Saturday, August 16, 2008

PERESTROIKA CAUCASIANA

É importante fazer o balanço da intervenção russa na Yugo-Alânia, ou Ossétia do Sul. Mas tão importante como isso é pensar a situação do Cáucaso. Ali, na Ossétia, tratou-se da legítima defesa (nem sequer “preventiva”) da população que recusou a cidadania georgiana e manteve, como a população abkhaz, os passaportes soviéticos. No quadro da inviabilidade jurídica destes, receberam essas populações, unanimemente, a cidadania russa e o correspondente passaporte. Os mais atentos recordar-se-ão de uma visita ao Presidente Putin, feita pelo Presidente da Arménia, para decidir especificamente esta questão. Porque nas fronteiras arménias haviam sido recebidos milhares de refugiados da Abkházia que, teimosamente, apresentavam os passaportes soviéticos e não aceitavam nenhuma proposta para resolver o problema, por mais fraterna que a proposta fosse. Foi isto resolvido com a outorga da cidadania russa, no enquadramento de uma decisão da CEI reconhecendo à Rússia a sucessão das obrigações e direitos da União Soviética para resolver (também) tal questão. A Rússia não poderia nunca abandonar dezenas de milhares de cidadãos seus sob agressão militar. O quadro das fronteiras políticas reivindicadas pela Geórgia está em radical contradição com a situação material. O Cáucaso, aliás, é um caleidoscópio étnico ao qual nenhuma síntese organizacional pode convir senão a de uma integração capaz de respeitar a singularidade das tradições étnicas (e da história das suas implantações territoriais locais) e, ao mesmo tempo, de assegurar a viabilidade económica, a defesa e os direitos de participação política na direcção dos destinos comuns. A História demonstra que os povos do Cáucaso conseguem relativizar a importância política das mil fronteiras étnicas. Como demonstra a intangibilidade das referências identitárias para esses povos. É “apenas” necessário tomar isso como dois gritantes dados de facto. Saber se a síntese possível deve assumir a forma de uma federação caucasiana, se a de várias federações, se a integração num grande espaço político onde se partilham as mesmas referências (religiosas, institucionais, históricas) e onde a economia revela vastos interesses comuns, isso é coisa que os próprios povos hão-de dizer. Talvez em breve. Porque a presente indefinição não tem muito mais tempo de vida.

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