Tuesday, September 6, 2011

ISTO AGUENTARÁ MAIS UM ANO?

As portentosas forças depressivas continuam a sua lenta mas devastadora marcha. O erro estratégico fundamental de sedear na Ásia boa parte da produção das marcas ocidentais traduz-se numa esmagadora presença das exportações chinesas, que se juntam à infinita capacidade de gerir a produção própria a preços menos que baixos. O desemprego gera um desequilíbrio que barra quaisquer salários altos a quaisquer quadros dando ao patronato uma força no mercado de trabalho completamente desproporcionada com a sua capacidade de escoar os seus produtos no mercado global. A incapacidade (técnico-júridica) de regular o que deve ser regulado, seja no plano da União Europeia, seja nos planos nacionais, a incapacidade (jurídico-política) de gerir as relações institucionais na União Europeia e a inépcia (filosófico-política) revelada na perda de quaisquer noções de proporção e hierarquização de objectivos, não caracterizam uma crise mas um declínio confirmado. Saldam-se numa histeria, de resto razoavelmente assassina, que não hesita sequer perante novas guerras coloniais onde tudo instrumentaliza e tudo compromete – desde a liberdade e credibilidade da imprensa, até às magistraturas da Justiça Internacional, com o comprometimento político radical dos Direitos Fundamentais – ao mesmo tempo que semeia inquietações de alcance estratégico devastador: a Venezuela pediu créditos para se armar, já que a sua posição face à América é equivalente à posição da Líbia face à Europa e o quadro da legalidade internacional está objectivamente anulado. Os partidos e movimentos conservadores, compreendendo os de esquerda centrista, são incapazes de reconhecer como eficazes as suas próprias lideranças e dirigem-lhes críticas que correspondem globalmente, às que lhes são dirigidas pelos sectores mais atentos da população. Na Europa Ocidental sobra muito pouco do que definia a Europa. Da vitalidade intelectual e das liberdades que essa vitalidade exigia e sustentava, não sobra sequer memória nas direcções políticas onde só há palermas promovidos nas intrigas de corredor e que não falam senão em si próprios e não pensam senão em si próprios, quando importa pensar e falar do mundo. Em todas as terras a convulsão social está a ser difícil de conter e a policialização da vida política, bem como a criminalização dos movimentos sociais progridem a olhos vistos. Eixos vitais do equilíbrio político militar são quebrados por arrufos de cretinos, como ocorreu com os abusos israelitas face à Turquia e que a Turquia - recordando o seu papel na História, a sua dignidade de Estado e os seus deveres para com as populações onde subsiste a memória viva da sua tradição - pune exemplarmente numa objectiva ruptura diplomática que pode ter efeitos devastadores, mesmo nos equilíbrios da OTAN (e oxalá os tenha). Isto não é já uma crise. É um desfecho. Dizer que não é possível viver a não ser nisto e por isto, não é verdade (é tão simplesmente falso). O que não é possível é viver nisto. Por isto. Nada aqui parece poder aguentar mais um ano. O Outono anuncia-se devastadoramente escaldante. E o Inverno arrasante. Na primavera outras plantas estarão a despontar ao sol de todos os desapontamentos. Algumas devem proteger-se a todo o custo e outras devem extirpar-se tão prematuramente quanto possível. É preciso pensar os novos tempos com o Direito de todos os tempos. E julgar os tempos que se vão nesses mesmos termos. Os cretinos virão ainda falar em “coesão nacional”, “unidade nacional”, porventura mesmo em “união nacional”. E alguém vai meter-lhes isso em sítios onde isso lhes caiba melhor. (Isso, de certeza).

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