Sunday, October 28, 2007

COLINA VATICANA REGRESSA À GUERRA

Os rescaldos de todas as guerras são ainda guerra. Em Portugal as guerras civis duraram, em testemunhos directos dos sobreviventes, bem além da implantação da República, bem além da entrada do séc. XX, porque os últimos soldados morrem, em regra, não antes de vinte ou trinta anos depois da morte dos últimos generais. E contaram aos filhos e aos netos os horrores vividos. É sempre assim. Em todas as guerras é assim. E é horrivelmente assim quando o inimigo está, ainda, presente. Esse é o drama das guerras civis. Quando os filhos e os netos de uns e outros continuam a ver-se todos os dias. Quando todos os dias têm de sofrear o impulso pessoal para a desforra e a vingança. Pode bem dizer-se que as feridas começam a fechar quatro gerações depois. “Duram cem anos as guerras civis”, relembra hoje o ABC. Não se vê como possam durar menos. Espanha está ainda partida ao meio. A tradição e nostalgia da República radicaliza-se nos nacionalismos Catalão e Basco, sem ter desaparecido (longe disso) na Andaluzia, em Castela e na Galiza. E neste panorama o Vaticano, à imagem do que já fizera com a Croácia – canonizando Stepinac, pessoalmente implicado no assassinato de Bispos Sérvios, entre os milhares de cristãos ortodoxos mortos em Iasenovac – vem agora beatificar, entre os setenta mil assassinados na rectaguarda, a um lado e a outro, os seus 498 mártires como lhes chama. O PSOE enviou à cerimónia um único representante: um dos subscritores do projecto de lei da reabilitação das vítimas do franquismo e familiar de um dos beatificados. Parece uma resposta à letra e à altura. O Governo de Espanha compareceu à cerimónia em legação chefiada pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros. Razoável “fair play”, portanto. Mas a beatificação em presença tem o sabor da continuação da guerra por outros meios. Aliás à imagem de outras posições que o trono da Colina Vaticana – e a sua gente –já tomou e das quais aqui deixamos dois exemplos. Todavia o Cristo não padeceu na Cruz para a estrita salvação dos franquistas. Não há quanto a isso uma única linha nos Evangelhos. Quando olhamos as fotografias do cardeal Pla e do bispo de Málaga - ou de qualquer outro da época - não vemos porque não haveriam os republicanos de os tratar como a quaisquer outros inimigos seus. Nem nos surpreenderá que o voltem a fazer, para sermos completamente francos. É deplorável. Claro que sim. Tencionam canonizar Franco, também?

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