significado de radical delírio. É claro. Mas a maçonaria era outra coisa. O ocultismo sempre esteve em todos os movimentos de ruptura do Séc. XIX. (Isso está bem demonstrado e é muito interessante). No Iluminismo havia várias luzes. Muitas luzes. E muitas delas seguiram também a sua história. Nada nisto é estranho. A maçonaria integra este movimento de movimentos. Que a aspiração a outras espiritualidades acompanhasse a ânsia e a determinação de viver de outro modo, não deve surpreender. E não foram raros os socialistas novecentistas que frequentavam as sessões da Sociedade Teosófica. Mas, no Séc. XX, vencido o Nacional-Socialismo, foi preciso esperar a oportunidade para que estas coisas – no específico contexto hitleriano - readquirissem alguma força sugestiva. A ideia de que os Atlantes andaram a transmitir o conhecimento secreto é coisa que vai de António Sardinha à Sociedade de Thule. (E não fica por aí). Mas quanto ao específico contexto dos “novos cavaleiros do templo”, dos “novos teutões” e outras fantasias que trazem o “ideário da cruzada” à confusão com a maçonaria, foi preciso esperar que alguns maçons franceses ficassem abertos a estas questões (infelizmente muito específicas) e aos seus mais estranhos ritualismos. Isso ocorreu depois da cisão à qual foi conduzido o GOF pelos oficiais colonialistas, teimosamente agarrados à guerra da Argélia e aos seus estúpidos massacres em nome do “dever” para com a França. De Gaule passou um ou outro pelas armas e mandou mais alguns para o presídio. Parecia um peru. Mas era determinado. (Bendito peru). Não fez mal. Mas nem isso parou a Grande Loja Nacional. E aí o “irmão Pinochet” foi “iniciado”, (e, segundo tudo indica, de molde a que o seu confessor pudesse ser o execrando Escrivá). As fantasias paranóides do anti-comunismo permitiram depois a indulgência quanto a estes específicos “misticismos”. E aparece o projecto Gládio. Sobre o Gládio, a BBC produziu um documentário interessante. Mas o problema é que esta gente – em regra sem formação regular em História, Filosofia, Teologia ou Religiões Comparadas é sensível às descobertas “iniciáticas” mais fantasistas – e esta gente, assim alucinada, infiltrou-se nas estruturas militares e de direcção política, misturou-se com os serviços de inteligência e com o tráfico de armas (e numa ou outra vez, até, no tráfico de pessoas, para além de outros tráficos). Estas fantasias, francamente nocivas,“maçónicas” e “templárias”, reivindicando-se papistas umas vezes e outras vezes nem por isso (o próprio papismo, na sua imensa sordidez, se mostra ora avesso, ora próximo destas gentes o que se ilustra pelos casos Marcincus-Gelly), devem não apenas ser banidas. Mas erradicadas. Ocorre que arrotam dinheiro que se não sabe exactamente de onde vem, mas de cuja origem se desconfia e com bons motivos... Porque até na tugária, o grande animador destas coisas era um proxeneta em sentido estrito - próximo de dois traficantes de armas conhecidos - e fundou a “Grande Loja” (que não parou de pulverizar-se) com gente de quem estava realmente próximo (alguns ex-agentes da PIDE, por exemplo) e outra gente que depois perseguiu, divulgando-lhes os nomes. Tudo segundo uma infelicíssima história bem conhecida e, de resto, trazida à imprensa local com grande clareza. Não certamente por acaso, Durão Barroso nomeou a mulher de um tipo metido nisto para directora do SIS. Uma desembargadeira de Lisboa. (Que lúcido). Trata-se de corja que deve merecer-nos atenção, em síntese. E talvez algo mais que isso. E aqui fica uma referência interessante para pensar neles em plano geral. São uma loucura, claro. Mas uma loucura que existe.  E existe em perfeita degenerescência. Representa perigo objectivo. E é preciso tratar do fenómeno com eficácia. Os leninismos não o fizeram em tempo útil e as polícias estão com o trabalho manifestamente em atraso. De resto, na tugária, as “lojas” (destas) de polícias (correspondentes) não são sequer discretas e isso é, evidentemente, mais um motivo de preocupação maior. E de acção urgente. Nem se percebe porque é que as maçonarias propriamente ditas não reagem. Sobretudo porque o motim popular não terá motivos, nem tempo, para fazer distinções que talvez pudessem ser feitas, se as obediências maçónicas propriamente ditas dessem uma ajuda. Já agora podem os maçons (propriamente ditos) explicar-nos a passividade diante de tal fenómeno? O que estas coisas podem significar entre tugas (onde toda a estupidez está sempre exponenciada) pode perfeitamente assumir este aspecto, ou próximo disto. E que o Gonçalo Amaral é estranhíssimo homúnculo, isso é evidente. Apoiado (publicamente) pelas lojas de polícias, isso foi escandalosamente gritante. E nada disto se resolve sem uma perspectiva um bocadinho mais radical que a do General De Gaule.Porque as coisas estão muito mais deterioradas do que estavam nesse tempo. E são por isso muito mais perigosas. A última coisa de que a direita precisa é de labregos a imaginar que pensam, que são "iniciados" e que tudo lhes é possível. Não é exigível levar a sério ninguém - de direta ou de esquerda - a quem falte o aprumo mínimo. E à direita, não se pode levar a sério ninguém que se mostre tenso  diante de uma mesa com mais de tres pares de talheres, que ria como um alarve, ou que tenha medo de rir. E nenhum grão mestre de nenhuma maçonaria é um vulgar amanuense. Estes aspectos (tão tugas) da degenerescência acrescentam perigo. Não o retiram.

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