Saturday, November 10, 2007

O ISLÃO E OS IMBECIS LOCAIS

Dizer ou fazer imbecilidades, em Portugal, é a resposta espontânea do ensaísta médio, do jornalista médio, do professor médio, do funcionário médio, do magistrado médio e do deputado médio a qualquer imprevisto. Imprevisto é todo o fenómeno, movimento, corrente, opinião, que sendo conhecido há décadas, há séculos ou há milénios – com a existência coberta pela mais absoluta ignorância local, embora, porque a cultura não se come, pensam eles – surge inopinadamente nas primeiras páginas dos jornais. O drama torna-se visível quando sobre isso o imbecil de serviço tenha o dever de dizer alguma, não conseguindo descobrir nada apresentável. Como exemplo recente e expressivo temos Marcelo Rebelo de Sousa comentando o indecente discurso de Ratzinger sobre Manuel Paleólogo. Dizia o imbecil de serviço, “ensinando” e em tom bastante magistral (um pouco como se transigisse em tornar explícito um detalhe de conhecimento obrigatório para todos) que o Imperador tinha ido falar com o Sultão (!) e dessa conversa resultara a obra (repulsivamente) referida por Ratzinger. Evidentemente, Manuel II de Constantinopla jamais aceitou falar com o Sultão, sendo igualmente evidente que se o (oficialmente) inteligente comentador alguma vez houvesse visto (sequer) o livro em causa, saberia com quem se havia mantido o relatado debate do Imperador. Coisas… (Há dezenas de asneiras assim, completamente similares e com quase toda a gente que alegadamente “conta”). O Diário de Notícias deste Sábado vem trazer com a inutilidade de sempre, a vacuidade de sempre, os disparates de sempre… agora sobre o Islão (umas das vítimas habituais destas coisas). Até parece que não há publicações islâmicas em Francês, Inglês, Castelhano, Italiano, Alemão. Até parece que os grandes jornais árabes não publicam em Francês e Inglês. Parece que não há Institutos de Cultura Árabe. Parece que não há teólogos, filósofos, escritores, realizadores, professores, jornalistas e dirigentes políticos entre os árabes… À burrice da abordagem de tais questões apresentamo-nos a opor uma crónica muito didáctica (e já com dois anos) de um inteligente jornalista de opinião do Egipto: Mursi Saad El-Din. (E há muito mais pessoas inteligentes no Egipto). Nesta crónica se referem os nomes de dois homens perfeitamente geniais: o Sheikh Al Afghani e o Sheikh Mohamad Adbu. E esses mestres souberam – do ponto de vista árabe – formular (perfeitamente) muitos aspectos da relação necessária entre a cultura árabe e as Europas. Não é de resto possível falar de tais questões antes de os ter estudado. Estas bestas precisam, de os ler. Evidentemente. Mas isso faz-lhes doer os olhos, parece. São aliás estas bestas que costumam perguntar (!) para que serve a Filosofia, não é? Não vai sendo tempo de lhes perguntarmos – muito a sério, desta vez – para que serve a ignorância?

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