Thursday, September 8, 2011

ENTREVISTA DO SANTO BISPO NESTOR

O Santo Bispo Nestor da Diocese Russa da Europa Ocidental (Patriarcado de Moscovo) acedeu a uma entrevista ondeexpõe as circunstâncias actuais da Ortodoxia Russa a Ocidente, na perspectivado Patriarcado de Moscovo. Nas intervenções de imprensa vindas de quem tem responsabilidades no plano da diplomacia eclesiástica, reconhecemos em regra quanto protegem naquilo que se diz e em quanto se omite. Foi o caso. As relações da Santa Igreja Russa com o papismo não são as mesmas em todos os países da Europa Ocidental, deixou expresso o Santo Hierarca. Mas são globalmente menos más do que se esperaria…  Vladika Nestor tem o especial cuidado de nada hostilizar, nada reivindicar e (quase) tudo agradecer. Deixa todavia expresso um propósito que o põe em choque directo e frontal com o papismo deste território: a construção de igrejas para as suas comunidades. Aqui, se as coisas pudessem manter-se como se têm mantido, os resultados desse propósito seriam nulos. As comunidades ortodoxas são mantidas na mais estrita dependência dos heresiarcas papistas do lugar, que incessantemente intrigam para obterem a inviabilidade (até agora mantida) da construção de Igrejas Ortodoxas seja de que comunidade for. E alojam as comunidades locais em pequenos templos (todos repulsivamente feios e abarrotando na imagética doentia a que chamam “arte sacra”) onde seja evidente que os fiéis ortodoxos não caibam. A cada Páscoa, ou Natal, lá tem de se lhes voltar a pedir o imenso favor de encontrar um sítio onde os russos e os romenos – no mínimo estes - possam caber). O papismo evita cuidadosamente a imagem de grandes igrejas ortodoxas cheias, com as grandes igrejas do papismo completamente vazias. E se convida permanentemente os sacerdotes ortodoxos a fazerem de figurantes nas coisas papistas, é para dizerem ao laicado deles que “é tudo a mesma coisa” assim evitando curiosidades mais acentuadas. Por outro lado, não desdenham a parasitagem do laicado ortodoxo que atraem (através dos mecanismos assistenciais aos migrantes) a celebrações greco-católicas enganosa e convenientemente chamadas “ortodoxas”, para os fotografarem e mandarem as fotografias de propaganda para a Europa Oriental. É difícil maior sordidez. Ou mais descarada instrumentalização. O Santo Bispo não o disse. Isso entendemos. Mas dizemo-lo nós, que também entendemos o significado dos silêncios da Santa Hierarquia. Outra questão é a do laicismo e a da laicização. A Ortodoxia suportou o impacto brutal da aversão profundíssima (e justificadíssima) da opinião política ocidental ao papismo. Suportou-o por influência do pensamento ocidental nas correntes revolucionárias da Europa Oriental. Essa influência foi mal pensada pelos revolucionários russos, romenos, sérvios, búlgaros, albaneses, ucranianos, georgianos, gregos, até. Mal pensada, porque não há paralelo possível entre o papel odioso do papismo a Ocidente (e que o Ocidente rejeita e abandona por mil modos) e o papel da Ortodoxia onde quer que seja. Hoje, tendo o papismo mais retrógrado imaginado que soou a hora de atacar as liberdades e direitos fundamentais (designadamente os da liberdade de pensamento, de consciência, de ensino, de aprendizagem, de publicação, de criação e expressão, de associação e de intervenção política) suportará – em clara dispersão de recursos e forças – o recrudescimento das justificadas aversões que, em nome dos princípios de Ordem Pública, acabarão (é quanto recomendamos) por declarar o papismo incompatível com a Ordem Jurídica das sociedades ocidentais (e orientais). A Igreja dos franquistas, salazaristas e petainistas, a igreja de Stepinac, Pavelic e Kotsilovski, a igreja de Escrivá, Marcincus e Marcial Maciel e Tortolo (o papismo é substancialmente isso com um pouco mais – mas muito pouco - de outras coisas) jamais será coisa diversa do que é. E isso não é suportável nem pelas pessoas normais, nem pela tutela jurídica dos direitos das pessoas normais. A diplomacia eclesiástica da Ortodoxia tem de integrar esta problemática na reflexão sobre a sua intervenção pública, tanto a Ocidente como a Oriente. Se não o fizer sobrecarrega o laicado que quer proteger, porque passa para o laicado as tarefas das demarcações necessárias. Isso não assustará nenhum leigo. (Sempre houve opinião pública teológica nas Igrejas de Cristo e sempre houve intervenção teológica laical, em polémica ou em proclamação). Essas tarefas podem ser desempenhadas pelo laicado, claro que sim. Mas (ao menos daqui) pareceria boa ideia que os Santos Hierarcas conversassem, entre si, um pouco mais sobre tal tema.

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