Tuesday, June 22, 2010

AUSTERIDADE E CORRUPÇÃO

A austeridade que se prepara é algo mais do que uma contra-reforma acordada pelo "centrão" laranja-rosa. Tudo se passa como nos "trabalhos" de debate das leis anti-corrupção, discutidas com foros de grande seriedade com a intervenção marcante dos senhores deputados Ricardo Rodrigues e Fernando Negrão. Discussão que tem a seriedade deles, evidentemente. E todos os perigos que eles representam. A austeridade segue as grandes linhas da flexibilização dos despedimentos pelos quais se constrói a miséria a médio e longo prazo (porque os desempregados nunca mais terão emprego certo nem descontos regulares para a segurança social). Uma miséria que se estende à "peste branca", porque é uma loucura ter filhos em condições de precariedade radicalizada. Na verdade os homens do centrão e adjacências várias (com todas as Lojas da Opus e todas as sacristias da casa do sino, entre outras) estão preocupados. Mas com o seu próprio futuro. Não porque temam apenas os ódios que semearam (coisa que não os preocupa excessivamente), não porque temam o descrédito, porque sempre viveram no (e do) descrédito, em bom rigor. Mas porque têm pela frente um enorme trabalho. O direito comunitário e o "governo económico da Europa" tornam-lhes inviáveis os velhos mecanismos de corrupção. E eles representam o papel de os "limpar". Tal "limpeza" corresponde à eliminação daqueles a quem constrangeram a funcionar assim. E gerem bem as expectativas de comissões de serviço e notações de distinção aos magistrados que em tal projecto saibam ler os desígnios próprios dos tempos. Visam também eliminar quem fale. Quem quer que consiga alinhar duas ideias em protesto é um perigo a eliminar por processos de injúria e difamação (ou coisas piores, porque há coisas piores). Mas que propósitos têm? Apenas um e muito simples: a dificuldade extremada de fazer sacos azuis com transacções não registadas (como nas sucatas) ou com cobranças ilegais (como na Docapesca) determina que a defesa dos interesses próprios dos parasitas se faça pela apropriação directa das áreas de negócio. Para tanto basta-lhes varrer os operadores de mercado a quem imputarão a prática fraudulenta que eles próprios lhes impuseram e em cujos processos não se pode sequer discutir as circunstâncias que à boa decisão do caso importariam. Eles fizeram um Código Penal que dispensa mais do que uma pergunta e essa visa saber se quanto está em debate aconteceu ou não. Não interessa saber porquê. Nem Para quê. O Novo Código penal matou a possibilidade desses esclarecimentos. E a deformação dos juristas nas sub-escolas de direito fará o resto. A polícia política da ordem dos advogados garantirá que estes se não julguem excessivamente independentes em debate. E o resultado, evidentemente, é a miséria. Como sempre foi, em todos os saques. É o momento de sair daqui ou combater. É o momento de escolher, para quem ficar, entre o cansaço ou a morte. Façam o favor de escolher. Os imbecis conservadores que imaginaram ser possível controlar homens (assim tão) instrumentais, nomeados para os cargos políticos, desenganem-se. Eles podem ser de décima linha (e são). Não representam nenhum perigo intelectual. Não têm nenhum projecto político. Mas têm uma avidez insaciável. É o seu único projecto. E agora vão comer-vos. No vosso xadrez, onde os vossos instrumentais Cavacos enfrentavam os vossos instrumentais Sócrates, as peças ganharam vida. Lembram-se de Jardim Gonçalves e Paulo Teixeira Pinto? Aí está uma boa prefiguração do destino. Mas o que aí vem está ampliado. E francamente bem organizado. Como esqueceram as lições e prudência do dr Salazar, vão dar à marginalidade óptimas direcções políticas de gente bem educada que desalojam sem cessar. A mudança não está na crise, nem na "austeridade". Mas naquilo que isso vai gerar. Talvez o futuro não seja de direita ou de esquerda. Mas seja o futuro o que for, há nele muita coisa a arder e entre as chamas bem pode surgir uma voz a ensinar à turba em desespero que os efeitos da corrupção desaparecem com a morte dos herdeiros. Será o momento de clamar por justiça. Mas a justiça abandona sempre aqueles que a abandonaram. Homens instrumentais? Instrumentalização da justiça? Livre manipulação da lei? Miséria imposta? Protestos perseguidos pelo terror?... Não estão a ver o resultado, não? Ainda não?

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