Friday, February 10, 2012

ASSASSINATO JUDICIÁRIO DE GARZÓN (2)

É materialmente de um assassinato que aqui se trata. Encostaram à têmpora esquerda de Garzón uma parabellum do tempo dos avós e dispararam. A arma funcionou. A tortura na qual se saldou a audiência foi anulada pela forma de presença do jurista, falando em vão para velhos perversos que, ou visivelmente não o ouviam, ou vinham testar-lhe a resistência emocional em interrogatório. “Não há precedentes”, ouvia-se por todo o lado. Tanto dá. Foi montada a baliza maior da perseguição política à inteligência e à coragem de todos os juízes. Na judicatura, como na educação, os neo-franquistas querem coisas “incontroversas”, como dizem. Preferem as penumbras a qualquer luz. E porque não há nada mais controverso que isso, mostram com clareza o destino que reservam a toda a controvérsia. E esse deve ser o destino que há-de caber-lhes. É esse o veredicto que cabe a tais juízes. Parecendo-nos isto perfeitamente incontroverso. Restam evidentemente dois problemas por resolver: o financiamento ilegal do PP e as queixas das vítimas do franquismo. Acrescidos de um outro problema. Eles fazem sempre o mesmo. Acrescentam sempre um novo problema sem resolverem qualquer dos anteriores. Acabou a era do brilho intelectual e político dos magistrados, iniciada com o heroísmo dos italianos e continuada pela subtileza atenta dos franceses? Em Espanha, sim. Mas, porventura, Espanha acabou, também. Em Portugal tais brilhos nunca chegaram a manifestar-se. (O papismo manteve as Faculdades de Direito sob estrito controlo e logrou nelas uma mediocridade escandalosa onde se sente seguro, sem o estar). Em todo o caso, Portugal já deixou de existir. Visivelmente. Trata-se agora de saber que coisa pode o papismo dar em troca do “direito de santuário” à sua pederastia na Península Ibérica, indagar se há quem queira negociar tal coisa e que expectativa de vida política haverá para tais negociadores. O mais normal é que acabe tudo diante de radicalizada sentença de um inesperado tribunal da opinião pública exasperada.

No comments: