Wednesday, August 6, 2008

O PRÍNCIPE DOS CABOTINOS

Somos portugueses”. Site monárquico, segundo diz. Alguém devia proibir à estupidez a estúpida reivindicação de uma pátria. A única pátria da estupidez é o inferno. A estupidez também não pode reivindicar-se de nenhuma ideia. O “somos portugueses” pretendia ser um “tanque”. E é um balde. De ideias, pretendia. E apresenta uma mistela parda de comicidades ficcionais e banalidades. Tem o D. Duarte. Evidentemente. “Duque de Bragança”, como se apresenta, apesar do título parecer extinto, como parece. Aquele site, aliás, é dedicado ao culto da personalidade que não há. E, forte da sua radical irrelevância, D. Duarte decidiu censurar o Comité Nobel. Acha que Saramago não devia ter tido “um prémio literário” (está a referir-se ao Nobel). Não desqualifica apenas o laureado, a quem chama "senil". Desqualifica o prémio. O príncipe dos cabotinos entende, portanto, reagir ao único Nobel da Língua Portuguesa pelo protesto, aliás retardado, como tudo o que faz. Tudo o que é. Tudo o que diz. Se em tal amorfismo houvesse algum nervo, dir-se-ia enervá-lo que Saramago diga inevitável a integração de Portugal em Espanha. Não quer que Portugal seja “uma província espanhola”. Efectivamente não o será. Portugal fragmenta-se regionalmente, de acordo com a dinâmica social e económica. Os agricultores espanhóis estão a proceder à integração do Alentejo no tecido económico espanhol, porque os “tugas”, privados da possibilidade de explorar a mão-de-obra em regime esclavagista e em extensões de terra inverosímeis, deixaram de saber o que fazer com a terra. A Beira acabará por seguir o caminho do Alentejo. O Minho e Trás-os-Montes estão a integrar-se no tecido económico e social da Galiza, com alguns sobressaltos, mas a coisa vai. O Algarve é um tanto rasca e perigoso – não há rasquice sem perigo - mas acabará talvez por funcionar como “segunda linha” da Andaluzia balnear. As Universidades Espanholas educam os portugueses que aqui não encontram satisfação intelectual possível. E são muitos. O Corte Inglês trata, a preços aceitáveis, dos fornecimentos necessários à vida quotidiana da classe média urbana em Lisboa, sendo o centro comercial mais frequentado nesta faixa. Os bancos espanhóis asseguram o tratamento urbano e prudente de uma clientela portuguesa fiel, sem os escândalos e os crimes da “banca portuguesa”, (o “tuga-banqueiro” é uma caricatura, também). E o único Nobel da Língua Portuguesa prefere viver em Espanha, onde pelo menos um cabotino como o Sousa Lara, arguido criminal do escândalo da Universidade Moderna, não poderia nunca censurar-lhe os escritos. Espanha, com amável naturalidade, trata Saramago como um dos seus. Tanto basta para que alguma gentalha se ponha a escarrar contra o vento na esperança de atingir o Nobel. Criaturas cuja inépcia as impede de preservar como seu o que quer que seja. Sem gente sua, portanto. Nem terra sua. Nem obra possível. Nem identidade que não radique no mundo dos delírios. Nem futuro. Nem presente. Fazem das ficções (e das mais aberrantes) o terreno das suas negras compensações. Coisa descrita nos tratados e manuais de psicopatologia. São portugueses, sim, neste sentido. O país inteiro é governado nesta antilogia que ilegítima a invocação de todas as denominações políticas ou ideológicas. Monárquico que olhe para aquele site, há-de sentir, irresistível, o apelo da República. Português que olhe para este território, mais atentamente, quer fugir para Espanha. Saramago responde a isto como o fez a Defesa de Aquilino contra o canalhal que latia à Obra "Quando os lobos uivam". Quando já ninguém se lembrar disto, ele ainda continuará a representar "este país". Talvez. Mas o problema é que tais criaturas dizem que "este país"se consubstancia nelas. E ninguém devia correr o risco de representar tal fenómeno. À luz da experiência comum, a malta vê-se grega, aqui. Contra Ordem, como se sabe, é um Blog grego. E clandestino. Em homenagem às pulsões liberticidas destas grotescas criaturas que se afirmam ser "este país" - todas equivalentes, senão iguais, entre si, mas nenhuma igual a alguém que se conheça - e de quem não se sabe, sequer, se ao menos puderam amá-los as senhoras que trouxeram tais fenómenos à luz.

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